Esta parece ser a nova moda de fumar tabaco. O IQOS foi lançado no mercado português em 2016 pela mão da Philip Morris International (PMI) – tabaqueira subsidiária deste dispositivo – e já representa 2% do mercado nacional.
Dados em Portugal “O número de ex–fumadores adultos que em Portugal adotaram o IQOS aproxima-se rapidamente dos 80 mil, e a quota de mercado nacional do segmento de tabaco aquecido dos 2%”, indica ao i um dos responsáveis da PMI.
A mesma fonte revela que, no que diz respeito ao processo de comercialização no mundo, Portugal foi o quarto mercado a aderir.
Considerado o cigarro da moda, os cigarros aquecidos já têm, apesar de os números fornecidos pela PMI apenas dizerem respeito a ex-fumadores na idade adulta, consumidores de todo o tipo de idades. Contudo, várias entidades da área da saúde mostraram-se relativamente reticentes quando estes cigarros surgiram, tendo a Direção-Geral da Saúde admitido na altura que aguardava uma avaliação por parte da Organização Mundial da Saúde (OMS) para perceber se podia utilizar este tabaco como uma alternativa menos nociva para todos os fumadores que não conseguissem deixar realmente de fumar.
Assim, dá-se a oportunidade aos fumadores de consumirem nicotina – substância que cria o vício -, mas de uma forma sem a maior parte dos fumos tóxicos que estão presentes nos cigarros normais.
Sem cheiro, sem fumo e sem cinza O aparelho eletrónico tem uma bateria e uma caneta, onde são colocados os heatsticks (produto de tabaco) que são fumados. Neste dispositivo, o tabaco não arde, é apenas aquecido “a cerca de 350 graus” – temperatura que nos cigarros normais pode chegar aos 900 -, o que evita a produção da maior parte dos fumos tóxicos que se encontram nos cigarros normais.
“Não ocorrendo combustão, não existem nem cinza nem fumo, que é a principal fonte da nocividade do consumo de cigarros. O aerossol gerado pelo IQOS contém, em média, menos 90 a 95% de constituintes nocivos e potencialmente nocivos quando comparamos com o fumo dos cigarros e permite, por isso, uma redução de exposição a tóxicos dos seus consumidores”, explica o responsável da PMI.
De acordo com vários cientistas que trabalham na divisão de I&D da PMI na Suíça, país onde foi criado o IQOS, tem sido desenvolvida uma investigação em busca da “redução da nocividade nos produtos de tabaco” com base nos padrões que são internacionalmente aceites pela ciência, principalmente pela indústria farmacêutica. Até à data foram feitas cerca de 200 publicações em revistas científicas.
Estudos: IQOS vs. Cigarros Eletrónicos Quando apareceram no mercado os primeiros cigarros eletrónicos, foram considerados como uma alternativa mais saudável aos cigarros tradicionais. Contudo, ao longo dos anos concluiu-se que podiam ser tão prejudiciais à saúde pública como o tabaco normal.
Segundo um relatório da Academia de Ciências e Medicina dos Estados Unidos, divulgado a 23 de janeiro de 2018, fumar cigarros eletrónicos aumenta o risco de vício, especialmente nos jovens. Já na idade adulta, os riscos são menores que os cigarros normais.
Um outro estudo feito pela Universidade de Nova Iorque concluiu que os cigarros eletrónicos afetam o ADN e que alguns sabores são tóxicos para as células imunitárias, como é o caso dos sabores a baunilha e canela. Os estudos revelaram que os sabores causam inflamações e stresse oxidativo (relacionado com o funcionamento celular).
O estudo verificou ainda que os ratos (animais utilizados para o estudo), quando expostos aos vapores destes cigarros, apresentavam danos no seu ADN, ao nível dos pulmões, coração e bexiga.
Os investigadores também analisaram os efeitos destes vapores em células humanas dos pulmões e da bexiga e verificou–se que as mesmas também sofreram mutações genéticas. Certo é que o IQOS não é comercializado nos EUA.
O tabaco aquecido sem combustão parece ser uma solução alternativa para os fumadores mas, ainda assim, as opiniões sobre o tema dividem-se entre especialistas a nível internacional. Ao i, o responsável da PMI garantiu que a empresa pretende apenas mostrar que é possível continuar a fumar, mas de uma forma menos prejudicial para a saúde.
