Os prémios dizem alguma coisa do distinto percurso de Herlander Rui, sonoplasta da TSF desde 1995, mas a longa sombra que projetam fica aquém das poucas palavras bem escolhidas de alguns dos colegas e amigos que testemunharam a sua «paixão pelo ofício». O técnico de som morreu esta quinta-feira, aos 47 anos, em Lisboa, vítima de cancro. «Era do som como outros são de uma terra qualquer», escreveu Carlos Vaz Marques, nas redes sociais, recordando-o como «um tipo raro», com quem era fácil rir, e cuja expressão que mais repetia era «na boa». Por sua vez, o diretor de informação da rádio pública, João Paulo Baltazar, celebrou o sonoplasta como um dos melhores, dentro e fora do estúdio, um dos que lhe ensinaram que «o essencial da sonoplastia passa pelo coração».
Para a maioria dos ouvintes da rádio, era um nome invulgar que se tinham habituado a ouvir no final de centenas de peças que ajudou a criar. Uma nota publicada no site da TSF lembra que «Herlander Rui se dedicou à edição de programas e reportagens, à pós-produção áudio de jingles da estação e ao apoio técnico a operações no exterior». A nota refere ainda que a sua dedicação lhe valeu «inúmeros prémios ao longo dos anos, destacando-se o prémio Rei de Espanha, em 2006, com a reportagem ‘Memória Magoada’, sobre os atentados de 11 de março em Madrid, com a jornalista Cláudia Henriques».
«Mais recentemente», adianta a estação, «foi também galardoado com o prémio Gazeta de Rádio pelo trabalho ‘Na Hora de Pôr a Mesa’, uma reportagem da jornalista Isabel Meira, onde é abordado o poder e o encanto da poesia num estabelecimento prisional». Além das reportagens, Herlander Rui assinava alguns dos alinhamentos musicais da estação, sendo-lhe reconhecido também o bom gosto musical. A propósito do seu trabalho, disse numa entrevista, em 2012: «Basicamente, sou um pintor. Eu pinto o quadro de fundo onde as personagens principais se deslocam. Em grande parte da rádio, o nosso trabalho passa por um cuidado estético, a nível das escolhas musicais, e no dinamismo quanto à seleção de programas. Gosto daquilo que faço. Acho que é muito difícil chamar as pessoas à atenção».
Herlander Rui começou o seu trabalho como sonorizador na Rádio Nova Antena, em 1988, e ajudou a formar outros no Cenjor. Colaborava com o centro de formação de jornalistas desde 2003. Primeiro na assistência técnica, depois lecionando o módulo de Captação de Som e Edição Digital dos vários cursos de Rádio e Multimédia.
Anselmo Crespo, subdiretor da TSF, partilhou a notícia da morte, rematando assim: «Era um dos incríveis desta rádio. Era não. É. Porque a memória também tem som. E porque pessoas como o Herlander não desaparecem assim. Foi um privilégio. Já vou ter contigo ao estúdio».