Jeff Bezos, o homem mais rico do mundo, quer tornar as viagens ao espaço tão dinâmicas e empreendedoras como a Internet. «O preço para chegar ao espaço é muito alto», afirmou o fundador e principal acionista da Amazon no sábado quando aceitou um prémio relacionado com a exploração espacial. «Estou num processo de conversão os meus ganhos na Amazon num preço mais baixo para podermos explorar o sistema solar».
Antes, Bezos tinha dito que irá financiar a Blue Origin – empresa que fabrica foguetões espaciais e da qual é proprietário – com mil milhões de dólares por ano vendendo ações da Amazon. Este poderá ser o começo do seu compromisso financeiro para com o projeto, que tem como objetivo o desenvolver foguetões reutilizáveis para levar pessoas ao espaço.
A sua riqueza está calculada em 131 mil milhões de dólares – 125 mil milhões dos quais são de ações da Amazon. No ano passado, a sua fortuna foi a que mais cresceu no indíce de bilionários da agência Bloomberg e a 27 de outubro de 2017 ultrapassou Bill Gates como o homem mais rico do mundo. Em fevereiro deste ano foi o índice da revista Fortune a colocá-lo na liderança global do ranking da riqueza individual.
A Amazon, maior empresa de comércio online do mundo, tem sede em Seattle e gere ainda os sites de retalho Zappos e Audible, serve de plataforma para outros vendedores e fornece ainda serviços de computação na nuvem. Em 2016, as receitas da Amazon, empresa cotada em bolsa, ultrapassaram os 156 mil milhões de dólares.
Com a sua fortuna, que equivale por exemplo a 0,713% do PIB dos EUA ou 2,43% do total da riqueza dos homens mais ricos do mundo, Jeff Bezos poderia comprar 2,05 mil milhões de barris de petróleo.
Aos 54 anos, o dono da Amazon, fundada numa garagem em 1994, foi fotografado, no evento de sábado, a comer iguana, num jantar que tinha também tarântulas e baratas na ementa e pretendia passar uma mensagem de reflexão sobre espécies consideradas invasoras.
Na ocasião, refletiu Bezos sobre a Terra. «Enviámos muitas ondas para todos os planetas no sistema solar. Acreditem, este é o melhor. O mundo em que vivemos é uma verdadeira preciosidade», disse, acrescentando que a ideia de conquista do Espaço como um backup para o caso da Terra ser destruída «é desmoralizadora».
«Quero um mundo no qual os netos dos meus netos possam viver», disse Bezos. «Também quero um mundo dinâmico, um mundo que esteja em expansão e em crescimento. Não acredito em estagnação. E este planeta é finito».
A atenção de Bezos ao futuro do planeta está também patente no início da instalação, em fevereiro, de um relógio subterrâneo, de 150 metros de altura, no interior da cordilheira Sierra Diablo, oeste do Texas, EUA. O seu objetivo é medir a passagem do tempo nos próximos 10 mil anos. Em construção há 30 anos, o relógio funciona com os ciclos térmicos da Terra, está programado para soar uma ver por ano, para que os ponteiros girem uma vez a cada século e o cuco cante a cada milénio.
«Este é um relógio especial, projetado para ser um símbolo, um ícone para o pensamento a longo prazo», escreveu Bezos no site do projeto.
Debaixo da montanha estarão ainda cinco salas: para o primeiro ano, primeiros 10, centenário, milénio e dez mil anos do projeto.
Na sala do primeiro ano estarão representados os planetas do sistema solar e a Lua, bem como as sondas interplanetárias lançadas no séc. XX.
«Para as outras salas não há planos. Ficarão para as gerações futuras», diz o homem mais rico do mundo, que neste momento está preocupado com o futuro da atual geração, em especial com a possibilidade de expulsão de imigrantes sem documentos dos EUA.
Com 33 milhões de dólares vai financiar a atribuição de bolsas universitárias a estudantes do ensino secundário, que são imigrantes indocumentados.
«Com muita coragem e determinação – e a ajuda de algumas organizações extraordinárias em Delaware – o meu pai tornou-se um cidadão exemplar e continua a devolver ao país que considera que o abençoou de muitas formas. Tenho muito orgulho em ajudar estes ‘dreamers’ financiando estas bolsas», justificou Bezos.
O seu pai biológico só ficou com a sua mãe durante um ano e quem o ajudou a criar, a partir dos quatro anos, foi o padrasto, Miguel Bezos, a quem pediu o apelido e chama pai – um emigrante que veio de Cuba para a América com 16 anos e sem falar inglês.
Impostos
Jeff Bezos é um self-made bilionário, que começou a sua fortuna numa garagem em Seatle. Em 1994, depois de uma viagem de carro pelos EUA, começou a vender livros através da Internet – na altura nos primórdios . A startup Amazon tornar-se-ia a maior loja mundial de comércio eletrónico.
A política de redução de impostos para as empresas implementada pelo Presidente dos EUA tem sido benéfica para a bolsa e o valor da Amazon subiu mais de 50% desde que Donald Trump foi eleito. Trump, que durante a campanha eleitoral acusou várias vezes a Amazon de destruir postos de trabalho e de não cobrar impostos sobre o consumo (IVA) aos seus clientes.
De facto, até 2011, a empresa só cobrava e pagava e IVA no estado de Washington (onde é Seatle), apesar de vender em todos os EUA. Mas durante a campanha eleitoral Trump autoelogiou-se pela sua arte de fugir aos impostos e um dos seus porta-vozes elogiou a Amazon pela criação de emprego.
Os especialistas entendem que as críticas de Trump a Bezos prendem-se com o facto de este, desde 2013, ser dono do Washington Post, um dos jornais que mais escrutinam a política do Presidente dos EUA.
A aquisição do jornal por 250 milhões de dólares (perto de 200 milhões euros) é vista ainda como um símbolo da mudança na forma como o homem mais rico do mundo gere a sua imagem.
No passado a Amazon chegava a recusar divulgação de informações normais sobre a empresa, como por exemplo o número de empregados – hoje são mais de 500 mil em todo o mundo. Mas nos últimos anos Jeff Bezos tem saído mais vezes de Seattle para participar em eventos sociais, tendo mesmo comprado uma casa em Washington DC, a capital dos EUA. Nesta casa fizeram-se obras para que houvesse um salão de festas que pudesse receber a elite política norte-americana. Segundo o The New York Times, no há uns anos Bezos recusava até ser fotografado ao lado de políticos. Hoje, até a comer iguana há fotografias de Jeff Bezos.