O republicano “The Independent” tentou mostrar alguma distância sobre o acontecimento que entusiasmou ontem a maioria dos outros órgãos de comunicação social em todo o mundo. “Mulher dá à luz um rapaz”, era o título da notícia publicada no site. O resto do texto também é divertido pela sua tentativa de se distanciar do entusiasmo monárquico: “Uma mulher, Kate Middleton, deu à luz um rapaz esta manhã. A criança veio ao mundo às 11h01m e pesa 3,800 quilogramas. O seu marido, William, acompanhou o parto. O rapaz ainda não tem nome. É o terceiro filho do casal. O bebé, que nasceu no Hospital de S. Mary, Paddigton, é um entre vários que nasceram hoje [ontem] no Hospital. De acordo com o departamento de Census dos Estados Unidos, aproximadamente 361.481 bebés nascem no mundo todos os dias”.
Esta é a versão anti-monárquica da história. Mas a verdade é que a corrente republicana é minoritária no Reino Unido e o entusiasmo com o nascimento de um novo “bebé real” é generalizado no país – e passa as fronteiras da ilha.
Os pais, William e Kate, têm uma enorme popularidade. William, filho de Carlos – o herdeiro do trono – e da malograda Princesa Diana, é o segundo na linha de sucessão. O bebé que nasceu ontem passa a ser o quinto – além do avô Carlos e do pai William, tem à sua frente os irmãos George e Charlotte, os terceiro e quarto, respetivamente.
Se o segundo rapaz de William tivesse nascido antes de 2013, ultrapassaria a irmã Charlotte. Mas uma mudança da lei acabou com a prevalência masculina – apesar de no último século os reinados britânicos mais marcantes e duradouros terem sido protagonizados por mulheres – rainha Vitória e rainha Isabel II, que fez no sábado 92 anos e está no trono desde os 25 – a coisa aconteceu por acaso. A linha masculina era a prevalecente, o que fez a princesa Ana, a primeira filha de Isabel II e do príncipe Filipe, ter sido relegada para o fim da lista pelo nascimento dos seus três irmãos mais novos. Este nascimento tem também como consequência um maior afastamento do irmão de William, Harry, da possibilidade de chegar a rei de Inglaterra. O príncipe que até agora ocupava o 5.º lugar na sucessão, passa para o sexto lugar após o nascimento do seu terceiro sobrinho e sexto bisneto da rainha de Isabel II.
Popularidade rejuvenescida O príncipe Harry, que tem casamento marcado para 19 de maio, no Castelo de Windsor, com a atriz norte-americana Meghan Markle, tem também ajudado ao rejuvenescimento da popularidade da família real britânica, que esteve muito em baixo em sequência do atribulado e trágico final do casamento de Carlos e Diana.
Durante anos, Harry foi tido como o ‘enfant terrible’ da Casa Real Britânica, mas com o passar dos anos esta fama foi desaparecendo e a construção da carreira militar – pertenceu ao exército britânico até 2015 e integrou duas missões no Afeganistão – também lhe foram valendo um maior respeito da população britânica. Tanto assim que o enlace real é um dos eventos mais aguardados do ano.
Tal como já o tinha sido o do irmão mais velho com Kate a 29 de abril de 2011, que levou às ruas de Londres um milhão de pessoas e a uma audiência mundial de centenas de milhões de pessoas em 180 países, graças a uma transmissão em direto pelo YouTube.
Seis anos depois do casamento, o casal conseguiu restaurar a imagem da monarquia britânica junto dos seus súbditos, mas do mundo inteiro. As mais recentes sondagens revelam uma taxa de aprovação da família real britânica muito positiva e 71% dos adultos britânicos apoia e acredita no futuro desta forma de governo. Com este resgate da popularidade há quem aposte que será o príncipe William, e não o seu pai Charles, que assumirá o trono depois da morte da rainha Isabel II. A popularidade decorre do chamado ‘efeito Kate’ – que brilha sem retirar popularidade aos outros membros da família real – e também do nascimento de George, em 2013 e de Charlotte, em 2015. A opção por nomes mais tradicionais é também vista como tributo a membros da família real britânica.
O nome George Louis Alexander, por exemplo, remete para seis reis britânicos e também para o conde Louis Mountbatten, tio do duque de Edimburgo, o marido da rainha Isabel II. Já Charlotte Elizabeth Diana é um tributo à mãe e à avó de William.
Avó essa – a Rainha Isabel II – que viu nascer o seu sexto bisneto dois dias depois de celebrar o seu 92.º aniversário. No sábado à noite a monarca teve direito a espetáculo em sua honra e a presença de toda a família, com exceção de Kate, na reta final da gravidez.
Terminado o concerto, Isabel II subiu ao palco para agradecer as mensagens de parabéns, ouvindo ainda um discurso do príncipe Carlos, num momento foi aplaudido por todos. O espetáculo foi transmitido na BBC One e BBC Radio 2.
Nome ainda por saber E ao contrário do “The Independent”, a BBC e a grande maioria dos restantes media britânicos acompanharam o nascimento do terceiro filho dos duques de Cambridge em permanência, tal como o fizeram centenas de pessoas à porta do hospital. “Oh Boy!”, exclamava por exemplo o ‘The Sun” ao noticiar o nascimento, celebrado com vivas e rolhas de espumante a saltar, que tal como o “The Telegraph” ou o “The Times”, para não falar da televisão “Sky News”, acompanhou a ocasião até pouco antes das 18h00, hora em que o Duque e a Duquesa de Cambridge deixaram o hospital com o filho, ainda com o seu nome por revelar. Vão saber em breve”, disse o príncipe William enquanto acenava para a multidão.
A especulação em torno do nome é grande e as casas de apostas estão inclinadas para Arthur, Albert ou Philip. Segundo a BBC, os britânicos esperam que a opção seja um nome tradicional, tal como aconteceu com os irmãos mais velhos. O “The Sun” cita a casa de apostas William Hill que, além de Arthur e de Albert, refere James e Alexander. Já o “The Telegraph” acrescenta à lista Frederick, e refere que os especialistas consideram que a escolha vai refletir o lado da família de Middleton.
Ana Sá Lopes e Magalhães Afonso