Hoje, Margarida Vila-Nova equilibra nos pesos da balança – que continua a ser a de merceeira, embora à distância – o papel de protagonista da novela da SIC, Paixão e ainda diversos projetos no cinema. O mais recente, Amor Amor, de Jorge Cramez, em que faz o papel de Lígia, serviu-nos de pretexto para a entrevista na Spleen Cafetaria, no Museu Nacional de Arte Contemporânea. Uma conversa sobre o comodismo, o maior inimigo da criatividade e sobre os desafios e privilégios da representação. Afinal, o exercício constante de nos pormos no lugar do outro só nos pode ensinar coisas sobre nós próprios. «É curioso como nós nas diferenças encontramos a nossa sombra». Palavra de Margarida.
Amor Amor parte de um texto escrito no século XVII, em França. Faz sentido usar este ponto de partida para contar uma história passada nos dias de hoje, em Lisboa?
Os clássicos são sempre atuais, basta olhar para Shakespeare. A história repete-se. Quando olhamos para os nossos antepassados é curioso perceber como conseguimos repetir permanentemente os mesmos erros (risos).
Faz de Lígia, que logo no início do filme se define como uma mulher a ‘quem ninguém põe a pata em cima’, mas que depois no seu íntimo não é assim tão livre…
É uma personagem atrevida, malandra. Mas, no entanto, como todos nós – como todos nós não, não gosto de generalizar – talvez seja o amor que a move. Agora a forma como ela vive o amor e as suas relações é muito livre. Não acho que seja uma personagem leviana, mas é uma personagem que não tem preconceitos, não é paternalista em relação às relações que vive. E isso para mim foi um trabalho interessante.
Quando há papéis ou bonecos muito vincados – uma personagem histórica, uma personagem de comédia – é fácil ir buscar referências. Esta Lígia, pelo contrário, pode ser uma amiga da porta ao lado. Como se preparou para o papel?
A Lígia é uma personagem jovem ainda está à procura dela e do sentido da vida. Tem as dúvidas que nos movem para as grandes questões existencialistas. Havia referências do Jorge Cramez que não eram as minhas, vivemos as mesmas idades em épocas diferentes. E por isso o que fiz foi tentar encontrar nos dias de hoje as minhas referências que me transportassem para o universo que o Cramez queria filmar.
Onde é que as encontrou?
Recorrendo a memórias, voltando a visitar Lisboa sobre o olhar da Lígia. Um filme tem também a ver com o que está por detrás das palavras, há um universo não dito que transporta estes personagens de um lado para o outro. Mais do que as palavras que digo no filme, era perceber a cabeça e este universo destes quatro amigos. Depois é um exercício de nos colocarmos detrás e deixarmos que o personagem exista por ele próprio; eu enquanto atriz deixo os meus preconceitos, as minhas opções e divergências. É curioso como nós nas diferenças encontramos a nossa sombra. Aquilo que nos separa também é aquilo que nos falta. E eu gosto deste exercício. À partida esta personagem seria de todas as do filme aquela que se distancia mais de mim. Aliás, fui fazer o casting para a personagem da Ana Moreira (Marta). Fui chamada para fazer a Lígia e a minha reação foi: ‘Oi, agora tenho aqui um problema’. É engraçado trabalhar assim sem tapete, termos que construir os personagens sem que nunca deixem de ser um dos nossos. Quando digo um dos nossos é alguém que tu proteges e respeitas. Acho que não seria capaz de representar um personagem que não respeitasse.
Acho que não seria capaz de representar um personagem que não respeitasse.
Quando diz que não era capaz de representar uma personagem que não respeitasse não tem nada a ver com uma questão de concordância com as ações, é uma questão de identidade da personagem e de como está construída, certo? Caso contrário nunca faria um vilão.
Sim, é isso. Até porque mesmo quando interpreto um vilão encontro uma determinação para ele agir de determinada forma. Independentemente de ela ser bem ou mal formada, moral ou amoral, com ou sem princípios e valores. Tenho esse personagem que me é entregue e trato-o sempre com muito respeito.
Os cenários do filme são Lisboa. Foi sempre assim desde que o projeto foi pensado ou esteve para ser rodado noutro lado?
