O facto de o PCP ter viabilizado este Governo tem limitado a ação dos sindicatos?
Não. Não me sinto limitada. De forma nenhuma. OPCP não se intromete nesse aspeto. As lutas que temos feito demonstram que os sindicatos da Frente Comum não se sentem manietados em coisíssima nenhuma. Se isso acontecesse perderíamos credibilidade. Mas oPCP não é Governo. O PS é que está a governar.
Se o patrão fosse o PCP, ou seja, se o PCP fosse para o Governo, continuaria a haver contestação?
Ficava muito contente que o PCP fosse Governo. Toda a gente sabe que eu sou comunista. Não sei se acabava a contestação, porque há muita reivindicação por satisfazer. Quando foi o 25 de abril, logo após os primeiros governos, fez-se muita coisa e houve contestação. Não era nenhuma anormalidade haver contestação. As lutas, muitas vezes, ajudam os países a evoluir.
A esquerda não gostou que o PS fizesse acordos com o PSD. Que sinais vê nessa aproximação deste Governo à direita?
Não fiquei surpreendida. OPS já fez acordos com o PSD. A situação é que não é igual. A situação é que o PS está com uma maioria parlamentar na Assembleia da República de esquerda e depois vai juntar-se com o PSD para fazer um acordo. Não me espanta, mas acho que não é bonito. Não é bonito o Partido Socialista estar a governar com esta maioria parlamentar e fazer acordos com o PSD sobre matérias com as quais o PCP e o Bloco não concordam. Isso não é compreendido.
Acha que esta solução à esquerda é repetível a seguir às próximas eleições legislativas?
Não sei. O que eu gostava é que o meu partido ganhasse as eleições. Podem dizer que estou a sonhar, mas quando faço campanha é pelo partido que tenho. Não faço campanha a pensar numa aliança com o PS.
E vai fazer campanha para evitar uma maioria absoluta do PS…
Para evitar uma maioria absoluta seja de quem for. Mesmo do PCP. O que digo é que não é desejável para a Função Pública a maioria absoluta de nenhum partido. Acho que os partidos que se juntaram ao PS e fizeram as posições conjuntas, no sentido de resolver alguns problemas deste país, têm de fazer o balanço. Têm de fazer um balanço, porque o PCP, por exemplo, não concorda com o PS nas questões estruturais. Não está de acordo nas questões da União Europeia… O PCP vai ter de fazer esse balanço e o Bloco também, mas é preciso perceber o que é que o PS quer. Ainda é cedo para se fazer esse balanço. Há um conjunto de reivindicações dos partidos à esquerda por causa do Programa de Estabilidade e do Orçamento. Não sei como é que isso vai evoluir. OCenteno já se chegou um bocadinho à frente por causa dos aumentos dos salários, mas isso também não é ainda nada adquirido.
Será mais difícil?
Se o PS continuar a fazer acordos com o PSD em questões que são fundamentais para o país… São questões muito importantes e os partidos têm de avaliar bem. As coisas que foi possível tirar-se deste Governo foi porque estava lá o PCP e o Bloco.
Não é indiferente para os sindicatos existir ou não uma aliança com a esquerda.
É uma discussão que tem de ser feita em cada partido para avaliarem se prosseguem ou não. Nós estamos numa altura muito crítica. Queremos resolver os problemas e o Governo não está a dar resposta. Mesmo com manifestações… Neste próximo Orçamento do Estado, que é o último que o Governo vai fazer, a Frente Comum vai ter de discutir muito seriamente que resposta vai dar se o Governo não tiver em conta as reivindicações dos trabalhadores.
Do que é que depende o sucesso de uma manifestação ou de uma greve?
Depende muito do sentimento dos trabalhadores no momento. Difere muito de setor para setor. Só se mobilizam os trabalhadores para uma greve com reivindicações concretas. É fundamental para o êxito de qualquer ação de luta construir as propostas com os contributos dos trabalhadores. Temos de discutir com os trabalhadores. Se as pessoas não acreditarem nas propostas que fazemos não aderem à luta. É mais fácil mobilizar os trabalhadores para uma greve do que para uma manifestação. Mas mesmo para uma greve é preciso termos objetivos muito claros e que coincidam com aquilo que eles sintam e que acham que é justo.
Dá resultado os trabalhadores manifestarem-se e fazerem greves. Os Governos cedem a esse tipo de pressões?
Dá sempre resultado. Quando as pessoas se mexem nada fica igual. A realidade tem demonstrado isso. No nosso país, a seguir ao 25 de Abril, a realidade tem demonstrado que vale a pena lutar. Pode não se sentir logo, mas vale a pena. Nós agora temos estas lutas grandes na Saúde e na Educação e os trabalhadores sentem que o Governo vai ter de ceder. Há muitos trabalhadores que querem fazer greve porque estão fartos e querem contestar.
Quantos associados tem a Frente comum?
Cerca de 250 mil.
Tem crescido?
Houve uma descida com a saída para a aposentação e nestes quatro anos do Governo da troika. Agora tem havido uma subida. No tempo da troika foi muita gente para a aposentação e quando foram os cortes nos salários houve gente que saiu porque não tinha dinheiro para pagar as quotas. Mas em quase todos os sindicatos houve, nos últimos tempos, uma subida de sindicalização.