Já existia o ghosting, agora apareceu o benching. A vida das pessoas é muito complicada e, para agravar a coisa, agora quase tudo acontece em inglês.
Eu e a Vanessa somos do tempo em que não existiam estas palavras, embora o conceito de ‘foi comprar cigarros e nunca mais voltou’ seja velho como a Sé de Braga. O que mudou nas relações – ou espécie de – que hoje as pessoas mantêm entre si? Os smartphones. Eu estou disponível para culpar os smartphones por tudo o que de mal acontece no engate hoje em dia – ou seja, o mesmo ser humano, se fosse desprovido de smartphone com tudo o que isso implica, Messenger, Whatsapp etc., era capaz de se comportar de forma radicalmente diferente. No tempo dos telefones fixos as coisas eram mais claras.
Esta conversa pode parecer um bocado nostálgica e irritantemente retro, mas no outro dia fui apanhar o primeiro sol com a Vanessa a uma esplanada e ouvi pela primeira vez a seguinte frase.
– Acho que estou a ser vítima de benching.
Tenho que confessar que não fazia a mais pequena ideia do que ela estava a querer dizer.
– Benching? O que é isso? A cena agora não era o ghosting? Não tinhas já sido vítima de ghosting?
– O benching é muito pior. Estou desolada.
E estava. Apesar do sol ter aparecido para nos reconciliar com a vida e com a reestruturação das nossas dívidas sentimentais, a Vanessa estava com uma cara que dava obviamente para perceber que o tal benching a tinha perturbado.
Mas o que era o benching? E quem tinha sido o sacana que a tinha posto com aquele ar chateado? Eu estava um bocado às aranhas sem saber como a haveria de consolar, já que nem sabia ao certo o que lhe tinha acontecido.
E então ela desfiou a história:
– Oh pá, conheci um gajo que me pareceu muito querido. Passava o dia a mandar-me mensagens e tal. Mas sempre que íamos combinar qualquer coisa o gajo desmarcava a cena, estás a ver? Mas tinha sempre bons argumentos! Era o trabalho, os pais, os filhos, etc. Depois acabava por mandar sempre mensagens queridas e eu não percebia o que estava a acontecer. Só há pouco tempo soube que estava a ser vítima de benching. Li numa revista.
– Mas isso não é o bom e velho aldrabilhas? Por que é que agora tem que ser tudo em inglês? Oh, Vanessa meteste-te com um aldrabilhas! Quando éramos miúdas era assim que chamávamos a esses gajos!
A Vanessa respondeu:
– Não, o aldrabilhas era mais facilmente identificável. Esta cena do benching é mais complexa. O gajo põe-te no banco, ‘tás a ver? Ficas ali para o que der e vier. Mas o problema é que quando eu lhe disse que era isto que se estava a passar, ele negou e fez-se de vítima!
– Oh Vanessa, mas o aldrabilhas sempre foi assim. Desde quando isto é uma coisa nova? Nunca tinhas conhecido um aldrabilhas?
– Claro que sim, respondeu a Vanessa, ainda com um ar contrafeito.
Eu lá dei os meus conselhos, que são os mesmos que toda a gente dá, incluindo os psicoterapeutas caros e também os low-cost.
– Vanessa, manda o gajo passear. Entretém-te. Lê livros de jeito. Vai ao cinema. Sai com amigos. Anda sair comigo. Qual benching!
– Mas não percebes como o benching pode ser traumatizante? Ficas ali à espera e não acontece nada! Nunca consegues jogar! Não é sim nem sopas. Um dia estás a fazer sexting com ele, no outro ele está ocupadíssimo para fazer sexo e adia para depois da Páscoa!
Pelo menos sexting era uma palavra inglesa cujo significado eu conhecia.
– Já pensaste que ele pode não gostar de sexo? Só de sexting?
E então a cara da Vanessa saiu do ar desolado, fez olhinhos ao sol, e de repente parecia outra:
– É uma possibilidade. Cada vez há mais malta a preferir sexting ao sexo! Li na revista onde aprendi o que queria dizer benching!