A alta-costura perdeu um dos ícones. “Monsieur de Givenchy morreu durante o sono, na noite de sábado, 10 de março de 2018”, declara o comunicado assinado pelos sobrinhos do costureiro.
Nascido a 20 de fevereiro de 1927 em Beauvais, França, filho do marquês Lucien Taffin de Givenchy e de Béatrice de Givenchy, era um aristocrata. Cresceu a admirar a mãe, um tratado de elegância de quem herdou o físico de estrela de Hollywood, descreve o “Le Monde”. O pai morreu aos dois anos e o avô era proprietário de uma fábrica de tapetes e de uma enorme coleção de tecidos e roupas que o fascinavam em criança.
Aos dez anos interessou-se pela moda. Com 17, instala-se em Paris. A família desejava que seguisse advocacia, mas optou pelas belas-artes. A ligação às artes seria fundamental na visão preconizada para a criação. Trabalhou nas casas de Jacques Fath, Robert Piguet, Lucien Lelong e Elsa Schiaparelli antes de partir para a sua casa de alta-costura que deu nome à moda aos 25 anos. Estamos em 1952, ano em que realiza o primeiro desfile em Paris. Dois anos depois chega a primeira coleção de pronto-a-vestir.
Vestiu a nobreza política e as atrizes de Hollywood. Da amizade com Audrey Hepburn – para quem criou vestidos imortalizados em filmes como “Sabrina”, de 1954, “Cinderela em Paris”, de 1957“ e “Boneca de Luxo” de 1961 – nasceu a relação com um meio que era o seu por genética. Vestiu mulheres famosas como Jacqueline Kennedy (enquanto foi primeira-dama dos EUA), Grace Kelly e a duquesa de Windsor.
O vestido negro concebido para Audrey Hepburn na adaptação do conto de Truman Capote seria a imagem de marca de um criador que manteve uma relação estreita e nem sempre pacífica entre linhas inovadoras e clássicas. A atriz, musa e amiga inspirou o primeiro perfume, L’Interdit. A amizade haveria de se prolongar por 40 anos.
Seria também profundamente influenciado por Balenciaga, com quem formalizou o sonho, aprendeu e trabalhou. Sem o basco, teria seguido direito. Do mestre nunca escondeu as referências ao minimalismo. “Sou feliz porque tive o trabalho que sonhei em criança”, confessou em conferência de imprensa há alguns anos.
Em 1973 entrou para o mundo da moda masculina com o lançamento da linha Gentleman Givenchy. Em 1988, a casa Givenchy foi vendida. A linha de perfumes ficou com a Veuve Clicquot e o departamento de alta-costura passou para as mãos da Louis Vuitton – atualmente proprietária da linha de perfumes.
Givenchy definiu um novo padrão para a elegância e a sofisticação. Manteve a direção criativa até 1995, já depois de a marca ter sido vendida por 45 milhões de dólares. Passaria a pasta ao contemporâneo Alexander McQueen no ano seguinte. John Galliano e Julien McDonald também se sentariam na cadeira de diretor artístico da Givenchy, mas o reinado mais duradouro seria de Ricardo Tisci. Após 12 anos de trabalho, o italiano passou o testemunho a Clare Waight Keller, a primeira mulher a dirigir a marca.
Na reforma, continuou ativo de outras formas. Foi especialista da leiloeira Christie’s, de Versalhes e do Museu do Louvre. Geriu também durante vários anos o ramo francês do World Monuments Fund. No ano passado foi feita uma retrospetiva dos 65 anos da Givenchy.
“Uma personalidade maior do mundo da alta-costura francesa e um cavalheiro que simbolizava o chique e a elegância parisiense por mais de 50 anos”, lê- -se no testemunho da LVMH (Louis Vuitton Moët Hennessy). “Esteve entre os designers que colocaram Paris firmemente no coração do mundo da moda pós-1950, ao mesmo tempo que criava uma personalidade única para a sua marca de moda. Tanto nos seus prestigiantes vestidos longos como na roupa de dia, Hubert de Givenchy juntou duas raras qualidades: ser inovador e intemporal”, declarou o presidente da companhia, Bernard Arnault.
A Casa Givenchy também deixou o testemunho ao fundador nas redes sociais. “A sua abordagem da moda e a influência perduram (…) A obra permanece pertinente, hoje como outrora.” No Museu do Design e da Moda (MUDE), em Lisboa, há criações de Givenchy no espólio de alta-costura.