António Costa e Rui Rio formalizam, hoje ao final da tarde, os acordos sobre descentralização e sobre o futuro quadro comunitário. O acordo vai ser concretizado quase dois meses depois do primeiro encontro entre o governo e o PSD.
O primeiro-ministro defendeu que “é desejável” que possam existir acordos alargados sobre temas estruturantes. “Gostaria de sublinhar que, tal como constava do programa de governo e é desejável, possa haver acordo o mais alargado possível sobre temas que são tão estruturantes para a organização do Estado como é a descentralização”, referiu António Costa. Para o primeiro-ministro, o futuro de Portugal “deve merecer um acordo o mais alargado possível sobre aquilo que devem ser as traves mestras do desenvolvimento do país entre 2020 e 2030”.
Rui Rio, por seu lado, disse que só hoje falará sobre os acordos, embora tenha garantido que está disponível para dialogar com o governo e os outros partidos sobre “todos os acordos estruturais de que Portugal precise”. O presidente do PSD, após uma audiência com a Associação Nacional dos Cuidados Continuados, na sede nacional do partido, em Lisboa, não fechou a porta a um pacto nacional na área da saúde. “Se o governo e outros partidos entenderem que sobre matéria de saúde e Serviço Nacional de Saúde (SNS) há uma reforma estrutural a fazer e pactos a assinar, estamos abertos a todos os acordos estruturais”. Rui Rio garantiu ainda que o PSD estará disponível para “tudo aquilo de que o país precise e que não possa ser feito só por um governo”.
Bloco central
Os acordos entre o governo e o PSD vão ser concretizados quase dois meses depois do primeiro encontro entre o primeiro-ministro e Rui Rio, que se realizou no dia 20 de fevereiro. Costa elogiou desde o início a disponibilidade da nova liderança do maior partido da oposição para chegar a consensos.
Após a primeira reunião com Rui Rio, o primeiro-ministro garantiu que a conversa entre os dois “foi muito simpática, muito cortês e muito construtiva”. António Costa tem, porém, afastado a ideia de que isso se possa interpretar como um regresso do bloco central. “A pior coisa que poderíamos fazer era criar qualquer perturbação naquilo que está a correr bem”, disse, um dia antes do primeiro encontro com Rui Rio.
A aproximação entre o governo e o PSD tem merecido críticas dos partidos de esquerda que apoiam o governo socialista. Jerónimo de Sousa criticou “uma convergência que está em curso em novos domínios, dos fundos comunitários à descentralização, dando expressão a uma espécie de bloco central informal”.
Para o secretário-geral do PCP, a “opção do PS de se unir na votação ao PSD e CDS no chumbo das iniciativas do PCP mostra que há muito a fazer para remover a velha política que, indistintamente, governos de uns e de outros levaram à prática no país, com graves consequências sociais”.
Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, demarcou-se dos acordos com a direita e defendeu que Rio “é, precisamente, a voz dessa direita conservadora, dessa direita dos negócios que quer voltar ao bloco central, ao monopólio do negócio, que faz com que o poder político se vergue sempre face ao poder económico”.