A s fábricas de automóveis em Portugal deverão produzir cerca de 400 mil veículos até 2020. As contas são de Hélder Pedro. O secretário-geral da Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP) admite que este aumento se deve, em grande parte, ao reforço de produção especialmente da Autoeuropa – com o fabrico do novo modelo T-Roc – e do grupo PSA de Mangualde. «Em 2020 contamos mais do que duplicar o valor de 2016 e atingir perto das 400 mil unidades montadas no país, acima das 300 mil que estão previstas no início deste ano», refere o responsável.
Esta subida de produção já é visível pelos últimos dados da ACAP. No final de janeiro tinham sido fabricados em Portugal 25.267 veículos automóveis, ou seja, mais 100,4% do que em igual período de 2017. A categoria de veículos ligeiros, quer de passageiros quer de mercadorias, registou um forte crescimento neste período, sendo que 97,2% dos veículos fabricados tiveram como destino o mercado externo, contribuindo de forma significativa para o saldo favorável da balança comercial nacional.
Este reforço da produção reflete-se também na criação de novos postos de trabalho. Só estas duas unidades vão contratar, para já, 2.725 pessoas. A fábrica de Palmela prevê contratar 2.500 colaboradores – dos quais 2.100 já foram contratados para o fabrico do novo modelo – enquanto o grupo PSA irá contratar mais 250 trabalhadores a partir de abril. «Para já só temos conhecimento dos números que foram anunciados pelos fabricantes, mas reconheço que poderá aumentar ainda mais, principalmente tendo em conta o sucesso que tem tido o T-Roc, uma vez que a procura na Europa tem superado as expectativas».
Apesar das boas perspetivas, Hélder Pedro considera que tem de existir um esforço por parte do Governo em avançar com uma alteração nas classes das portagens em Portugal. Um alerta que já foi dado pelo próprio grupo PSA que, já este ano, admitiu que o investimento em Mangualde poderia estar em risco a médio prazo se não existissem mudanças nas portagens. Em causa está o novo modelo K9, que irá começar a ser produzido em outubro e será classificado como veículo de classe 2 nas portagens por ter mais 1,10 metros de altura no eixo da frente.
«É imperativo alterar o critério das portagens. Todas as marcas têm novos designs para os veículos, tornando-os mais altos. Mas esta situação também é resultado de uma diretiva para proteção dos peões e faz com que os carros tenham de ter um eixo à frente mais alto para que num caso de embate o peão fique mais protegido», lembra Hélder Pedro ao SOL.
No entanto, o responsável revela que há sensibilidade do Governo na alteração das portagens, mas que terá de passar também por uma negociação com as concessionárias «para que se adaptem àquilo que são os novos tempos. Não se pode ficar agarrado a critérios que são desajustados face à indústria», alerta.
A verdade é que, já no início deste mês, o Ministério do Planeamento e das Infraestruturas garantiu que estava a renegociar os contratos de concessão das autoestradas com a Brisa, a maior gestora privada de autoestradas do país, desde o final do ano passado.
Só fechando este dossiê é poderá assegurar o investimento em Mangualde e os 700 postos de trabalho envolvidos. Esta fábrica pretende pretende produzir 100 mil unidades deste veículo em 2019, um quinto das quais com o mercado português como destino, ou seja, 20 mil comerciais ligeiros da Peugeot, Citroën e Opel.
A PSA espera «até ao final de julho» para saber se há alguma alteração da lei das portagens. Se não houver mudanças, a fábrica só irá produzir 80 mil unidades no próximo ano e o terceiro turno de montagem, que arranca em abril para assegurar o final da produção da Peugeot Partner e da Citroën Berlingo, poderá durar apenas seis meses.
O que é certo é que esta mudança de portagens não é caso inédito. Em 2005, o Ministro da Economia, da altura, acedeu às exigências da Autoeuropa de forma a que os monovolumes que eram produzidos em Palmela – Sharan (VW), Galaxy (Ford) e Alhambra (Seat) – deixassem de pagar portagem como classe 2 e passassem a ser taxados como classe 1.
Esta foi a resposta encontrada por Carlos Tavares ao problema do pagamento das portagens que era apontada pela Autoeuropa como um dos principais obstáculos para as vendas dos seus veículos no mercado português.
Expectativa em Palmela
Hélder Pedro diz, no entanto, que também a estabilidade nas fábricas é essencial para que esta meta de produção de 400 mil veículos seja atingida. Ainda assim, o secretário-geral da ACAP mostra-se otimista em relação ao pré-acordo que foi alcançado esta semana e que prevê aumentos salariais salariais de 3,2% – que terá efeitos retroativos desde outubro passado e irá vigorar até ao final de 2018 num patamar mínimo de 25 euros. Números que ficam, no entanto, abaixo dos que eram proposta pela Comissão de Trabalhadores (CT) que pedia aumentos de 6,5%, num mínimo de 50 euros.
Ao mesmo tempo, a administração compromete-se a passar para efetivos 250 trabalhadores que estão a termo e a pagar um subsídio que equivale a 10% do ordenado base a trabalhadoras grávidas. Foi anda aprovado o pagamento de uma gratificação de 100 euros ou 200 euros em abril de 2018 conforme a antiguidade do trabalhador.
Agora o pré-acordo terá de ser votado pelos cerca de 5700 trabalhadores da Autoeuropa, que vão reunir-se em plenário no próximo dia 27 de fevereiro.
Já a compensação para os novos horários de trabalho ao fim de semana, a partir de agosto, será objeto de uma negociação autónoma, altura em que a Autoeuropa deverá aumentar a produção de forma significativa para responder ao volume de encomendas do novo veículo T-Roc, que exigirão a implementação de turnos contínuos.
Também importantes para o aumento da produção a nível nacional são a Mitsubishi Fuso e a Salvador Caetano, as outras duas fábricas do setor presentes em Portugal, mas que apostam num segmento específico: veículos pesados. Este segmento sofreu uma quebra significativa em janeiro. Nesse mês, segundo os mesmos dados da ACAP, foram produzidos 328 veículos pesados, o que representou uma quebra de 42,5% face a igual período do ano passado.