«O público é uma besta feroz. Deve-se enjaulá-lo ou fugir dele»
Voltaire
Portugal assinou em 3 de junho de 2015 um acordo com o Imamat Ismaili, tendo como objetivo o estabelecimento da sua sede mundial em Portugal. Simultaneamente, a morada oficial do seu líder, príncipe Aga Khan, deveria mudar-se de Paris, onde atualmente se encontra, para Lisboa.
Este acordo de há três anos foi firmado entre as partes tendo por base a lei da liberdade religiosa em vigor (lei nº16/2001 de 22 de junho), o protocolo de cooperação assinado em dezembro de 2005 e ainda o acordo firmado em 8/05/2009.
Em resultado de tudo isso, Portugal está prestes a assumir formalmente e na prática a condição de sede mundial do Imamat Ismaili. Um ramo xiita do islão, que tem presença em vinte e cinco países de todos os continentes.
Em Portugal, nas últimas quatro décadas, a comunidade ismaelita tem sido muito respeitada e está muito bem integrada, com muitas parcerias em várias áreas da nossa vida coletiva, com destaque para a área social. Os ismaelitas são, aliás, a comunidade muçulmana mais numerosa no nosso país. E Portugal ocupa o segundo lugar na lista dos países com mais seguidores. Maioritariamente oriundos de Moçambique, os ismaelitas têm-se destacado em áreas como o comércio, a restauração, a hotelaria, a indústria ou a finança.
Sua Alteza o príncipe Karim Aga Khan é o quadragésimo nono imã hereditário do muçulmano Shia Imami Ismailis, tendo sucedido ao seu avô, Sultan Muhammad Shah Aga Khan, em 1957, quando tinha apenas vinte anos.
A relação da rede Aga Khan com Portugal é já muito longa e apresenta resultados muito positivos. O seu representante no nosso país, Nazim Ahmad, tem feito um trabalho notável. É ele o responsável pela transformação de Portugal no centro mundial da rede Aga Khan.
A sede ficará instalada no Palácio Mendonça, na Rua Marquês de Fronteira, no centro de Lisboa, e será inaugurada em julho.
Nos últimos meses tem vindo a realizar-se um trabalho hercúleo para que as obras de restauro deste imóvel do início do século XX, distinguido com vários prémios, estejam concluídas. É notável o que Nazim Ahmad e as suas equipas têm feito. Estou convicto de que, no fim dos trabalhos, Lisboa e Portugal vão ficar surpreendidos pela qualidade da recuperação levada a cabo.
Com cuidados redobrados na preservação do existente há mais de um século, com a firme vontade de recuperar o que estava gasto e modernizar o que tinha de ser modernizado, com a regeneração de um espaço exterior de jardins e arvoredo que de certeza irá transformar-se num dos mais notáveis espaços de preservação da natureza da capital.
Tudo com muito gosto, equilíbrio, partilha e, acima de tudo, simplicidade e originalidade.
Estou em crer que, para além do trabalho que nas últimas décadas a rede Aga Khan tem feito em Portugal, e do impacto político que terá a mudança da sua sede mundial para Lisboa, a nossa capital ganhará muito com esse novo espaço cultural e ambiental, feito com dinheiros privados, como há muito tempo não acontecia.
No nosso país, a discrição e a eficácia de Nazim Ahmad e das suas equipas na recuperação do que está a ser feito no Palácio Mendonça merece todo o destaque, respeito e elogio.
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