Quando este projeto me chegou às mãos já ia na fase final de produção e foi-me sempre apresentado como uma história em Lisboa. E felizmente, porque é uma cidade absolutamente fotogénica, bonita, linda. Nunca tinha trabalhado com o Jorge, foi a primeira vez. A primeira vez que me cruzei com o trabalho do Jorge foi no Capacete Dourado, ainda me lembro, ali no cinema King – ainda havia King.
Perguntava-lhe porque, alerta cliché, Lisboa está na moda e neste filme a própria cidade aparece como parte da narrativa, há uma Lisboa vista pelos olhos de quem cá mora, em coisas tão simples como atravessar a ponte de autocarro.
Sim, é verdade! Há uma data de códigos só conhecidos por quem é lisboeta ou por quem vive cá há muitos anos. E o Jorge sabe falar sobre Lisboa, sabe filmar Lisboa e contar estas histórias de uma forma muito natural.
Se pudesse definir Amor Amor de uma forma simplista diria que é mais um filme sobre o sentimento ou sobre complexidade das relações humana?
Ah, sobre a complexidade! E é muito curioso porque fala de toda a dimensão do amor – entre amigos, entre familiares, filhos, casais. O amor entre casais, que é aquele que nos ocorre logo, mesmo este sofre transformações incríveis ao longo dos anos. Aquilo que espero aos 20 anos do amor de uma relação não é a mesma coisa que espero aos 40. Mesmo estando casada com a mesma pessoa há dez anos, a forma como vivemos o primeiro ano é diferente da forma como vivemos o quinto e diferente da forma como vivemos o décimo.
O filme passa-se na passagem de ano, época por excelência de fazer reset. Precisa de recomeços na sua vida?
Estou sempre a recomeçar e a viver por ciclos. Ora um ciclo Macau, ora um ciclo Portugal, ora um ciclo novela, filme ou teatro. E preciso mesmo de recomeçar e de terminar os ciclos. Esta coisa de recomeçar a vida não é necessariamente associada à passagem de ano. Tem a ver com uma mudança de cidade, o nascimento de um filho, o início de um novo projeto… Para mim a palavra chave de 2018, desta passagem de ano, era reinventar. Esta necessidade que tenho de me reinventar, não digo todos os dias, mas periodicamente. Na verdade, verdade, é permanentemente, mas pronto (risos). Como atriz tenho que me reinventar para construir novos projetos e ser capaz de interpretar novas personagens, senão vou recorrer aos mesmos recursos. Isto sou eu, cada um tem o seu método de trabalho. Preciso de nova inspiração, de ir ver um espetáculo, uma exposição, uma viagem, um livro, um filme, para me reinventar não só enquanto atriz mas também como mãe, enquanto mulher, enquanto empresária, enquanto amiga.
É uma necessidade planeada ou só faz isso de forma inconsciente?
Sinto que é a única forma de continuar a alimentar as minhas próprias relações. Acho que as relações com a mãe, com a avó, com o marido, com a amiga, têm que ser alimentadas e reinventadas todos os dias. Isto também tem a ver com a minha natureza: não conseguia trabalhar num escritório sentada todo o dia, não conseguia viver na mesma casa a vida inteira. Não consigo viver na mesma cidade o tempo todo. Por isso esta necessidade que tenho não é necessariamente pejorativa, é só uma forma de estar na vida.
Vamos falar de um desses ciclos, então, da sua ida para Macau para abrir uma mercearia em 2011. Era a atriz do prime time e disse numa entrevista que estava ‘esgotada’. Passou-lhe alguma vez pela cabeça a hipótese de que poderia não voltar a ser atriz?
Ah sim, passou! Já tive a minha fase de denial (risos), de que não era atriz e de que nunca mais voltaria a representar. Depois também já tive a fase de questionar o caminho que tinha feito, onde é que estava e onde gostaria de estar. Finalmente depois daqueles tais cinco passos, a negação, a aceitação, etc., agora olho para trás e vejo que não foi mais do que um processo de amadurecimento. Foi preciso romper com aquilo de que não estava a gostar no meu percurso profissional e que eu não estava de acordo… Mais do que isso, foi…
Uma fuga?
