Tônia Carrero morreu na noite de sábados aos 95 anos devido a paragem cardíaca, durante uma cirurgia numa clínica privada, onde estava internada desde sexta-feira devido a uma úlcera. Era uma das atrizes mais consagradas do Brasil. Participou em 54 peças, 19 filmes e 15 telenovelas. Ficou conhecida em Portugal pela sua participação em telenovelas como “Sassaricando” – com a personagem Rebeca – ou “Kananga do Japão”.
Maria Antonietta de Farias Portocarrero, o seu nome de batismo, era filha de um militar, o marechal Hermenegildo Portocarrero, e de Zilda de Farias. Nasceu no Rio de Janeiro a 23 de agosto de 1922 e desde cedo mostrou a sua vocação para os palcos. Mas o seu casamento com apenas 17 anos de idade – com o realizador e também artista plástico Carlos Arthur Thiré – trocou-lhe as voltas e acabou por se formar em Educação Física, em 1941. No entanto, seis anos depois e em Paris, onde estava a viver temporariamente com o marido, tomou a decisão que iria tornar-se irreversível: ser atriz. E foi na capital francesa que fez a sua formação artística, tendo a oportunidade de ter como professores grandes atores franceses, como Jean-Louis Barrault.
Tônia Carrero regressou ao Brasil com 25 anos e estreou-se no grande ecrã com “Querida Suzana”, de Alberto Pieralise, em 1947, ao lado de Anselmo Duarte, Nicette Bruno e da bailarina Madeleine Rosay. Seguiram-se “Caminhos do Sul” ou “Perdida de Paixão”, de Fernando de Barros, tornando-se uma das divas do cinema brasileiro na década de 1950.
Em 1949 contracenou com Paulo Autran em “Um Deus Dormiu lá em Casa”. Mais tarde, acabaria por fundar com aquele e com o italiano Adolfo Celi, na altura seu marido, a Companhia Tônia-Celi-Autran.
Estrela televisiva No entanto, foram as telenovelas a consagrá-la definitivamente como estrela popular. “Pigmalião 70” foi a primeira em que participou, em 1970. A sua personagem fez enorme sucesso, ao ponto de o seu penteado se ter tornado moda e ganho nome próprio: pigmalião. Mas depois desta personagem seguiram-se muitas outras que marcaram os espetadores, que nunca esqueceram a sua imagem: voz rouca, olhos claros e sorriso sedutor
Dez anos depois, a sua Stella Simpson, personagem que interpretou em “Água Viva”, marcou um tempo pela forma emancipada e desassombrada com que assumia a condição feminina. “Sassaricando”, de 1987, e “Kananga do Japão”, de 1989, foram outras telenovelas em que deixou a sua marca.
Em 1986, Tônia Carrero escreveu o livro “O Monstro dos Olhos Azuis”, que reuniu histórias da infância da atriz, e em outubro desse ano foi vítima de um sequestro, do qual escapou ilesa. Recebeu o Prémio Shell pelos 50 anos de carreira e faz a última aparição no teatro na peça “Um Barco para o Sonho”, dirigida por um dos quatro netos, Carlos Thiré.
Trabalhou pela última vez em televisão em 2004, integrando o elenco de “Senhora do Destino” e interpretando-se a si mesma num episódio de “Um Só Coração”. Quatro anos depois seria a vez de se despedir do cinema, com a participação em “Chega de Saudade”, de Laís Bodanzky. Nessa altura, já sofria há nove anos da hidrocefalia oculta que a foi debilitando – doença que provoca a acumulação de líquido cefalorraquidiano nas cavidades ventriculares cranianas, causando aumento na pressão intracraniana sobre o cérebro e aumento do volume do crânio –, dificultando-lhe a capacidade de comunicação e de movimento, e obrigou a atriz a retirar-se para o seu apartamento no Leblon, longe dos olhares atentos do público.
O seu único filho é o também ator Cecil Thiré. Miguel Thiré, Luísa Thiré e Carlos Thiré, seus netos, seguiram também carreira na arte da representação. A atriz era a matriarca de uma família de artistas da sétima arte, com quatro gerações.
O ícone que despertou muitas paixões foi casado três vezes: com Carlos Artur Thiré (casamento que durou de 1940 a 1950 e com quem teve um filho), Adolfo Celi (entre 1951 e 1962) e com o empresário César Thedim (entre 1964 e 1977). Depois disso manteve outros relacionamentos, mas não quis voltar a casar. Chegou a admitir estar arrependida por não ter respondido à tentativa de conquista por parte de Juscelino Kubitschek, presidente do Brasil entre 1956 e 1961, e também do grande poeta e compositor Vinicius de Moraes, que transformou o seu desgosto amoroso numa canção assinada com Baden Powell, “Formosa”.