Por aparente acaso, o governo norte-americano deu ontem a saber que os serviços de espionagem russos intervieram para além das eleições de 2016 e plantaram também ferramentas digitais de espionagem em sistemas nacionais e europeus no mesmo dia em que EUA, Alemanha, França e Reino Unido se uniram numa frente conjunta para criticar o ataque químico comandado pelo Kremlin contra Sergei Skripal e a sua filha, Yulia. As ações do governo americano e dos aliados europeus não parecem ter sido coordenadas, mas dão um sinal da urgência que há no ocidente em responder às operações de influência russas.
Do lado americano, as denúncias fizeram-se acompanhar por sanções, que pela primeira vez partem do governo de Donald Trump – os congressistas, em todo o caso, exigiram-no há 45 dias, através das conclusões tiradas pelos comités de investigação às operações da Rússia. O governo de Trump, que ontem falou primeira vez sobre a mão russa no ataque a Skripal mas nada disse acerca das manobras eleitorais, aplicou sanções a 19 cidadãos russos e anunciou punições ao FSB, a agência de espionagem russa e a sucessora do KGB, e ao braço clandestino do exército, o GRU. Washington afirmou ontem que a ofensiva informática russa de 2016 atingiu, além do sistema político americano, sistemas críticos europeus, da rede industrial à elétrica. Em todo o caso, as intromissões parecem ter sido desenhadas para recolher informação e não tanto para manietar os sistemas.
Também ontem, os Estados Unidos, França, Reino Unido e Alemanha acusaram em conjunto a Rússia do ataque químico contra Sergei Skripal, designando-o como o “primeiro uso ofensivo de um agente nervoso” na Europa desde a II Guerra Mundial, uma violação das convenções de armas químicas e uma “ameaça à segurança de todos nós”. “Parece certamente que foram os russos”, declarou ontem Donald Trump, num raro disparo diplomático contra Moscovo, um alvo que hesita em atacar desde que chegou à Casa Branca.