Uma fuga não sei porque não estava a fugir de ninguém, eventualmente podia ser de mim própria! Era bem tratada, bem paga, tinha ótimas condições de trabalho. Mas não gosto de usar a expressão fugir porque acho que foi o contrário: fui foi ao meu encontro. Apesar de tudo comecei a trabalhar muito miúda e fui saltando de um projeto para o outro. A responsabilidade que tinha sobre as minhas costas desde muito cedo fez também com que aos 28 anos tivesse, primeiro, a liberdade. Às vezes não voamos porque não somos livres, estamos amarrados à casa, ao carro, ao empréstimo, ao emprego, aos filhos… Eu, pelo contrário, tenho a sorte de ter uma família nómada, temos a mesma matriz. Precisei de viajar, de ler, de escrever, de pensar. E sobretudo de repensar um bocadinho a vida. Vivemos muito a correr. E depois esquecemo-nos.. Mas eu gosto de ovos mexidos ou de ovos estrelados? E este exemplo pode aplicar-se a tudo na vida. Mas eu faço novela porque quero ou porque eles querem? Porque gosto ou porque eles gostam que eu faça? As opções profissionais que fui tomando foram encadeadas umas nas outras. E de repente estava a caminho do segundo filho e pa… Foi preciso fazer uma tábua rasa, perceber quais as prioridades e de só ter tempo para viver, que é uma coisa que me faltava. Tempo para conversar, respirar. Olha, tempo para não fazer nada! (risos)
É um exercício que recomenda?
Recomendo vivamente! (risos)
Mas a sua vida hoje é um pouco – ou totalmente – a antítese disso.
Por isso é que eu fujo todos os fins de semana para o Alentejo. Sou muito… não vou dizer hiperativa porque hoje é muito perigoso dizer estes termos (risos), por isso vou dizer que sou muito ativa na minha vida. Estou aqui no whatsapp com a gerente de loja em Macau a discutir o próximo embarque marítimo e aéreo, a consultar novos produtos e fornecedores, a tratar da logística em casa, e se o jantar é vegetariano, se é quinoa..
Faz questão de fazer toda essa gestão doméstica?
Partilho bastante com o meu marido [o realizador Ivo M. Ferreira] mas na verdade há sempre algo a tratar. Ontem era o fato de carnaval… Depois no meio disto tudo há as locuções. Houve agora as dobragens todas e a gravação do tema do filme Hotel Império, que filmei com o Ivo em Macau em 2017, no primeiro trimestre, e que agora está em pós produção. Depois para além disso há o calendário dos espetáculos de teatro que vou fazer este ano com o João Pedro Mamede, na Culturgest, e com o António Pires, nas Ruínas do Carmo. Depois há a promoção de Amor Amor. No meu dia a dia vou gerindo várias coisas ao mesmo tempo, mas acho que também é uma forma de me manter viva, alerta. Não gosto de estar ausente de casa e não dar atenção à minha família porque estou envolvida num projeto. Mas também se estiver envolvida quero estar a 100% e para isso às vezes é preciso não estar em casa. É preciso um equilíbrio e uma harmonia que devem estar sempre de mãos dadas.
Ser protagonista é sempre um peso acrescido, estou a falar do Cartas de Guerra. Como adjetiva ter sido a protagonista de um filme do seu marido, ainda por cima tendo a inspiração partido de si, quando ele a viu ler as cartas ao vosso filho? Tem um duplo significado?
Os projetos entre nós vão crescendo tão naturalmente… Também sou protagonista em Hotel Império, no próximo filme que já está a ser escrito há uma personagem feminina que ele está a escrever para mim. Estes processos criativos entre realizador e atriz e, no nosso caso, entre um casal vão crescendo tão naturalmente que não faço disso uma bandeira, não sinto que há uma responsabilidade ou um deslumbramento extra.
Acha que esta decisão de ir para Macau para parar faz com que agora lide de maneira diferente com o embate destes projetos todos que tem em mãos?
