O que leva a número 2 do partido do Governo e o seu mais poderoso ministro a defender algo não subscrito pelo primeiro-ministro? É uma boa questão. E, de facto, aconteceu.
Mário Centeno, ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo, e Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS, cortejaram a possibilidade de as eleições europeias (agendadas para o último fim de semana de maio de 2019) se realizarem lado a lado com as próximas legislativas.
Centeno disse que seria «adequado, do ponto de vista da estabilidade que temos procurado incutir à gestão das finanças públicas, que houvesse esse alinhamento» entre os dois atos eleitorais. Para o ministro, «o desalinhamento entre ciclos políticos é uma das maiores barreiras à tomada de decisões europeia». «É uma decisão política, que compete aos partidos políticos e ao senhor Presidente da República», relegou, apesar de visivelmente favorável.
Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta de António Costa, declarou que a possibilidade não a chocaria do ponto de vista «das pessoas e do cansaço das pessoas com eleições». «É uma questão que se coloca e que era preciso termos uma revisão constitucional para que acontecesse», antecipou ainda, sendo que com o PSD tão consensual com Rui Rio não há entendimentos parlamentares e constitucionais impossíveis.
Costa colocou pedra no assunto de forma igualmente construtiva, afirmando que «em termos teóricos e abstratos e para uma Europa do futuro, o alinhamento dos quadros eleitorais seria obviamente interessante, mas não é para agora» e não deverá acontecer «tão cedo».
Há cerca de um ano, o Presidente da República, que fora dado como pai da ideia, também chutara para canto. «É um não-cenário porque falta muito tempo», e o facto é que, agora, falta cada vez menos tempo. «Só era possível se houvesse acordo entre partidos. Como não há, não vale a perder tempo», revelou Marcelo Rebelo de Sousa. «A iniciativa é [seria] partidária e não presidencial», recordou o chefe de Estado. «A ideia era reduzir custos de campanha e aumentar o interesse pelas eleições europeias. Mas depende muito da vontade dos partidos», devolveu a bola, na altura.
O SOL sabe que tanto o à data líder da Oposição, Pedro Passos Coelho, como o primeiro-ministro António Costa se mostraram muito reservados sobre o tema, não se querendo comprometer definitivamente sobre a hipótese de as eleições partilharem o mesmo dia em 2019, nas conversações no Palácio de Belém.
Ao que o SOL apurou, depois de Passos sair da direção do PSD, Rui Rio e António Costa conversaram, de facto, sobre o tema no único encontro informal que tiveram – depois de Rio tomar posse como sucessor de Passos – no Palácio de São Bento. Internamente, sabe também o SOL, o PSD de Rio não discutiu (ainda) esse assunto.
Bruxelas deteta calendário
Nos corredores europeus, houve, por outro lado, quem notasse na posição favorável de Mário Centeno à fusão entre as datas e respetiva antecipação das legislativas, de outubro de 2019 para maio de 2019. «Era inteligente. Repare que se o BE sofresse um mau resultado nas Europeias faria a vida negra a Centeno até às legislativas», aponta um quadro socialista.
Mas há quem veja mais longe. Se as eleições europeias são em maio, os países negoceiam a próxima Comissão Europeia durante o verão que se segue. «Se o Governo estiver em campanha para as legislativas de outubro e com a cabeça no Orçamento, há um homem que sai prejudicado, não é? Talvez o único português com peso na Europa de hoje para ser vice-presidente da próxima Comissão Europeia», projeta outro socialista, mais próximo dos corredores da AR.
O cargo de presidente do Eurogrupo não seria incompatível com essa posição.