1) A aproximação do PSD ao PS, promovida por Rui Rio, já começou, numa questão de poucos dias, a fazer os primeiros estragos na coesão da coligação que apoia o governo. Como me explicou um leitor atento, o objetivo da estratégia de aproximação entre o PSD e o PS é, justamente, causar incómodos entre os diversos parceiros que apoiam o governo no parlamento. E o primeiro partido a cair nesta armadilha foi o PCP. Ainda antes de Rui Rio tomar posse, o secretário-geral da CGTP, o “braço armado” do PCP, Arménio Carlos, veio avisar que um regresso ao bloco central seria uma “traição” aos portugueses. Compreende-se o nervosismo de Arménio Carlos: pela primeira vez em 42 anos, desde meados de 1975, que o PCP não tinha uma palavra a dizer sobre as questões da governação. Contudo, na minha opinião, o PCP devia estar mais tranquilo, pois António Costa já veio afirmar que a atual solução governativa está a dar bons resultados, pelo que é para manter. Pelo menos até às eleições legislativas do outono do próximo ano, o PS não fará nada para alienar os seus parceiros de coligação: PCP, BE e Verdes. Mas, por outro lado, também nada impede o PS de chegar a acordos com o PSD e com o CDS sobre matérias estratégicas para o país. E todos o sabem. Este nervosismo indisfarçável do PCP é o primeiro resultado concreto da nova estratégia do PSD, implementada por Rui Rio. Vamos ver se vai ficar contido, ou alastrar. Pessoalmente, acho mais provável a segunda hipótese.
2) A antiga ministra da justiça, Paula Teixeira da Cruz, veio hoje, terça-feira 21 de fevereiro, dizer que quando, no congresso do PSD, usou a palavra “traição”, se referia a políticas e não a pessoas, vindo desta forma tentar explicar que não se referia à ascensão de Elina Fraga à Comissão Política do PSD. Todos ainda estão bem recordados da guerra que Elina Fraga, quando era bastonária da ordem dos advogados, promoveu contra as políticas do governo PSD/CDS na área da justiça, nomeadamente o encerramento de tribunais, medida conhecida eufemisticamente como “reorganização do mapa judiciário”, e que era a principal bandeira das medidas tomadas por Paula Teixeira da Cruz. Por isso, quando ela diz que não quer pessoalizar a palavra “traição”, eu acredito nela. Vou por isso ignorar o velho aforismo que “em política só se desmente o que é verdade”.