Leio hoje, domingo 29 de abril, que volta a estar em discussão a ordenação de mulheres como sacerdotes na igreja Católica, mas que ainda não há consenso sobre a matéria, pelo que a ordenação de mulheres não estará para breve. E estamos em 2018. Quanto tempo mais teremos de esperar? Como alguém apontou, será que Jesus Cristo não tinha mulheres entre os seus discípulos?
Claro que há uma questão, sub-reptícia, e envenenar esta discussão: a questão do celibato dos sacerdotes. De facto, será muito difícil, se não impossível, para a igreja Católica aceitar o sacerdócio de mulheres, e exigir-lhes em simultâneo, abstinência sexual, pois isso iria impedi-las de serem mães, o que é uma ambição da quase totalidade das mulheres.
Aqui, a igreja Católica devia olhar para o exemplo da igreja Anglicana, muito semelhante nos ritos, mas muito mais aberta em termos de mentalidades. Na igreja Anglicana há mulheres sacerdotisas, e os sacerdotes, de ambos os sexos, podem casar e terem filhos. É, convenhamos, uma situação mais em sintonia com a condição humana do que é exigida pela igreja Católica. E as diversas igrejas protestantes resolveram essas questões da mesma maneira.
Não vou deixar de ser católico. Agora, irrita-me que as posições oficiais da igreja Católica estejam sempre atrasadas em relação aos sinais dos tempos. Sou divorciado, pelo que não me poderei voltar a casar pela segunda vez no seio da igreja (se a oportunidade surgir). As segundas uniões são toleradas, mas as pessoas devem levar uma vida de abstinência sexual… A igreja Católica é contra o aborto, seja qual for o motivo. A igreja Católica é também contra a contraceção, sendo que já nos anos 1960 era gozada pelos Monthy Python, quando o pai declarava às suas dezenas de filhos: “está decidido: vão ser todos cobaias em experiências médicas”. Aliás, os Monthy Pynton não se retraiam em gozar as religiões, incluindo o catolicismo. Noutro episódio, um padre começava a discursar para os fiéis: “Eu represento a religião Católica, a única e verdadeira fé”… quando era interrompido por um telefonema, que atendia: “sim… sim… está bem, podes vender essas, mas mantém as da Rio Tinto” (multinacional mineira). Aliás, a igreja Católica tem excelentes escolas de negócios em todo o mundo. Em Portugal, não são tão bons como a Nova ou a Escola de Gestão do Porto, mas são muito bons. E, sobretudo, têm mais imodéstia do que qualidade.
Voltando ao início, a doutrina da igreja Católica está sempre atrasada em relação aos seus tempos, sendo por isso uma força conservadora nas sociedades onde é influente. Hoje, é a questão do sacerdócio das mulheres e do celibato dos sacerdotes (o que leva alguns padres a abandonaram o sacerdócio por razões de consciência, à multiplicação de sobrinhos e sobrinhas de padres, e, mais recentemente, na Madeira, a termos um padre que assumiu a paternidade de uma criança, mas que não deixou se ser padre).
A batalha seguinte vai ser a da eutanásia. Uma sondagem recente chegou à conclusão que mais de 80% dos jovens portugueses são favoráveis à eutanásia. Eu, que já não sou assim tão jovem, também sou favorável. Em outubro, pedi para um veterinário para eutanasiar uma das minhas amadas gatas, pois não percebi porque razão lhe iria prolongar o sofrimento. E espero que, se a ocasião aparecer, alguém tenha a decência e a coragem de fazer o mesmo comigo.
É assim a nossa igreja Católica. Apesar de termos agora o Papa Francisco, reformador, cauteloso, e muito amado, a doutrina da igreja Católica está, como sempre, atrasada no tempo. Isso implica duas consequências. Em primeiro lugar, perda de quota de mercado, com as pessoas a virarem-se para outros sítios na tentativa de satisfazerem as suas necessidades espirituais. E, em segundo, um certo fechar de olhos a situações que não estão totalmente de acordo com a doutrina. É certo que ninguém é perfeito, mas a igreja Católica tem de ignorar muitas situações para poder sobreviver. Felizmente, no seio do rebanho existem sempre algumas ovelhas mais críticas. Resta aos pastores ouvirem. Ou não. E arcarem com as consequências. São adultos, podem fazê-lo. Mas depois não se queixem.