O meu programa de televisão favorito é o Governo Sombra, que é emitido um pouco antes da meia-noite, às sextas-feiras, na TVI 24. Com a apresentação e moderação de Carlos Vaz Marques, todas as semanas os comentadores Ricardo Araújo Pereira, Pedro Mexia e João Miguel Tavares analisam a atualidade noticiosa com inteligência, boa informação e sentido de humor. Por isso, foi com surpresa e pesar que vi que no último programa, de 2 de março, todos se espalharam ao comprido.
Em causa estava a retirada do Facebook da imagem de uma importante escultura, que terá cerca de 30.000 anos, a Vénus de Willendorf, escultura essa de uma mulher nua, que representa a fecundidade. E os quatro participantes do programa foram unânimes em criticar a decisão do Facebook, apontando, e com razão, que a multinacional americana tinha errado ao censurar a imagem de uma escultura tão marcante na história da humanidade.
Onde o moderador e os comentadores se enganaram foi ao afirmarem que essa decisão, de retirar a estatueta, tinha sido feita de forma automática, pelo “algoritmo do Facebook”. Comentaram longamente o erro desse suposto algoritmo, desconhecendo que a decisão de retirar imagens da rede social não é tomada por máquinas, mas sim por seres humanos. É claro que o erro existiu, porque não é política do Facebook censurar imagens de obras de arte, mas foi um erro humano, não de um computador. Aliás, a imagem da Vénus de Willendorf já voltou a ser colocada na rede social, com o Facebook a admitir o erro.
Foi penoso ouvir os comentários demorados sobre o “algoritmo do Facebook”. Para citar Mark Twain: “Não é o que não sabes que te causa problemas. É o que julgas ter a certeza de saber e que, simplesmente, não é como pensas.”
Todos cometemos erros, pelo que não deixarei de ver o Governo Sombra. E, uma última nota: não tenho Facebook. Dispenso.