“Qualquer substância inalada pode ser prejudicial” Recentemente foi publicado um estudo no “British Medical Journal” que apoia o uso de cigarros eletrónicos, referindo que pode ser uma forma de cessação tabágica. Contudo, vários dos maiores especialistas na área da pneumologia da European Respiratory Society (ERS) reagiram ao estudo e mostraram-se indignados com as declarações feitas.
“Os pulmões humanos são feitos para respirar ar limpo e, consequentemente, qualquer substância inalada a longo prazo pode ser prejudicial”, referiram os líderes da ERS, Mina Gaga, Tobias Welte e Thierry Troosters.
As respostas dadas pelos especialistas demonstram uma posição bastante clara em relação ao uso destes cigarros, uma vez que os mesmos insistem que ainda existe pouca “informação sobre se os cigarros eletrónicos são ou não uma ajuda” para deixar de fumar.
Os líderes da ERS acrescentam também que os “cigarros eletrónicos são certamente menos nocivos que o tabaco normal, mas há várias substâncias que os compõem que ainda não foram estudadas” e, portanto, “não se sabe ao certo o mal que podem fazer aos pulmões”.
Fonte oficial da PMI garantiu ao i que, de acordo com dados disponíveis quanto aos consumidores de IQOS em Portugal, “a grande maioria dos fumadores adultos que adotam o produto abandonam completamente os cigarros”, mas a empresa sublinha que o “IQOS não é uma forma de cessação tabágica, mas sim um produto para quem não quer deixar de fumar”, acreditando que esta possa ser uma escolha melhor para os fumadores na idade adulta. Como é óbvio, este é o discurso dos responsáveis do produto. No entanto, há vários fumadores de IQOS que tanto fumam os cigarros aquecidos como os tradicionais. Para os cientistas, nada melhor do que deixar de fumar qualquer tipo de tabaco.
O i falou com o Professor Carlos Robalo Cordeiro, especialista em pneumologia, para entender qual a sua posição relativamente a este tema. Este garantiu que o "aparelho respiratório existe para receber apenas ar".
Pergunta e Resposta
Estudos indicam que os cigarros IQOS são uma forma mais saudável de consumir nicotina. Esta afirmação pode ser feita?
É inquestionável que o tabaco é nocivo para a saúde e que a nicotina é uma droga aditiva. Por isso, a resposta só pode ser não, sendo claro que estes novos dispositivos são uma nova maneira de as pessoas se tornarem viciadas em nicotina.
Os fumadores deviam optar por esta inovação? Podem realmente ser uma ajuda para a saúde pública?
O aparelho respiratório existe para receber apenas ar, de preferência ar puro, e quaisquer substâncias inaladas repetidamente são potencialmente lesivas. Levou décadas a perceber os efeitos devastadores dos hábitos tabágicos. Queremos agora retroceder no tempo e assumir esta responsabilidade para com as gerações futuras?
Concorda que aderir aos cigarros IQOS pode ser uma boa forma de deixar, eventualmente, de fumar?
Não. Em primeiro lugar porque estes dispositivos não estão regulados e contêm uma multiplicidade de substâncias. Apenas substâncias regulamentadas e cujos efeitos secundários estão descritos e são conhecidos devem ser usadas nos programas de desabituação tabágica. Por isso, os cigarros eletrónicos e outros dispositivos não podem ser recomendados e não devem ser usados nestes processos, a menos que (e até que) surjam ensaios clínicos, independentes e de qualidade, demonstrando a sua eficácia em desabituação tabágica.
Em comparação com o IQOS, qual a sua opinião sobre os cigarros eletrónicos mais antigos?
Os cigarros eletrónicos são perigosos para a saúde até prova em contrário, pelas razões já apontadas. O fumo, vapeamento ou outra forma de inalação e exalação de substâncias constitui uma agressão não apenas para o utilizador como também para todos os que partilharem o mesmo ambiente. Finalmente, os legisladores deverão encarar o tabaco convencional e os novos dispositivos da mesma forma, implementando e aumentando o seu controlo nas vendas e no respetivo marketing.