A irmã de Orlando Figueira é uma pessoa com capacidade económica e que não precisava de qualquer ajuda do antigo procurador, suspeito de ter sido corrompido pelo ex-vice-presidente angolano, Manuel Vicente. Esta é a posição de uma das principais amigas de Maria Figueira, ouvida ontem em tribunal.
Longe dos holofotes de terça-feira – dia em que foi ouvido o juiz Carlos Alexandre – o julgamento do caso Fizz continuou ontem com a inquirição de Goreti Ribeiro.
O Ministério Público apreendeu em dois cofres da irmã do antigo procurador 130 mil euros em notas e várias peças de ouro, que relacionou com o alegado esquema montado. Mas Goreti Ribeiro nega qualquer ligação e diz que os bens encontrados eram de facto de Maria Figueira, adiantando que o poder económico da amiga era maior do que o de Orlando Figueira.
Questionada sobre o que sabia das relações e empréstimos entre Maria Figueira e o irmão, a testemunha disse ter conhecimento de algumas situações, a maioria na altura em que o ex-procurador se separou da mulher.
“Sei que ela emprestava ao irmão sim, ele a ela não. Até pela diferença de rendimentos que havia entre os dois”, esclareceu.
Perante o coletivo Goreti Ribeiro disse ter a certeza de que o que foi apreendido pertence à sua amiga e não ao ex-procurador e referiu que muitas vezes o antigo magistrado pedia dinheiro emprestado até ir a Andorra levantar dinheiro da conta que abriu para receber dinheiro de Angola.
A testemunha contou ainda que a saída de Orlando Figueira do Departamento Central de Investigação e Ação Penal nunca foi bem vista pela irmã, que sempre achou que “era trocar o certo pelo incerto”.
“Mas que ele disse-lhe que era uma empresa credível e que o convite foi de uma pessoa importante”, explicou ao tribunal Goreti Ribeiro, advogada e sócia de Maria Figueira.
Íntegro e legalista Do que conhece Orlando Figueira, a testemunha afirmou tratar-se de “uma pessoa integra e legalista”. Ainda assim, e tal como já tinha sido feito pelo juiz Carlos Alexandre, foi descrito como “ingénuo”: “É muito escrupuloso, mas às vezes um pouco ingénuo. Não vê segundas intenções nas coisas. Para ele uma multa de trânsito é uma coisa grave”.
Confirmou ainda o que o antigo procurador já havia dito de que o dinheiro apreendido no cofre de Maria Figueira, um montante de 130 mil euros em notas de 500, tinha sido a devolução de um empréstimo feito ao irmão.
O inspetor do MP e o homem do ouro Ontem, durante a manhã, também foi inquirido o inspetor do Conselho Superior do Ministério Público Francisco Miller Mendes, que inspecionou o desempenho de procuradores do DCIAP como Paulo Gonçalves, que ficou com os processos de Angola que estavam nas mãos de Orlando Figueira, e Teresa Sanchez, adjunta de Figueira em inquéritos como os que visavam Manuel Vicente e que estão no centro de todas as suspeitas. Ambos com boas avaliações.
A parte da tarde foi reservada a outra testemunha. António José Fernandes, que há 30 anos vende peças de ouro a Maria Figueira, foi ouvido a partir do tribunal do Mogadouro, onde reside e confirmou ter vendido à irmã do procurador todas as joias de ouro apreendidas no cofre. Adiantou ainda que nunca vendera nada ao ex-magistrado.
“A minha cliente é uma pessoa que gostava muito de ouro e que usava muito ouro”, concluiu António José Fernandes.