O presidente russo, Vladmir Putin, conversou por telefone com o seu homólogo iraniano, Hassan Rouhani depois dos ataques com mísseis da madrugada de sábado contra três alvos sírios e os dois concordaram que depois da ação concertada entre Estados Unidos, França e Reino Unido, não há hipótese de chegar a um acordo político para o conflito na Síria.
“Vladimir Putin, em especial, enfatizou que se continuarem essas ações em violação da Carta das Nações Unidas, isso acabará por levar inevitavelmente ao caos nas relações internacionais”, referiu o Kremlin em comunicado. Retórica exagerada ou alerta a considerar por parte de Estados Unidos, França e Reino Unido? Tantas ameaças da Rússia em caso de ataque contra as capacidades químicas sírias resultaram em nenhuma ação concreta por Moscovo. Talvez porque o ataque concertado das potências ocidentais foi muito cirúrgico e veio com pré-aviso (ver texto na página 4).
Mesmo assim, os Estados Unidos, através da sua embaixadora na ONU, Nikki Haley, em entrevista ao programa “Face the Nation” da CBS, referiu que hoje serão anunciadas sanções económicas contra empresas “que estejam a negociar equipamento” relacionado com o uso de armas químicas por parte do governo de Bashar al-Assad.
Numa clara demonstração de força, ontem o regime sírio lançou uma grande ofensiva contra posições rebeldes, de acordo com fontes de organizações de ajuda humanitária no terreno, citadas pelo “The Wall Street Journal”
Um dia depois de 105 mísseis americano-franco-britânicos terem atingido três alvos na Síria (um laboratório, um posto de comando e uma fábrica de gás sarin), Bashar al-Assad divulgou nas redes sociais um curto vídeo seu, aparentemente a chegar à sede do governo, numa mensagem de que tudo segue como dantes e nada mudou.
Segundo a Reuters, o gabinete do presidente sírio, citando Assad, caracterizou o ataque como uma “agressão tripartida contra a Síria acompanhada de uma campanha de desinformação”. Síria e Rússia, continuou, estão “a travar uma batalha, não só contra o terrorismo”, também para proteger a soberania do país
No terreno, as forças de Assad movimentaram-se nas zonas a norte de Damasco, enquanto a sua aviação lançava pelo menos 28 ataques nas zonas rurais de Homs e Hama. No sábado, os homens do regime já haviam assumido o controlo total de Duma, a cidade onde terá acontecido o alegado ataque químico e aonde deverão ter chegado (ou vão chegar nas próximas horas) os inspetores da Organização para a Proibição das Armas Químicas, para confirmar se o incidente realmente aconteceu.
Liga Árabe A Liga Árabe reuniu-se ontem dividida entre países que apoiaram o ataque ocidental (Arábia Saudita e Qatar) e outros que o condenaram publicamente (Egito, Iraque e Líbano) e sem a presença do chefe de Estado sírio, porque o país foi expulso da organização em 2011, unânimes “na condenação do uso de armas químicas” contra o povo sírio.
“Pedimos uma investigação internacional independente para garantir a aplicação da lei internacional a todos aqueles que provadamente usaram armas químicas”, refere o documento final da cimeira distribuído aos jornalistas.
O organismo voltou a enfatizar a necessidade de uma solução política para o conflito multilateral na Síria, que já matou cerca de meio milhão de pessoas nos mais de sete anos que já dura. E criticou o Irão pela “sua interferência flagrante em outros países.
O mais surpreendente desta cimeira da Liga Árabe (ou talvez não, tendo em conta a influência da Arábia Saudita) foi a completa ausência dos ataques ocidentais contra a Síria da agenda de conversações. Nem uma menção no comunicado distribuído aos jornalistas.