A Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) ordenou ontem o encerramento das instalações onde os três Kamov do Estado, sob gestão privada da Everjet, estavam estacionados por alegada circulação indevida de material. Em consequência, os técnicos russos da empresa fabricante dos helicópteros retornaram ao país de origem. Em comunicado, a Proteção Civil afirmou que a decisão tomada foi a “única medida” para “acautelar os bens da ANPC e o interesse público”. A ANPC disse ainda que pediu os “necessários esclarecimentos” e que, “caso se encontrem reunidas as condições”, o hangar retornará à normalidade.
A época dos incêndios aproxima-se e a situação surpreende e preocupa a Everjet. “Estamos surpreendidos com uma decisão destas, que é no mínimo caricata numa altura em que não há meios aéreos e estamos a um mês e 15 dias de começar o DECIF [Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais]”, disse Ricardo Miguel Dias, gestor da Everjet, ao i.
A empresa estava a colaborar com uma equipa de técnicos russos da empresa fabricante dos helicópteros. “Estávamos a trabalhar em contrarrelógio para termos os três helicópteros prontos para a campanha, com uma equipa técnica da Kamov, a fabricante dos helicópteros, cá a trabalhar, que neste momento já saiu do país”, disse Ricardo Dias. Ao contrário do que foi inicialmente relatado, a equipa de técnicos russos não foi expulsa pelo Estado português, mas abandonou o país por se ter sentido “espoliada e indignada por ter sido expulsa de um hangar onde estava a trabalhar em prol de uma situação de emergência nacional”. “Saíram, já foram embora e não voltam”, assegurou. A equipa da Kamov era composta por cinco técnicos, a que se juntam 25 da empresa subcontratada pela Everjet, a Heliavionics, tendo alguns já abandonado também o país. O não retorno das equipas poderá colocar em causa a operacionalidade dos helicópteros, visto terem de ser eles a “assinar as grandes inspeções”, garantiu o gestor.
Questionado sobre se esta decisão da Proteção Civil poderá estar de alguma forma relacionada com a expulsão de diplomatas russos, Ricardo Dias disse “preferir não ir por aí”, mas admite que, pessoalmente, considera “estranho” e não descarta essa possibilidade, apesar de não saber mais pormenores. “São aeronaves russas, foram compradas à Federação Russa. Há problemas gravíssimos de peças que são vitais e do Estado [português] que estão bloqueadas na Rússia, que estão também a prejudicar a operação em Portugal. O Estado, teoricamente, estaria a resolver o problema na Rússia”, afirmou. Para o gestor, existe uma “junção de forças que nós também não percebemos e, de facto, é uma decisão caricata e surpreendente”. “Pode haver ligação, pode. Nós não sabemos.”
A empresa também não sabe o que as autoridades poderão estar a fazer dentro do hangar. “Está-nos vedado o acesso aos helicópteros, aos fornecedores, a tudo. Não sabemos o que se está a passar dentro do hangar. Podem estar a abrir os helicópteros, não fazemos a mínima ideia”, confessou.
Entretanto, a empresa aguarda por mais informações da Proteção Civil para poder decidir o que fazer. “Estamos à espera de comunicações da própria Proteção Civil que nos digam o que pensam fazer. Depois, e mediante isso, o nosso departamento jurídico irá agir em conformidade”, disse Ricardo Dias. E não tem boas perspetivas: “O dia 15 de maio [início da época dos incêndios] está irremediavelmente comprometido.”