Num subúrbio de Nápoles como Scampia, melhor que haja um assalto para a “derradeira experiência turística”. Ou que, a fazer-se um funeral seja o verdadeiro morto a ir no caixão, sobretudo quando se trata de encenação. Segredo para ser desvendado logo aos primeiros minutos do mais recente filme dos irmãos Manetti – “Manetti Bros.”, como assinam os realizadores-argumentistas Antonio e Marco Manetti, estreado no último Festival de Cinema de Veneza.
Troquem-se soviéticos e americanos, histórias de sequestros de naves e de ultimatos do “007 – Só se Vive Duas Vezes” que por essa altura já nos terá vindo à memória pela história de amor napolitana – de amor e de máfia. Se não se adivinhasse logo pelo início, pelos comentários sobre “jornalistas e polícias” havia já o título (“Love and Bullets”, na versão internacional) para isso. Faltará apenas dizer que vem tudo isto em comédia musical mais do que explicada logo de início, no cumprir da tendência para a mistura de géneros que caracteriza o cinema dos irmãos Manetti.
E voltamos aos primeiros minutos, ao suposto funeral de Don Vincenzo (Carlo Buccirosso) e à mágoa fingida da viúva Donna Maria (Claudia Gerini), em que o morto nos pergunta, de dentro do caixão, onde está Don Vincenzo – o “rei do peixe” de Pozzuoli. Descobriremos mais tarde, ao longo dos cinco dias que antecedem o funeral pelos quais se desenrola este musical napolitano (e leve-se à letra este napolitano) em que havemos de conhecer Ciro (Giampaolo Morelli), temível assassino, e Rosario (Raiz), capangas e súbditos de Don Vincenzo, mais Fatima (Serena Rossi), que passará de enfermeira a mulher que sabia demais. Se isto é Nápoles, problema seu. Ou de Ciro. História de amor e só depois de máfia, bem avisava o título.
Entre ação e musical, corridas de motas, balas, assassinos vestidos de “Basquiat 60” para homicídios em amontoados de bivalves… e histórias de amor virá então a explicação para a manifestamente exagerada morte de Don Vincenzo. Por explicar, ou perceber, fica aquela ida a Nova Iorque que ao italiano e napolitano em que se canta a maior parte do filme vem juntar duas músicas em inglês mais ou menos dispensáveis – como Nova Iorque quando o assunto é Nápoles, de resto.
Ou da ainda mais inconsequente (despropositada até) cena de um grupo de turistas de câmaras e selfiesticks que chegam a Scampia para um momento musical de elogio às más experiências como “derradeira experiência turística” – em Nápoles, claro. Onde “ninguém está a salvo”, mas melhor assim, se “o medo é o postal que mais bem vende”. Daqueles turistas não saberemos mais. Nem os irmãos Manetti parecem preocupados com isso.