Enquanto, esta terça-feira, Donald Trump, Emmanuel Macron e Theresa May discutiam por telefone o que fazer contra o aparente ataque químico deste fim de semana na Síria, o governo russo entrou em cena tentando travar uma retaliação violenta contra o regime aliado de Bashar al-Assad.
Procurando tirar proveito da indecisão ocidental, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros anunciou uma proposta ao Conselho de Segurança das Nações Unidas destinada a enviar uma equipa de investigadores internacionais aos arredores de Damasco para avaliarem se, na noite de sábado, ocorreu de facto um ataque com agentes químicos que matou mais de 40 pessoas e provocou asfixia em centenas.
A proposta de Sergei Lavrov foi recebida em silêncio e, ao final da tarde desta terça, não era certo que a estratégia russa tivesse colhido apoios suficientes para interromper um ataque militar americano contra o regime.
A retaliação militar pode já estar em marcha. O presidente Donald Trump cancelou esta terça uma tournée diplomática pela América Latina para supervisionar a resposta ao aparente ataque do fim de semana em Duma, um dos bairros rebeldes dos subúrbios de Damasco. Vários meios americanos asseguram que Trump não desejava fazer a viagem ao sul e que antevia com desconforto os protestos a que assistiria. Em todo o caso, o recolhimento do líder americano com conselheiros militares sugere um plano de ação severo.
Dos seus dois telefonemas desta terça, um com a primeira-ministra britânica e outro com o presidente francês, não saíram indicações públicas de um ataque iminente. Os líderes concordaram apenas em colaborar na resposta ao regime sírio e responsabilizar os culpados pelo ataque de sábado. Em todo o caso, não muito depois da proposta de Sergei Lavrov, surgiram ao final do dia relatos de que as três fragatas americanas estacionadas no Mediterrâneo estariam a aproximar-se da costa síria.
A sugestão de Lavrov é encarada com desconfiança por Estados Unidos, França e Reino Unido. A zona atacada no fim de semana está agora nas mãos do regime e dos aliados russos, que a ocuparam depois da rendição dos grupos armados locais. Os aliados temem que uma investigação aconteça sob regras e manipulações russas e sabem, além do mais, que a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW na sigla inglesa) apenas tem mandato para determinar a ocorrência de um ataque químico, e não para atribuir responsabilidade – foi Moscovo quem forçou esta alteração no ano passado.
A OPCW anunciou esta terça-feira, todavia, que já obteve autorização dos governos russo e sírio e que enviará uma equipa ao local “em breve”. A mobilização de investigadores internacionais pode enfraquecer os argumentos americanos em defesa de uma retaliação militar contra o regime. Alemanha e Suécia, por exemplo, defenderam esta semana uma resposta não militar ao ataque do fim de semana, e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu uma investigação “independente e profissional” conduzida pela OPCW.