Em primeiro lugar, a polémica em torno da possível nomeação de Pedro Passos Coelho para professor “Catedrático Convidado” na faculdade onde eu fiz a minha licenciatura, o ISCSP. O principal argumento dos contestatários à nomeação de Passos Coelho é que este, tendo apenas o grau académico de licenciado, não está habilitado para dar aulas a alunos de graus académicos superiores, como os de mestre e o de doutor. E eu acho que este argumento, apesar de parecer lógico, não passa de uma parvoíce.
Não simpatizo politicamente com Passos Coelho. Agora, a sua experiência de quatro anos como primeiro-ministro, e num período particularmente difícil para Portugal, é uma mais-valia inestimável para os alunos do ISCSP. Bem que eu teria gostado de ter um antigo primeiro-ministro como professor. Até parece que há muitos.
Não aproveitar, com um argumento formal, e com indisfarçável antipatia política, os conhecimentos práticos de Passos Coelho na governação, em benefício dos alunos, seria um desperdício inacreditável. O ISCSP não deixará de ser uma instituição politicamente plural, como sempre foi. E Passos Coelho porá a sua sabedoria ao serviço dos que vivem ao Portugal. Em vez de, por exemplo, ir ganhar umas coroas valentes em Londres como presidente do Goldman Sachs.
Em segundo lugar, quero recuar ao ano de 1996, quando pela primeira vez comprei ações na bolsa. Por vezes (quase sempre) os bancos cobram uma comissão aos clientes que têm ações, só por estes terem ações: é a comissão da guarda de títulos. E, na organização em que eu trabalhava, foi feito um estudo sobre estas comissões. Dos bancos a operar em Portugal, apenas um não cobrava a referida comissão: o Fonsecas & Burnay. Assim, para não pagar a comissão, fiz-me cliente do BFB.
Após alguns anos, o BFB foi comprado pelo BPI. Não fiquei desagradado. O BPI operava como um banco à moda antiga, em que a relação entre o cliente e o banco era vista como fundamental. Era – e penso que ainda é – um banco transparente: se um cliente investir dinheiro num fundo de investimento ou num PPR, pode consultar a carteira detalhada desses veículos financeiros, ficando a saber exatamente onde estão a aplicar o seu dinheiro. No BPI, um funcionário falar mal da concorrência dá direito a ter um processo disciplinar. Por fim, mas não menos importante, foram rápidos e hábeis a aderir à internet.
Um dos aspetos que mais me agradava no BPI era o facto de as transferências interbancárias, entre bancos a funcionar em Portugal, e feitas através da internet, serem gratuitas. Isso parecia fazer todo o sentido. O banco tem muito menos custos ao processar uma transferência ordenada pela internet do que uma pedida ao balcão, pelo que era uma boa estratégia atrair os clientes para este novo canal, mais barato. Assim, as transferências interbancárias, em Portugal, são gratuitas. Todos ficavam a ganhar.
Ficavam. Porque, a partir de 1 de julho, cada transferência feita através da internet, no BPI, custará aos clientes 1,04 euros. O BPI terá assim uma fonte adicional de receitas. Mas irá minar decisivamente a confiança que os clientes depositavam no banco. Desta forma, a marca BPI ficará irremediavelmente afetada. E, como me ensinou no MBA o Doutor Luís Reis, hoje número 2 do grupo Sonae, “as marcas são espaços de tranquilidade na mente do consumidor”. Uma vez quebrada esta tranquilidade, poderá ser recuperada? Francamente, não sei. Facilmente não será, de certeza.
E tudo por uns milhares de euros.