Rui Rio terá poder de veto sobre todas as indicações do partido para o Conselho Estratégico Nacional. As estruturas distritais, que foram esta semana convidadas em mensagem da secretaria-geral a indicar nomes para o Conselho Estratégico, poderão de facto fazê-lo – mas sempre sob o risco de o presidente do PSD vetar o nome apontado.
O dado tem causado mal-estar junto das estruturas na medida em que receiam convidar personalidades cujo assento seja depois negado por Rui Rio. Dito de outro modo: as distritais não querem conseguir o ‘sim’ de nenhum nome que depois leve com um ‘não’ da sede nacional.
O facto de a direção atual considerar as nomeações para o Conselho Estratégico Nacional como de «cariz pessoal», isto é, à responsabilidade de Rui Rio, já causou mossa quando Pedro Santana Lopes não viu os nomes que antes acordara com Rio serem integrados. Dias depois desse incómodo ser tornado público, a direção nacional corrigiria o tiro e as indicações de Santana seriam ratificadas em Comissão Política Nacional. Sobre isso, ainda com algum humor, um líder distrital desabafa ao SOL: «Se as indicações da minha equipa não forem aceites faço o quê? Agradeço às pessoas terem aceite o convite mas afinal o dr. Rio não as quer? Também preciso de um comentário na SIC Notícias…».
A relação de Rio com as estruturas distritais não tem sido fácil – e sem elas toda a disposição do Conselho Estratégico perde relevância, na medida em que depende de cada equipa local para assumir uma pasta específica. Rio não partilhou os nomes que escolhera para o Conselho Estratégico com os presidentes de cada distrital quando reuniu com os mesmos, apesar de anunciar quem seriam os coordenadores e porta-vozes um dia depois dessa reunião. Essa questão, sabe o SOL, já foi inclusivamente levantada pelo presidente da distrital de Leiria (Rui Rocha), numa reunião da Comissão Política Nacional [CPN]. A crença comum é simples: Rio perdeu a confiança na sua CPN a partir do momento em que a primeira reunião do órgão foi parar às páginas dos jornais – incluindo às do SOL. Hoje, a Comissão Política é mais para ouvir o que os vogais têm a dizer do que para lhes dizer algo que não queira ser Rio a anunciar publicamente. Nesse sentido, a informação tem sido restringida a homens da confiança de Rio, como o deputado Adão Silva, o secretário-geral adjunto Hugo Carneiro e alguns vice-presidente mais próximos da Comissão Permanente.
Margarida unânime
No meio do rebuliço interno, todavia, houve esta semana uma unanimidade: Margarida Balseiro Lopes. A recém-eleita líder da JSD discursou em nome do partido nas comemorações parlamentares do 25 de Abril e colheu largo elogio de todas as partes e lados da barricada. Helena Roseta, deputada independente eleita pelo PS mas de história bem entrelaçada com os sociais-democratas, levantou-se para aplaudir o discurso de Balseiro Lopes – deputada da Oposição. O socialista André Pinotes Batista afirmou mesmo que a intervenção da parlamentar do PSD foi a «melhor» do dia da liberdade. «Confesso que não esperava que o melhor discurso do 25 de Abril, fosse da Margarida Balseiro Lopes. Mas foi», escreveu Pinotes Batista, derrubando uma barreira normalmente bem firme entre o partido hoje no Governo e o partido que antes lá estava.
A verdade é que Balseiro Lopes também fez por evitar esse muro. A jovem de 28 anos cumprimentou – um a um – todos os líderes dos maiores partidos de assento parlamentar. Jerónimo de Sousa, «que pôde ver o seu partido sair da clandestinidade», Catarina Martins, «que nunca teve de encenar uma peça de teatro sujeita à censura», Carlos César, «cujo partido pôde ver os seus fundadores regressarem a casa», Assunção Cristas, «que pode ser mãe de família e ter uma vida profissional de sucesso», e Rui Rio, «que pôde ser dirigente estudantil em liberdade» também por causa do 25 de Abril. Balseiro Lopes fez também o único discurso na Assembleia da República contra a corrupção – algo que provocou entusiasmo visível em Rio, presente esta quarta-feira nas galerias. Dentro do PSD, de Teresa Morais (ex-vice-presidente de Passos Coelho) a Cristóvão Norte (porta-voz de Rio para a área do Mar) elogiaram efusivamente o discurso de Balseiro Lopes.