Depois de meses de seca, as chuvas de março – que se prolongaram para abril – permitem respirar de alívio, pelo menos por agora. Dados do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), da Agência Portuguesa do Ambiente, revelam que, no último dia do mês de março, já só havia três albufeiras com reservas de água abaixo de 40% do volume do total. São todas na bacia do Sado: a saber as albufeiras de Campilhas, Fonte Serne e Monte da Rocha, as três usadas para irrigação e exploradas por associações de regantes.
A situação é nitidamente melhor do aquilo que se verificava no fim de fevereiro, quando ainda havia 23 das 60 albufeiras monitorizadas no país abaixo dos 40% de capacidade.
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera já tinha reconhecido no início deste mês que as chuvas de março tinham posto fim à situação de seca meteorológica que se verificava desde abril de 2017, apenas com uma pequena região no sotavento algarvio (que representa 0.1% do território) ainda na classe de seca fraca.
Agora os dados do SNIRH, atualizados nos últimos dias, ajudam a compor da fotografia do país numa altura em que a chuva ainda estará para ficar alguns dias. Comparativamente ao último dia de fevereiro, no fim de março tinha subido o volume de água armazenado em todas as bacias hidrográficas, embora ainda haja bacias onde as reservas não estão acima da média registada desde 1990/1991. É o caso das bacias do Mondego, Ribeiras do Oeste, Sado, Guadiana, Mira e Ribeiras do Algarve. No final de fevereiro todas as albufeiras estavam abaixo da média dos últimos 27 anos.
Das 60 albufeiras monitorizadas, 32 apresentam agora disponibilidades hídricas superiores a 80% quando no fim de fevereiro eram apenas cinco.
Analisando os dados por albufeira, verifica-se em quase todas uma melhoria face às reservas do ano passado por esta altura do ano, quando o país estava prestes em entrar numa seca meteorológica que no verão chegou a motivar o abastecimento de água em camiões cisterna na região centro. Há mesmo mais albufeiras a 100% da capacidade do que havia em março de 2017, embora sejam um número reduzido. A albufeira do Vale do Rossim (bacia do Mondego) na Serra da Estrela, que recentemente esteve rodeada de neve e que tem por fim a produção de energia, sendo explorada pela EDP, é um dos exemplos de como a situação atual nada tem a ver com 2017 em algumas zonas do país. Se há um ano estava a 44,4% da capacidade, no fim de março a água ocupava 78,8% da capacidade de armazenamento. Na bacia do Tejo a situação também é mais confortável do que há um ano em algumas albufeiras, incluindo Cabril e Castelo de Bode.
A bacia do Oeste e a bacia do Sado são as que registam níveis de água menos confortáveis.
Em março, o ministro do Ambiente João Pedro Matos Fernandes, que participou no Fórum Mundial da Água, em Brasília, reconheceu que a seca estava bastante mitigada com as chuvas das semanas anteriores, mas alertou que o problema não está resolvido para sempre. “Tenho a certeza de que a seca vai voltar pois estamos numa das zonas do mundo onde é mais evidente a descida da pluviosidade. Temos de nos adaptar e usar a água de forma o mais racional possível”, estando ou não em situação de seca, apelou.
O mês que passou, fugindo à regra, foi uma boa ajuda. Além de particularmente frio, foi o 2º março mais chuvoso desde 1931.