Portugal tem uma nova estratégia nacional para o espaço e estão a decorrer pelo menos dois estudos internacionais sobre a possibilidade de instalar uma base de lançamento de satélites nos Açores. A ESA está a financiar cinco estudos sobre futuros micro lançadores, pequenos foguetões que colocam em órbita satélites também de pequenas dimensões. E são dois desses trabalhos, adiantou esta semana ao jornal i pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que analisam a hipótese dos equipamentos partirem para o espaço a partir dos Açores.
O aproveitamento da localização ‘geoestratégica’ dos Açores, marca que o Governo quer promover, já foi objeto de análise num trabalho encomendado pelo Executivo à Universidade do Texas, que considerou a aposta tecnicamente viável, apontando a ilha de Santa Maria como o melhor local. Os peritos apontaram para um investimento na casa dos 200 milhões de euros e um dos objetivos delineados pelo Governo passa pela divulgação deste trabalho para captar investimento privado.
Em entrevista ao i na semana em que foi publicada a Estratégia Nacional para o Espaço, Manuel Heitor adiantou que a Agência Espacial Portuguesa, que deverá autonomizar-se de um grupo de trabalho criado na Fundação para a Ciência e Tecnologia no início deste século, deverá estar operacional dentro de ano e meio, portanto em 2019. Quanto ao projeto de um porto espacial, o ministro salientou que, por agora, esta é uma «hipótese» e não um compromisso e não configura a base da estratégia. «A base da estratégia é criar novos mercados, ter empresas com know-how», referiu o Manuel Heitor, sendo que a aposta definida pelo Executivo aponta para aplicações em diferentes vertentes. Segundo o diploma publicado a 12 de março em Diário da República, agricultura, pescas, monitorização de infraestruturas e espaços marítimos sob soberania ou jurisdição nacional, mas também desenvolvimento urbano, defesa e segurança e saúde pública são alguns dos campos onde existe potencial para a transferência de competências espaciais. Outra área que Manuel Heitor diz ser um desafio é a articulação da observação terrestre com as necessidades de informação precisa que possa ser útil no combate aos fogos. «Devido sobretudo à baixa frequência dos dados, o espaço tem sido mais usado no pós-fogo para mapear as áreas ardidas do que propriamente no planeamento e no combate», explica o governante. «O que vimos, por exemplo, em Portugal nos últimos anos foi fogos a alastrar em meia hora e as imagens por satélite muitas vezes não vão além de três a quatro observações por dia, com intervalos de quatro horas».
A dez anos, o Governo estima que o ecossistema espacial português pode passar a faturar 400 milhões de euros anualmente, dez vezes mais do que nos dias de hoje. O setor emprego atualmente 1400 pessoas, número que Manuel Heitor acredita que pode quintuplicar no prazo de uma década.