Vela. Tragédia repete-se 12 anos depois

O estreante velejador britânico John Fisher, de 47 anos, foi dado como ‘perdido no mar’. É o sexto acidente fatal em 45 edições da Volvo Ocean Race.

O alarme soou pelas 14h42 de segunda-feira quando o Controlo de Corrida para a Volvo Ocean Race (VOR) foi informado pela equipa de Hong Kong, a Sun Hung Kai/Scallywag, de «um incidente de homem ao mar». Em causa estava o desaparecimento do velejador britânico John Fisher, de 47 anos, numa altura em que o veleiro navegava a 1.400 milhas (2.600 quilómetros) a oeste do cabo Horn, durante a disputa da sétima etapa da VOR, entre Auckland (Nova Zelândia) e Itajaí (Brasil). No desconhecido sabia-se apenas, através da restante tripulação da qual fazia parte o português António Fontes, que o britânico estava de vigia na altura do incidente e que usava o equipamento de sobrevivência adequado. Desde então que o Centro de Coordenação de Resgate Marítimo (MRCC) vem realizando uma operação de busca e resgate para recuperar o tripulante que caiu ao mar numa zona remota do Oceano Pacífico.

Apesar dos esforços feitos, debaixo de extremas condições atmosféricas (com ventos a atingir os 35 nós, que se traduz em rajadas de cerca de 70 quilómetros por hora, além da ondulação do mar), o processo levado a cabo pelo MRCC viria a revelar-se infrutífero. De tal forma que momentos depois da direção da regata da VOR emitir um comunicado a reconhecer que as hipóteses de encontrar o velejador estreante com vida eram «diminutas», o CEO da prova de circum-navegação mais conhecida do universo náutico faria chegar a trágica notícia. «Dada a temperatura da água (9 graus Celsius) e o estado extremo do mar, juntamente com o tempo que passou desde que ele caiu ao mar, devemos presumir que John foi perdido no mar», escreveu Richard Brisius numa longa mensagem publicada na terça-feira no Facebook oficial da VOR.

Apesar do eufemismo, estava assim confirmado o sexto acidente fatal em 45 anos de história da regata que dá a volta ao mundo.

Seis mortes na história da VOR

Há 12 anos que não se registava nenhuma morte na sequência de «incidentes de homem ao mar». O último caso remonta a 2006, ano em que o velejador holandês Hans Harrevoets, com 32 anos, morreu afogado após ter sido levado por uma onda quando se encontrava no convés do barco em que seguia, da ABN AMRO TWO, na quarta etapa, entre Nova Iorque e Portsmouth. 

«A regata é um álbum de fotos repleto de sentimentos fortes e momentos de emoção. Eu nunca vou esquecer o discurso de Petra van Rij, viúva de Hans Horrevoets, velejador que tragicamente perdeu a vida na edição de 2005-06. Na cerimónia de entrega de prémios, ela pediu para ninguém esquecer o que a regata significa. A Volvo Ocean Race é real», disse Knut Frostad, à data CEO da VOR.

 Além destes dois casos trágicos já referidos, do velejador britânico e do holandês, em 45 anos de história da Volvo Ocean Race há ‘apenas’ mais quatro acidentes fatais a registar na sequência de quedas ao mar. 

É preciso, contudo, recuar ao fim dos anos 1980, início da década de 90, para encontrar registo de nova fatalidade. Mais precisamente na edição de 1989-90. Após a queda ao mar dos velejadores Tony Philips e Bart Van den Dwey, quando ambos seguiam a bordo do Creighton’s Naturally, só Dwey seria resgatado e reanimado. 

Aberta investigação para determinar causas do acidente

Os restantes três casos ocorreram em 1973, ano que ficou marcado pela realização da primeira edição da Volvo Ocean Race (1973-74), prova que contou com a participação de 17 barcos.

Os velejadores Paul Waterhouse, da Tauranga e Dominique Guillet, da 33 Export, perderam a vida na segunda etapa da edição inaugural, sendo que Bernie Hosking, da Great Britain II, teria o mesmo destino que os dois colegas, embora quando se disputava a 3.ª etapa da regata. 

No mesmo comunicado que tornou público nas redes sociais, Richard Brisius esclareceu que vai ser aberta uma investigação para determinar as causas do acidente. 

«Temos a certeza de que haverá muitas dúvidas e questões sobre a forma como um dos nossos marinheiros foi perdido no mar esta segunda-feira», escreve Brisius.

«Como velejadores e organizadores de regatas, perder um tripulante no mar é uma tragédia que nunca queremos imaginar. Estamos arrasados. […] A VOR vai prestar todo o apoio possível à família neste momento difícil», pode ler-se também na mensagem enviada pelo principal responsável  da prova de circum-navegação por equipas.