E chegou finalmente o dia tão esperado. Não o da convocatória final para o Mundial – esse virá lá para os fins de maio -, mas sim o da última convocatória antes dessa. Aquela lista que permite toda uma série de conjeturas, previsões e suposições sobre o que virão a ser as escolhas finais de Fernando Santos. E cá estamos para as fazer.
As duas grandes – únicas – novidades na convocatória ontem efetuada pelo selecionador campeão europeu, referente aos particulares com Egito (dia 23) e Holanda (26), ocorreram no centro da defesa. Com Pepe lesionado, Fernando Santos demonstrou mais uma vez ter uma confiança inequívoca em José Fonte e Bruno Alves, apesar da época de menor fulgor e da idade de ambos – Fonte tem 34 anos e soma apenas dez jogos esta época, entre os ingleses do West Ham e os chineses do Dalian Yifang, para onde se transferiu em fevereiro último; Alves tem 36 e leva 18 jogos pelo Glasgow Rangers, da Escócia, tendo recentemente regressado à titularidade após várias semanas ausente por lesão.
Dada a pouca abundância de alternativas de qualidade para aquele setor específico, o técnico nacional optou por fazer duas estreias nas suas escolhas: Rúben Dias, chamado pela primeira vez à Seleção A, e Rolando, que não recebia uma convocatória desde 2014. O primeiro mostra uma clara tentativa de procurar sangue novo para a posição – tem apenas 20 anos; o segundo… nem por isso: já vai nos 32.
A idade, contudo, não é fator relevante para Fernando Santos. Palavras do próprio. “Velhos são os trapos. Não tenho jogadores velhos cá. Eu não me sinto velho e tenho 63 anos, quanto mais alguém com 34 ou 35. O Ricardo Carvalho esteve no Euro com 37 anos e foi influentíssimo na conquista do título. Não faço a minha avaliação por aí”, ressalvou o selecionador, antes de explicar o que pretende com a chamada do jovem central, titular indiscutível no Benfica desde setembro e jogador com amplo passado nos escalões de formação das seleções portuguesas.
“O Rúben Dias está a jogar com regularidade e pareceu-me importante observá-lo, como fiz em novembro com o [Edgar] Ié, o Ricardo [Ferreira] ou o Neto. É preciso conhecê-los pessoalmente, para ter uma definição clara quando for para o Mundial. Não chega jogar bem ou não. Pode jogar bem na sua equipa, sob um determinado conceito de jogo, uma filosofia, um modelo e um treinador com determinadas características… mas na Seleção tem de adaptar-se a um treinador, a uma filosofia e modelo de jogo, e nada melhor do que ter contacto com ele aqui, falar com ele, ver como é….Tudo isso vai pesar, é importante. E a qualidade também. Sem qualidade não!”, atirou Fernando Santos, entre risos.
A interrogação André Gomes Como o selecionador fez questão de frisar várias vezes, o grosso da lista final – se não mesmo a totalidade – esteve representada nas últimas duas convocatórias: a de ontem e a de novembro, para os particulares com Arábia Saudita e Estados Unidos.
Tal revelação permite desde já formar uma lista com presenças certas no Mundial, mas também mais três: uma com nomes muito prováveis de figurar nas escolhas finais; outra com as grandes dúvidas; e ainda outra com jogadores que, claramente, não farão parte da viagem para a Rússia. Neste último lote estão, por exemplo, oito campeões europeus: Eduardo, Vieirinha, Ricardo Carvalho, Eliseu, Renato Sanches, Rafa, Nani e Eder, o herói de todo um país.
Na baliza, dúvida residual apenas em relação ao nome do terceiro guarda-redes – embora Beto pareça em clara vantagem sobre José Sá, ainda para mais com a perda de titularidade do último no FC Porto. No ataque, só Gonçalo Guedes poderá vir a ceder o lugar a outro Gonçalo, o Paciência, ou eventualmente a mais um médio.
As grandes dúvidas estão reservadas para a defesa e o meio-campo. No primeiro setor, Cédric e Pepe têm lugar garantido, mas o resto dos laterais e centrais ainda terão de passar com distinção nos últimos testes para provar que merecem estar no Mundial em junho – destaque para a acesa luta entre Cancelo, Nélson Semedo e Ricardo Pereira na direita da defesa.
Para o miolo do terreno, mais dores de cabeça: são muitas – e boas – as opções ao dispor de Fernando Santos. Um dos grandes pontos de interrogação será o estado psicológico de André Gomes, que no início da semana admitiu estar a passar por uma fase complicada a esse nível no Barcelona. “Até novembro, não tive qualquer indicação nesse sentido. Nessa altura pareceu-me perfeitamente normal. O ambiente na Seleção também é diferente. O jogador, se calhar, muda rapidamente a agulha, o chip. Mas este estágio será uma oportunidade importante para saber o estado psicológico do jogador. Não por conversa, ou ao telefone, mas aqui, em treino, perceber o estado anímico do jogador”, sentenciou o técnico.