“São Jorge”, de Marco Martins, foi o grande vencedor dos prémios Autores

A cerimónia de entrega dos prémios da Sociedade Portuguesa de Autores de 2018 foi donimada pelas críticas aos atrasos dos apoios da Direção-Geral das Artes.

"São Jorge", de Marco Martins, foi o grande vencedor dos prémios da Sociedade Portuguesa de Autores, numa cerimónia que ficou dominada pelas críticas aos atrasos nos apoios às artes, no mesmo dia em que António Costa anunciou um reforço de 1,5 milhões de euros para os apoios à criação artística. O filme de Marco Martins venceu em todas as categorias para as quais estava nomeado: melhor filme, melhor argumento (Marco Martins e Ricardo Adolfo) e melhor ator (Nuno Lopes).

Perante a plateia que assistia à cerimónia que decorreu no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, Marco Martins lembrou que 2017 foi para o cinema português “um ano feito de autores”, que “urge continuar a proteger”. Um ano "feito de filmes sem compromissos, sem cedências, fiéis à visão dos seus próprios autores”, disse ainda, para acrescentar, em alusão às polémicas que têm envolvido a alteração ao decreto-lei que regulamenta a Lei do Cinema e que determina os procedimentos para a nomeação dos júris que decidem os apoios ao cinema e ao audiovisual, que a criação “não pode ser condicionada de nenhuma forma, quer por falta de apoio, quer nas formas como esses apoios são dados aos filmes".

Pouco depois do início da cerimónia, tinha sido a atriz Inês Pereira que, ao receber em nome de Jorge de Silva Melo, o prémio para melhor espetáculo de teatro por "A vertigem dos animais antes do abate", dos Artistas Unidos, leu o comunicado desde a véspera subscrito por 650 atores, em protesto contra os atrasos dos pagamentos dos apoios da Direção-Geral das Artes.

Perante Marcelo Rebelo de Sousa, e o secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, a atriz declarou que o setor aguardaram "com esperança esta nova Secretaria de Estado da Cultura" e que aguardaram depois que "o ano de 2017 servisse para uma remodelação efetiva dos apoios às artes". Mas que o que aconteceu em 2017 foi um prolongamento da "mesma situação de miséria que se instalou no quadriénio anterior", com "atrasos incompreensíveis na avaliação, e consequentemente, na disponibilização das verbas da DGArtes".

Também João Pedro Mamede aproveitou para ler uma publicação no Facebook de Jorge Silva Melo em que saudava o anúncio feito por António Costa nesse mesmo dia, em que apontava sobre a reformulação do modelo de apoio às artes pela atual tutela: “Um ano de 'estudos' para uma coisa daquelas?” Já no início da cerimónia Rita Cabaço se tinha confessado, ao receber o prémio de melhor atriz de teatro, “sem grande alento” para o comemorar.

Vencedora do prémio de melhor atriz por "Fátima", de João Canijo, Rita Blanco lembrou como ser ator implica ser político, para perante o Presidente da República e Miguel Honrado notar como "por todo o mundo" a classe política se tem tornado mais "ignorante". A atriz aproveitou para prestar a sua homenagem ao realizador, com quem tem trabalhado em diversos filmes, e a Marielle Franco, lembrando que sempre que uma feminista é silenciada, há outras dez que se levantam.

Ao receber o prémio de melhor livro de ficção narrativa pelo seu “O Pianista de Hotel”, o jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho dirigiu-se diretamente ao secretário de Estado Miguel Honrado, que no grande auditório do Centro Cultural de Belém assistia à cerimónia da primeira fila: “Antes de mais, senhor secretário de Estado, tudo o que aqui foi dito sobre o apoio às artes, assino por baixo e reafirmo.” O mesmo diria Sandra Felgueiras, que aproveitou o discurso de agradecimento pelo prémio de melhor programa de informação televisiva para denunciar que no “Sexta às Nove”, da RTP, trabalham três pessoas a recibos verdes.