Não há nenhum partido igual ao PSD. Eles têm razão quando reivindicam ser «o partido mais português de Portugal». Todos juntos, à molhada, retratam profundamente um país, o nosso – com as suas intrigas, capelas, invejas, ódios inultrapassáveis, pessoalização de matérias políticas, etc. Visto de fora é um mimo. Quem assistiu aos congressos do Coliseu, em 1995, que elegeu Fernando Nogueira, e ao de 1996, em Santa Maria da Feira, que entronizou Marcelo, pode até ter achado o congresso do último fim de semana, na FIL velha, uma maçadoria, tirando o momento Luís Montenegro, indiscutivelmente ‘à antiga’.
Houve muito mais pateadas e apupos no Coliseu em 1995 do que as vaias que os sociais-democratas reservaram à desastrosa Elina Fraga. Quanto às trapalhadas, que muitos julgam ser um exclusivo Santana Lopes, sempre as houve. Basta até lembrar o papel do ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho nesses dois congressos: em 1995, no Coliseu de Lisboa, entrou a apoiar firmemente Durão Barroso, com quem se zangou a meio do congresso; em 1996, chegou a Santa Maria da Feira como grande apoiante de Marcelo Rebelo de Sousa e saiu praticamente na oposição ao líder eleito. Em 2005, aceitou integrar a Comissão Política do recém-eleito líder Marques Mendes, no Congresso de Pombal, contrafeito – toda a gente na altura já sabia que Passos Coelho tinha o seu caminho próprio. Demitir-se-ia da equipa de Marques Mendes pouco tempo depois.
O PS, o outro grande partido português, é um bando de meninos ao pé disto. «Fazer a cama» ao líder, como diz António Capucho na entrevista ao lado, é um modo de vida no PSD, onde todos fizeram a cama a todos – e Passos, para centrar naquele que foi o homem mais importante do PSD nos últimos anos, fez a cama a muitos. Manuela Ferreira Leite, a quem Passos «fez a cama», vingou-se bloqueando-lhe a entrada na lista de deputados.
Rio começa mal, claro. A bancada está contra o líder, como se provou na eleição de Fernando Negrão. Elina Fraga é uma pedra no sapato. «É disto que eu gosto. É assim que eu funciono bem», disse Rio esta semana. A frase parece absurda, mas menos absurda se nos lembrarmos que o PSD gosta mesmo do cheiro do napalm pela manhã. Rio, militante desde a juventude, não é exceção. Ele que se arranje.