Descobrir. Hub do Beato
De costa a costa, o Hub do Beato muda-se da ex-zona da moda para o lado que está a agitar a cidade. É a Oriente que (já) está o presente dizem os futurólogos do urbanismo. O antigo complexo industrial tem servido diversos eventos – no próximo fim de semana irá receber por exemplo o Beer Generation Lisbon Festival – mas ainda não tinha sido posto à prova em decibéis. Na apresentação do Lisboa Dance Festival, a promotora Karla Campos justificou a mudança não só com a agitação das zonas do Beato e de Marvila, como pela ligação com as primeiras raves lisboetas. Um pouco de memória não faz mal a ninguém e, de facto, foi em descampados e armazéns abandonados de Chelas que se começou a dançar como em Nova Iorque ou em Londres, de onde chegava então um novo fenómeno chamado house. 25 anos depois dessas primeiras manifestações, a música de dança está instituída e tem no Hub do Beato um candidato a catedral. A decadência industrial está lá. A prova dos nove está nos graves.
Ver. NAO
Nem toda a música de dança é eletrónica e nem toda a música eletrónica é de dança mas no Lisboa Dance Festival, predomina a música eletrónica de dança, nas suas mais variadas formas e ritmos, quebras ou explosões. O cartaz do ano passado explorava de forma certeira a forma como a raiz maquinal do ritmo foi absorvida por linguagens como o hip-hop e a afro-Lisboa. Este ano, regressam os princípios do house e do techno mas o nome maior do cartaz é a exceção que confirma a regra. NAO estreou-se a grande altura noVodafone Mexefest e recolheu à base em 2017. Em doze meses, deu sinais de vida no inédito “Nostalgia” e entregou as canções a um lote invejável de remisturadores – Kaytranada, Mura Masa, SBTRKT ouStormzy. Em tempo de ruído e necessidade de atenção, a via do silêncio é a mais difícil mas um novo álbum está em período de gestação. Teremos pistas? Certo é que a afirmação do hip-hop como género dominador de grande consumo, abrem-se portas também aos que habitam nas margens. Em ano e meio, os seguidores não pararam de crescer.
Sentir. Romare, Octave One, Nosaj Thing, Joe Goddard
Entre DJ sets e live acts, a música eletrónica na sua expressão popular está em maioria no Lisboa Dance Festival. Hoje, no Carlsberg Room, o concerto de NAO (22h30) é um parêntesis entre as odisseias musicais de DJ Glue (20h30, hip-hop e derivados), Romare (23h45, house de inspiração tribal africana) e Xinobi (01h00, house e deep house de tendências pop e vozes infantis). No Hub Room, Dupplo (20h30), Miguel Torga (23h00) e Octave One (02h00) crescem do house para o techno até à apoteose. No Kia Room, a afro-lisboa maximalista de DJ Marfox (21h00), segue-se ao promissor luso-brasileiro Shaka Lion (20h00). O soundsystem Optimo (22h30) prepara o caminho para a idiossincrasia hedonista de Leon Vynehall (01h00). No Eristoff Room, há GPU Panic (21h00), Max Graef (22h00) e Monoloc (01h00). Rastronaut, da Enchufada, abre o festival às 19h00 no Beato Stage. Amanhã há Himan, Nosaj Thing, Mirror People, DJ Kitten, Steffi, Midland, Prins Thomas, Saiorse, Joe Goddard, Mvaria, Paraguaii, Truncate, Bawrut, Pedro, António Bastos, Moomin e Ramboiage.
Refletir. Conferências
Obrigatórias desde a primeira edição, as conferências do Lisboa Dance Festival refletem sobre o irracional e adicionam camadas de pensamento à fisicalidade espontânea que é o ato de dançar. Sob a batuta de Rui Miguel Abreu (Blitz, Rimas e Batidas), discutem-se três temas. Às 17h00, o jornalista modera uma conversa sobre as Marcas na Música com os parceiros de profissão MiguelFrancisco Cadete e Pedro Gonçalves, a diretora do festival Karla Campos, o agente Rui Murka e o músico GPU Panic. Às 17h40, Pedro Fradique (Lux Frágil), Sérgio Hydalgo (Zé dos Bois), Ricardo Farinha (Rimas e Batidas, NiT) e Xinobi (produtor e DJ) falam sobre a Lisboa que dança com os turistas com arbitragem de Luís Oliveira (Antena 3). E às 18h20, pergunta-se: Lisbon In The New What? Respostas de Branko (produtor e DJ), Tyson Ballard (Resident Advisor), Ryan Miller (DJ) e Davide Pinheiro (i, Mesa de Mistura e Copenhagen). A condução do debate fica a cargo do jornalista Vítor Belanciano (Público).
Ver. “Visceral Monuments”
Em parceria com o BoCA – Biennial Contemporary Arts, o Lisboa Dance Festival recebe “Visceral Monuments” na Fábrica das Bolachas e na Sala das Massas. A exposição “é como uma dança, no sentido em que edifica no espaço monumentos a corpos orgânicos e festivos, incansavelmente, através das suas batidas”. As obras são dos artistas, André Romão, Boris Charmatz & César Vayssié, Brice Dellsperger, Claudia Maté, Diogo Evangelista, Gregor Rozanski, João Onofre, João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira, Tania Bruguera e Tiago Alexandre. Entre os artistas representados, destaque para João Onofre, que constrói o universo visual através de referências recorrentes à música e ao ritmo, e da cubana Tania Bruguera, recentemente escolhida para criar uma obra para a Turbine Hall da Tate Modern. A promotora do festival, Live Experiences, assume ainda, em estreita ligação com a Câmara Municipal de Lisboa, melhorar as condições do Hub Criativo doBeato, sob o pretexto de ajudar o bairro a dispor de infraestruturas melhoradas.