Para um país que andou anos a travar o progresso com ambas as mãos e grandes violações dos direitos humanos do seu próprio povo, a Coreia do Norte parece agora ter embarcado num desses comboios de alta velocidade criados pelos amigos chineses, os únicos que se mantiveram fiéis durante décadas e décadas do regime comunista-feudal criado por Kim Il-sung, prosseguido pelo seu filho, Jong-il, e agora nas mãos do neto, Jong-un.
Ontem, o assessor de imprensa da presidência sul-coreana, Yoon Young-chan, anunciou que Kim concordou, na cimeira de sexta-feira com o chefe de Estado sul-coreano, Moon Jae-in, encerrar o seu principal centro de testes nucleares em maio.
Para que não fique tudo pela palavra dada, o regime norte-coreano pretende convidar “especialistas e jornalistas” sul-coreanos e dos Estados Unidos para estarem presentes e verificarem por si próprios que Pyongyang concretiza mesmo o encerramento de Punggye-ri.
Situado numa zona montanhosa do norte do país, foi o local onde a Coreia do Norte realizou os seis testes de engenhos nucleares no subsolo desde 2006, desafiando as regras internacionais, que proíbem este tipo de práticas. Aliás, de acordo com um estudo científico chinês, avalizado por cientistas de outros países, o último teste, realizado em setembro passado, terá aparentemente feito desabar parte da montanha, destruindo túneis de teste e provocando o risco de derrames radioativos.
Yoon Young-chan citou Kim Jong-un: “Os EUA são constitucionalmente adversos à Coreia do Norte, mas através do diálogo ficará demonstrado que não temos nenhuma intenção de atingir a Coreia do Sul, o oceano Pacífico ou os EUA com armas nucleares.” E acrescentou ainda que o líder norte-coreano falou em construir uma relação de confiança com os norte-americanos: “Se formos capazes de criar confiança nos EUA através de encontros frequentes e promessas para acabar com a guerra e praticarmos uma política de não agressão, não há razão nenhuma para vivermos uma vida dura com armas nucleares”, disse Kim, nas palavras de Yoon. O encerramento do local de testes seria uma prova de boa-fé para criar essa relação de confiança.
A cimeira de sexta-feira entre os líderes coreanos terminou com promessas de desmantelamento das armas nucleares na península e o fim formal da guerra entre os dois países, até agora nunca declarado, já que foi apenas assinado um armistício. Kim fez questão de sublinhar que “em nenhuma circunstância” recorrerá Pyongyang à força contra o seu vizinho do sul: “Não repetiremos a história dolorosa que foi a Guerra da Coreia e posso assegurar que a força militar não será usada em nenhuma circunstância".
Todos os olhos postos na Coreia
Perante todas estas movimentações e a poucas semanas do encontro histórico entre Kim e Donald Trump, os serviços de informação norte-americanos têm redobrado esforços para conseguir recolher o máximo de informação possível sobre a Coreia do Norte.
A CNN escrevia ontem, citando o diretor da Agência de Inteligência Geoespacial, Robert Cardillo, que os briefings na Sala Oval da agência ou de outros braços da comunidade de inteligência “são quase diários”. Através de imagem por satélite, sensores e outro tipo de tecnologia (que tentam superar a falta de informação no terreno proveniente de agentes), as agências procuram manter a Casa Branca atualizada sobre todas as instalações militares na Coreia do Norte. “Posso assegurar com toda a confiança que não há outro assunto que mais chegue” à Sala Oval da Casa Branca, sublinhou Cardillo.