Sim, sim. Acho que também fui por uma necessidade de me reduzir à minha insignificância. Temos um mundo incrível à nossa volta e, naturalmente, ficamos centrados nas nossas vidas e problemas, nas nossas casinhas, mas há uma data de questões e de realidades diferentes da nossa. Quando nos transportamos para outra realidade, para outra cidade e começamos uma vida nova, isso também, para além de nos trazer crescimento, também nos traz uma capacidade de relativizar. Faz-nos ver a vida de outra forma, faz-nos separar rapidamente o essencial do supérfluo. Viajámos muito no sudeste asiático e esse contacto com outras culturas e histórias só nos enriquece enquanto seres humanos e na minha profissão em particular. Hoje sou melhor atriz porque me permiti viver outra vida no intervalo.
Já disse numa outra entrevista que ser merceeira a tornou melhor atriz.
Sim. Quando nos reduzimos assim à nossa insignificância, não falamos a língua, e estamos numa terra desconhecida sem amigos, sem família, onde ninguém sabe quem somos. Há uma nobreza nas coisas simples… As coisas mais simples são as mais importantes da vida, sem que isto seja uma frase feita. Enriqueci a minha bagagem emocional. A minha vida foi mais difícil, até porque me propus – nos propusemos, que isto é um projeto de casal – a abrir um negócio e embora eu já tivesse produzido alguns espetáculos durante um período da minha vida, as contas de merceeiro, fornecedores, importação e exportação é outro campeonato. Era tudo uma linguagem desconhecida.
Sentia que lhe faltava essa bagagem emocional?
Sentia! Faltava dureza. A vida não é fácil. Falta o endurance de que às vezes se fala, a maturidade, de dizermos que este ou aquele ator são maduros. Às vezes não tem a a ver com [idade]… é ter alguma vida, é levar bagagem, levar histórias para contar.
Isso não chega naturalmente com o passar dos anos, é preciso procurar desafios na nossa vida para criarmos resistência?
Podemos viver à margem de tudo o que se passa à nossa volta. Hoje em dia é assustador, com o acesso que temos à informação: nós não sabemos ou fazemos mais porque não queremos, ficamos dentro da nossa bolha. Se quisermos podemos viver alienados de tudo o que se passa à nossa volta. Não estou a dizer que isto é certo ou errado, cada um faz as suas escolhas, mas eu não quero viver à margem do que se está a passar à minha volta. Sinto que para ser verdadeiramente livre tenho que ter a coragem de encontrar o desconhecido. Se partimos do princípio de que a vida é frágil e que tudo é efémero, todas as escolhas futuras são mais fáceis. E por isso a minha vontade de partir foi mais uma necessidade do que uma vontade. Na verdade, conscientemente não tinha noção da decisão que estava a tomar. Às vezes diziam-me que era muito corajosa, não, sou muito inconsequente. Dois anos depois se me colocasse na mesma situação, vais ou não vais, talvez tivesse dito: ‘Eu, agora? Para Macau abrir uma mercearia? Grávida? Não!’. As escolhas vão-se abrindo e fechando, mas nunca podemos deixar de estar alerta para os sinais. Não sou mística, falo de estar alerta para as nossas fragilidades e de não nos acomodarmos. Como atriz não o posso fazer, porque se entrar numa zona de conforto, vou-me tornar numa atriz preguiçosa e pouco criativa. É preciso um exercício permanente de contrariar tudo isso.
Já realçou algumas vezes nesta conversa que esta é a sua opinião e que cada um sabe de si. Porque tem esta necessidade, teme ser mal interpretada?
É porque detesto catequistas (risos). Não gosto nada de falar no geral, incomoda-me quando alguém o faz. Não gosto de falar no plural porque respeito muito o indivíduo e o que cada um pensa e sente, como cada um age. Não gosto de ser tomada como um exemplo, inclusivamente sou a primeira a dizer que não penso o mesmo hoje e há dez anos.
Não gosto de ser tomada como um exemplo
Vamos falar de televisão. O que lhe dizem as audiências enquanto atriz?
Cada vez dizem menos.
E pode dizer isso assim, a sua afirmação não vai ferir suscetibilidades?
