A nomeação do novo secretário-geral da Comissão Europeia está a gerar polémica entre os eurodeputados. Martin Selmayr, antigo chefe de gabinete de Jean-Claude Juncker, foi escolhido pelo presidente da Comissão Europeia para substituir Alexander Italianer que aos 61 anos anunciou que se iria reformar. Para isso, Selmayr foi promovido duas vezes no mesmo dia: primeiro para secretário-geral adjunto e logo a seguir para secretário-geral.
«Aquilo que indicam as informações disponíveis é que se tratou de um processo muito pouco claro, muito pouco transparente e incomum, em que aparentemente foi usado um expediente para assegurar que o chefe de gabinete do presidente da Comissão era nomeado para o cargo de topo da burocracia da União Europeia», disse ao SOL o eurodeputado do PCP, João Ferreira.
Uma opinião partilhada por Carlos Zorrinho, eurodeputado do PSD, que sublinha a falta de transparência no processo de nomeação: «Houve claramente falta de transparência, mas sobre a legalidade do procedimento eu prefiro aguardar por aquilo que nós pedimos aos nossos colegas para averiguar».
Para Zorrinho, «o Parlamento Europeu deve ser muito mais envolvido e ouvido nas nomeações dos altos responsáveis da Comissão Europeia», algo que não aconteceu neste caso e em outros. Para já, o Parlamento Europeu exigiu a abertura de um inquérito sobre a nomeação do ex-chefe de gabinete de Juncker.
João Ferreira vai mais longe e denuncia a «promiscuidade entre o poder económico e o poder político» existente nas instituições europeias. «Toda esta promiscuidade parece indiciar uma tentativa de controlo por parte de um partido, o PPE, da burocracia da União Europeia, o que por sua vez também não deixa de ser um sintoma daquilo que é uma realidade hoje clara que é o facto de nas instituições europeias existir uma enorme promiscuidade entre o poder económico e o poder político, sendo o político profundamente influenciado pelo económico», explica Ferreira.
O eurodeputado dá o exemplo de Durão Barroso que, depois de deixar o cargo de presidente da Comissão Europeia, assumiu o cargo de presidente não executivo na Goldman Sachs. «O caso de Durão Barroso demonstrou a evidência» desta promiscuidade. No caso de Selmayr, temos «o acrescento de haver aqui uma tentativa de controlo da própria burocracia», acrescentou o eurodeputado comunista.
Um debate aceso
Durante o plenário do Parlamento Europeu que decorreu esta semana em Estrasburgo, foram vários os eurodeputados que se manifestaram contra a nomeação de Martin Selmayr para secretário-geral da Comissão.
A deputada holandesa do ALDE (liberais), Sophie in’t Veld afirmou que esta nomeação «destrói a credibilidade» da União Europeia, enquanto Pascal Durand, francês d’Os Verdes, disse que esta decisão «é pior que todos os nacionalismos, euroceticismos e extremismos».
«Se um processo semelhante tivesse acontecido no Burkina Faso, estaríamos todos a dizer que não é assim que se governa e a retirar o nosso apoio ao país», retorquiu Johannes Van Baalen, eurodeputado holandês do ALDE.
Em nome da Comissão Europeia no hemiciclo de Estrasburgo estava o comissário responsável pelas pastas do Orçamento e Recursos Humanos, Günther Oettinger, que chegou mesmo a congratular-se pela investigação à nomeação do novo secretário-geral da Comissão Europeia. «Fraude, corrupção, escândalo, intriga, benefício pessoal: estas foram algumas das palavras que ouvi dos senhores eurodeputados. E é por isso que tenho o maior interesse em que seja feita uma investigação objetiva pelo comité de controlo orçamental, para que todas as dúvidas sejam esclarecidas», disse.