Toni Iwobi tem 62 anos, reside em Spirano, uma pequena cidade da Lombardia, no norte de Itália, e este fim de semana foi eleito o primeiro senador negro na História da Itália. Para confusão mais ou menos generalizada, Iwobi concorreu pela Liga Norte, o partido nacionalista e xenófobo que fez o principal da campanha contra a “invasão africana” dos imigrantes e requerentes de asilo que o próprio Iwobi podia ter simbolizado quando há cerca de 40 anos chegou da Nigéria.
Iwobi não é uma figura desconhecida na Liga Norte. Pertence ao partido nacionalista – e, em algumas das suas encarnações, separatista e racista – há 25 anos. Lá conhecem-no como o "liguista negro". Chegou ao país para estudar engenharia informática vindo do Quénia e retalia contra as acusações de que defender as deportações forçadas das cerca de 600 mil pessoas de origem africana chegadas nos últimos anos ao país se trata, no seu caso, de hipocrisia.
"A esquerda quer fazer-nos crer que a questão de acolher se deve apenas a uma noção de solidariedade", diz Iwobi, citado pelo jornal espanhol "ABC". "Nós opomo-nos a isso", afirma o político italiano que no passado travou já lutas públicas contra a primeira ministra negra no governo, Cecile Kyenge, quando esta propôs conceder cidadania às crianças nascidas de pais imigrantes. "A África não cabe toda em Itália. Nós dizemos: há que ajudá-los em sua casa."
Iwobi tem posições radicais e, pelo menos à superfície, radicalmente contraditórias com a sua experiência de vida. Nascido numa família católica de dez irmãos, Iwobi usa muitos dos termos cunhados por Matteo Salvini, o líder do partido que este fim de semana conquistou uns impressionantes 17% dos votos nas eleições legislativas. Fala em "invasão" de mulheres africanas que querem ter filhos em Itália e diz que não é aceitável haver um italiano filho de pais que não o são.
"Isso é uma loucura", diz. "Em princípio, um rapaz italiano com dois pais estrangeiros seria um problema, segundo a minha opinião. Acima de tudo a lei «ios soli» permitiria a invasão de mulheres imigrantes, que viriam dar a luz na Itália, apenas para receber automaticamente a nacionalidade. Seria um caos incontrolável. E quem lhes vai pagar os serviços sociais tendo em conta que não há sequer dinheiro para as famílias italianas?"
Toni Iwobi afirma que a sua eleição foi uma "bela notícia" e diz que "agora abre-se uma fase cheia de responsabilidade". Iwobi desfaz-se em elogios a Matteo Salvini, para quem é "um grande líder que converteu a Liga na primeira força política do centro-direita" – grande parte dos observadores classificá-lo-iam como extrema-direita, ou dirieta nacionalista. Sobre os tons racistas no seu próprio partido, porém, Iwobi mantém-se em silêncio.
Na campanha eleitoral que culminou nas eleições incertas deste domingo, por exemplo, o recém-eleito presidente da Lombardia, a mesma região de Iwobi, afirmou num comício que é preciso salvaguardar a identidade racial italiana diante a suposta invasão africana de imigrantes e requerentes de asilo que a União Europeia promete há muito distribuir por outros Estados-membros, até agora sem sucesso.
"Não podemos aceitar todos os imigrantes que chegam", afirmou Fontana. "Devemos manter a nossa etnia, a nossa raça branca, a nossa sociedade deve continuar a existir ou deve ser cancelada."