Pois, se calhar posso ser mal interpretada. Mas acho que um ator não deve estar condicionado pelas audiências, isto é, nós já gravamos sobre uma grande pressão. Nunca gravo menos de dez – nem nunca mais de 20 – cenas por dia. Há a pressão de decorar texto, chorar, rir, amar, odiar. Passo o meu dia sobre um horário. Eu já acordei atrasada, porque é o cabelo, a maquilhagem, vestir e despir… Um ator não pode estar condicionado por todas as questões que rodeiam a nossa profissão. Claro que um projeto com boas audiências nos enche as medidas e ficamos satisfeitos com o desempenho e o resultado geral de uma equipa, isto não reflete só o meu trabalho. Por isso é que digo que hoje em dia não carrego uma cruz às costas sozinha. Um bom resultado significa que há um bom núcleo de atores, uma boa produção, uma boa direção de arte, um bom figurino, um bom guião, sobretudo. E um bom trabalho da própria estação na divulgação, no horário escolhido. As audiências, se me dizem alguma coisa? Sim, quando correm muito bem, fico muito orgulhosa. Quando correm menos bem, sei que não é resultado direto do meu desempenho. Não que não faça mal, atenção! Falho e há cenas em que não atinjo os objetivos. Há dias que são tão pesados e difíceis que nós temos que ligar os mínimos, senão caímos para o lado.
Já assumiu uma vez que não tem televisão.
Por acaso agora já tenho, este ano tenho televisão em casa em Lisboa por questões familiares! Em Macau não tenho. Mas vejo cinema, vejo imenso teatro, todas as semanas vejo um espetáculo pelo menos. Em relação à informação chega-me sempre através do rádio ou das apps dos jornais. Não estou desligada do mundo! O facto de não ter televisão hoje já não significa isso. Ligo a televisão em casa quando quero ver o meu trabalho, vou picar um episódio para ver o que funciona ou não.
E sempre fez isso?
Sempre! Acho que isso sim, tenho a obrigação de ver criticamente o meu trabalho para o tornar cada vez melhor. E em relação aos meus colegas também, quando estreia uma novela vou ver o que andam a fazer. Mas tenho outros interesses na vida.
Faz sempre muitos projetos em simultâneo e nos diferentes meios. Como consegue gerir depois a libertação das personagens? Há colegas seus que assumem que demoram um pouco a despir aquela pele, como é consigo?
Há sempre duas coisas que nunca percebi, ou melhor que não partilho: uma é levar a personagem para casa, a outra é ter o bichinho do teatro. Cada vez que me falam no bichinho fico nervosa, eu não tenho bichos, não nasci com bichos (risos). Portanto em relação a levar o personagem para casa, para mim é importante eu chegar a casa e ter uma vida. A única forma de manter o equilíbrio na balança é ter outra vida. Naturalmente que se tiver cenas muito intensas e se estiver a trabalhar um personagem muito complexo, vou chegar mais cansada e emocionalmente mais frágil. Se calhar vou chegar mais piegas, ou então com uma grande vibe se estiver a trabalhar um personagem super shanti. Estou só a falar assim, até parece que sou uma emigrante (risos). Mas isso não quer dizer que eu deixe que esse peso emocional interfira na minha vida, tento separar as águas e obrigo-me a transportar-me para outro universo. Para mim é importante durante os processos criativos ir ver outras coisas, e não necessariamente representação. Pode ser uma exposição de pintura, um concerto de música. Pode ser um passeio no Castelo de São Jorge ou no templo de Diana, que fica ali no Alentejo e fica mais em mão.
O Alentejo continua a ser um refúgio? Mas não tinha nenhuma ligação à zona, certo?
Não, mas quando eu e o Ivo casámos definimos que o Alentejo seria a casa de família. Nem eu nem ele temos relações com o Alentejo (risos), nunca lá tínhamos sequer passado férias mas desde então passou a ser a nossa casa. É o lugar onde encontro paz, equilíbrio, onde a minha cabeça descansa e é o único momento em que temos tempo para nós.
Os seus filhos estão a crescer no mesmo meio dos pais. Acha que isto vai influenciar a personalidade deles como moldou a sua?
Certamente irá moldá-los, porque o meio influencia o sujeito. Mas cada criança nasce na sua condição e isso faz deles aquilo que serão um dia – o que não quer dizer que serão necessariamente artistas.