Modificar o clima no Tibete “é uma inovação crucial para resolver o problema de falta de água da China”, afirmou Lei Fanpei, presidente da China Aerospace Science and Technology Corporatio, empresa estatal que é o principal prestador de serviços do programa espacial chinês, este mês, na altura de assinatura do acordo com a Universidade Tsighua de Pequim, a principal universidade de investigação da China, e a província de Qinghai, para o desenvolvimento do sistema de modificação climática em grande escala denominado Rio do Céu.
A ligação da indústria de defesa, e da tecnologia por ela desenvolvida, a projetos civis começou há uma década, num esforço das grandes potências mundiais, China, Estados Unidos e Rússia, para desenvolver métodos de provocar desastres naturais como inundações, secas e tornados para enfraquecer os inimigos. A tecnologia usada no sistema de fornos no planalto do Tibete para fazer chuva foi desenvolvida pela indústria chinesa de defesa.
Na mesma cerimónia, o presidente da Universidade de Tsinghua, Qiu Yong, sublinhou que o acordo agora assinado mostra a determinação do governo chinês em aplicar a tecnologia mais avançada desenvolvida pela indústria de defesa a projetos civis. Ajudando com isso a desenvolver a zona ocidental da China.
Desde que Xi Jinping chegou ao poder em 2012, a ligação entre a indústria militar e civil chinesas tem-se estreitado, fazendo parte de quase todas as grandes iniciativas estratégicas. O objetivo é desenvolver o sistema de inovação do país de forma a que as descobertas e os avanços possam ter dupla aplicação, militar e civil. Nomeadamente em áreas importantes como a aviação, a aeronáutica, automatização, as tecnologias de informação, o governo chinês defende o “desenvolvimento integrado”.
Para tal foi criada, em janeiro do ano passado, a Comissão Central para o Desenvolvimento Civil e Militar Integrado, destinado a coordenar os esforços de inovação, colocando à sua frente uma figura importante na hierarquia do Estado, o vice-primeiro-ministro, Zhang Gaoli.
As duas principais lanças deste esforço são dois importantes centros de desenvolvimento militar, a China Aeropace Science and Technology Corporation, que participa ativamente no sistema do planalto tibetano, e a China Electronic Technology Corporation.
A Força de Apoio Estratégico, organismo militar responsável pela guerra espacial, cibernética e eletrónica também estabeleceu parcerias com universidades e tem elementos a trabalhar numa empresa de desenvolvimento de software.
Algumas províncias e municípios também se juntaram a este esforço criando clusters industriais locais que permitem a colaboração entre empresas de defesa com faculdades de investigação e empresas privadas. Xangai e Tianjin são dois exemplos.
Estes esforços estão no princípio e os seus resultados ainda são, de alguma forma, incipientes. Tal como no projeto para o planalto do Tibete – que pisa territórios não explorados e é encarado com ceticismo quanto à possibilidade de cumprir com os objetivos de produção de chuva que o governo pretende (fora as consequências que isso poderá trazer para outras regiões) –, a relação entre as indústrias militar e civil está longe de ser harmoniosa.