Para uns é o caminho para o futuro da União Europeia, para outros apenas mais um exemplo da Europa a duas velocidades. Nenhum dos eurodeputados portugueses ficou, no entanto, indiferente ao discurso de Emmanuel Macron, ontem, no debate sobre o futuro da Europa no Parlamento Europeu. Em Estrasburgo, o presidente francês, defendeu a criação de uma soberania europeia sobre as soberanias nacionais.
“Temos de construir uma nova soberania europeia através da qual possamos dar resposta clara e firme aos nossos cidadãos”, disse Macron logo na abertura do debate.
“A Europa que Macron defende é a Europa das grandes potências que não prescindem da soberania, mas que impõe aos outros que prescindam da sua”, afirma o eurodeputado comunista João Ferreira, criticando a postura incoerente do presidente francês que recusa o autoritarismo na Europa ao mesmo tempo que a UE impõe legislação sobre a governação económica que “despreza a soberania dos países”.
“É muito bonito para encher discursos”, criticou o eurodeputado Nuno Melo, do CDS. “Portugal é hoje o que os especialistas consideram uma ilha energética – produzimos muita energia que não podemos vender – precisamente porque a França impede as conexões, os corredores energéticos que através dos Pirenéus nos permitiriam comercializá-la para o resto do mundo”.
Marisa Matias partilha a mesma opinião sobre o assunto: soberania europeia só se não afetar os interesses franceses. A eurodeputada do Bloco de Esquerda relembra que a França não tem tido uma posição de defesa da coesão europeia, mas “tem defendido um modelo de governação da UE que procura concentrar o poder em menos mãos, e a defesa de um ministro comum para as Finanças da zona euro ou a redução do número de comissários. Todas as propostas são sempre no sentido de criar uma Europa a duas velocidades, no mínimo”, critica.
Duas velocidades que, para além da diferenciação entre os países do norte e do sul, que Macron defende que deve ser extinta, traduz-se também na criação de um imposto europeu que o presidente francês voltou a se mostrar favorável e que António Costa também já tinha proposto.
“Quando ouço o presidente Macron defender recursos próprios – leia-se impostos europeus – para uma espécie de projeto político que transformará a prazo um país como Portugal numa região europeia, obviamente que contesto”, afirma Nuno Melo, frisando que “os portugueses pagam hoje, em média, mais impostos do que a maior parte dos outros países da UE”
PS e PSD elogiam
Carlos Zorrinho, do PS, concorda com Macron e defende que o mecanismo proposto pelo chefe de Estado francês vem “complementar” e “reforça” a soberania nacional, “para que a Europa tenha voz nos grandes temas globais”, tais como a energia, o clima ou as tecnologias digitais, exemplos do próprio Macron.
“Para Portugal, haver uma Europa forte é importante. Para quê? Para fazer políticas de convergência, de coesão e de desenvolvimento integrado”, acrescentou o eurodeputado socialista ao i.
Paulo Rangel, eurodeputado do PSD, referiu que “o ponto principal e mais inovador [do conceito] é realmente a segurança e a defesa”. “A segurança, muito relacionada com o controlo das fronteiras externas, com o problema da imigração, da política de asilos”, e, “no caso da defesa, é a construção de uma capacidade militar e de uma política externa a prazo para a UE”.