Assunção prepara revolução parlamentar

Raquel Abecasis, mulher e independente, é uma das caras novas que a líder do CDS quer ver na próxima bancada parlamentar. E Adolfo Mesquita Nunes pode ser o futuro líder parlamentar.

Assunção prepara revolução parlamentar

Apesar de Assunção Cristas ser líder desde 2016, só no próximo ano o CDS-PP terá pela primeira vez a lista de deputados à Assembleia da República a seu cargo. Paulo Portas abandonou a cadeira logo a seguir ao último ato eleitoral – ou melhor, logo a seguir à ‘geringonça’ – o que faz com que 2019 seja o primeiro ciclo de legislativas em que a deputada e vereadora é protagonista e, tão importante quanto isso, decisora. A ambição é elevada – basta recordar o congresso de Lamego – e o molde não será conservador. Mais mulheres, mais independentes, mais renovação. Afinal, nas autárquicas também foi assim – e não correu mal de todo por Lisboa. 

Com Cristas, os cadernos têm sido marcados por três pesos, das europeias do próximo ano (já com pódio anunciado) às locais já relembradas. Maior paridade de género – uma causa inseparável de Assunção mesmo que arrisque, por vezes, algum isolamento interno por isso –, maior ligação à sociedade civil, com nomes conhecidos do mundo filantrópico e empresarial, e uma manutenção cautelosa dos quadros oriundos do ‘portismo’. É ver, por exemplo, a sua lista vice-campeã na capital: constituída pela própria, pelo presidente de distrital (Gonçalves Pereira, homem da estrutura) e por uma mulher (Conceição Zagalo, independente). A fórmula estava lá: aparelho/mulheres/independentes. Nas europeias, assim se repetiu. Um membro da direção a cabeça-de-lista (Nuno Melo, vice-presidente de Assunção), Pedro Mota Soares a número 2 (quadro do ‘portismo’ herdado e respeitado), uma mulher a número 3 (Raquel Vaz Pinto) e um nome mais independente a fechar (Vasco Weinberg). 

Ao que o SOL apurou, para as eleições legislativas também do próximo ano, não será muito diferente. «As pessoas falam muito da limpeza que vai ser no PSD [devido à nova liderança, de Rui Rio] mas esquecem-se que também vai ser a primeira lista da Assunção. E é normal que queira trazer gente nova. Estranho seria se assim não fosse…», avalia fonte próxima da mesma. «Vai haver mudanças, sim. Não é mentira», diz outra. E nas entrelinhas vai-se lendo: se o partido está diferente, o seu grupo parlamentar também assim passará a ser.
 
Cabemos todos em Lisboa?

Em 2015, em Lisboa, entraram cinco: Portas, Ana Rita Bessa, Isabel Galriça Neto, João Rebelo e Filipe Lobo d’Ávila. Entretanto, por razões distintas, saíram o primeiro e o último mencionados. Por Portas entrou, ironicamente, Filipe Anacoreta Correia – sua antiga oposição interna, hoje na Comissão Política Nacional de Assunção. Por Lobo d’Ávila entrou, mais recentemente e também com alguma ironia, João Gonçalves Pereira, que foi porta-voz de Cristas nas autárquicas e lhe tem uma proximidade contrastante à distância política de Ávila. Tanto Anacoreta como Gonçalves Pereira são, nesse sentido, nomes a ter em conta em jeito de permanência, precisamente por terem esse equilíbrio entre ‘cristismo’ e estrutura – útil para a estabilidade da atual direção. João Rebelo foi para coordenador autárquico no último congresso, mas, ao que o SOL apurou, o convite «não estava relacionado» com o seu futuro parlamentar, sendo, aliás, um dos primeiros apoiantes internos de Assunção no CDS. 

A questão não é tanto, por isso, quem fica ou quer ficar mas quem entrará ou se pretende que entre. 
Nos corredores centristas há quem relembre o resultado da presidente em Lisboa como um potencial eleitoral («Ultrapassou o PSD… Não é coisa pouca…») que tornaria inteligente deixar a lista do círculo de Leiria e encabeçar a da capital. 

Raquel Abecasis, recrutada por Assunção Cristas para candidata à junta de freguesia das Avenidas Novas, é outro dos casos de sucesso eleitoral lisboeta (foi a freguesia que mais votou em Cristas para a Câmara) que se pensa transpor para a Assembleia da República. A ex-jornalista é dona dessas duas palavrinhas (mulher e independente) que tanto agradam a Cristas e tanto jeito dão face à nova lei da paridade. Além disso – e do legado nominal evidente –, Abecasis tem um grau de popularidade e exposição como ex-jornalista que facilitam a conversão do CDS num partido mais popular, que é outro dos objetivos da atual liderança. 

O presidente da Juventude Popular, a quem já foi aludido um lugar no Parlamento, é deputado municipal também em Lisboa, sendo a ‘jota’ dos centristas atualmente a única formação política juvenil sem representação na Assembleia. Contam-se, assim, mais do que os cinco de 2015 e o acordo de coligação com o PSD já trazia as suas benovelências. Conta-se com a novidade de Assunção e com a nova ambição do partido para elevar – ou manter – a fasquia. Haver lugar para todos dependerá, naturalmente, de conseguir mais lugares. 
 
Mudanças na liderança parlamentar? 

Independente do quão renovado ou alargado estiver o grupo parlamentar, há um tema que vai flutuando nos corredores da bancada, ainda que gere menos incómodos do que o primeiro e seja visto com uma maior serenidade. Depois de um ciclo inteiro a apoiar um Governo (PSD/CDS) e de um ciclo inteiro a fazer oposição ao atual Governo (PS), a presidência do grupo parlamentar deverá mudar de mãos. Oito anos depois, Nuno Magalhães, eleito sempre com unanimidade desde 2011, passará o leme a outro deputado centrista. Não por divergência política com a direção, na qual tem posição inerente e com quem subiu ao palco em Lamego, mas meramente por mudança de ciclo. «Ele carregou a bancada às costas durante duas legislaturas. Aguentou, com o [Luís] Montenegro, o primeiro governo de coligação a cumprir os quatro anos. As pessoas merecem descansar», saúda uma voz amiga de São Bento. 

Aí sim, levanta-se a questão da sucessão. Há favoritos que já estão no Parlamento, como o porta-voz do partido João Almeida, e prediletos que não estão (nem quiseram estar), como o vice-presidente do partido Adolfo Mesquita Nunes. Veremos quem será.