Milhares de pessoas desfilaram ontem, em Lisboa, no tradicional trajeto entre o Martim Moniz e a Alameda para comemorar o Dia do Trabalhador, organizado pela CGTP. Pelas ruas, foram-se ouvindo as palavras de ordem: “A luta continua, maio está na rua”, “É justo e necessário o aumento do salário” e “A luta continua nas empresas e na rua” entre jovens que lutam contra a precariedade e reformados que fazem questão de participar. Muitas bandeiras, cravos na capela e algumas resistentes boinas à Che Guevara ilustraram a avenida da capital, considera emblemática neste dia.
Há quem não falhe a este desfile. É o caso de Cristina Torres. Hoje com 51 anos admite que é “importante comemorar este dia” e não tem dúvidas que é um legado que tem de ser deixado aos mais novos. “É preciso continuarmos a defender os nossos direitos, só assim é possível ter uma vida melhor, um salário melhor, ter melhores condições de trabalho e só desta forma é possível encontrar a felicidade”, revela ao i.
Vestido a rigor está Manuel Prado. Uma t-shirt e um boné de Che Guevara compõem a sua indumentária. Há 15 anos que não perde um desfile. “Nem quando estou doente”, confessa ao i. O mesmo exemplo é seguido no dia 25 de abril na Avenida da Liberdade. “Muitas pessoas não sabem como é importante comemorar estes dias. Fico muito contente quando vejo gerações mais novas ainda com filhos pequenos a participarem porque é necessário lutar contra a precariedade que é cada vez maior, assim como a falta de condições laborais”.
Hoje, com 62 anos, chama a atenção dos mais novos para a necessidade de continuarem a defender os seus direitos. “Só assim é possível ganhar uma maior qualidade de vida”, disse.
Mas a festa não é feita apenas por aqueles que desfilam nas ruas. Há quem opte por um lugar no passeio para acompanhar todas as faixas que vão passando, a par das palavras de ordem que vão ganhando cada vez mais força. Maria Leonor é um desses exemplos. Veio mais cedo para conseguir ter um lugar “na primeira fila”. Ao i, admite que nem sempre foi assim. A idade já pesa e os problemas de saúde “não permitem grandes aventuras”.
“Tenho 75 anos e sérios problemas cardíacos, não posso fazer o esforço de subir com este calor até à Alameda, mas nem assim quero deixar passar esta data ao lado”.
Maria Leonor está acompanhada pelo marido, mas recorda com saudade quando ia ao desfile com os seus dois filhos. “Eles agora têm as suas vidas e nem sempre estão disponíveis para virem connosco. Mas não é um problema exclusivo deles. A maioria dos jovens prefere aproveitar o feriado do que vir para aqui. E este ano, tendo a hipótese de ter umas miniférias ainda pior”. Ainda assim, mostra-se esperançada e acredita que as prioridades irão mudar com o avançar da idade. “Ainda estarei cá para ver e vir com eles”, garante.
Mais jovem é José Paulo. A trabalhar num hipermercado vê-se quase a estrear nestas lides. Com 24 anos, é a segunda vez que vem e admite que as pessoas da sua geração “sofrem muito com a precariedade, com os horários inflexíveis, com turnos”. E, por isso, defende que “só a chamar a atenção dos seus direitos é possível conquistar maior qualidade de vida e melhores salários”, diz ao i.
Aliás, a associação Precários Inflexíveis assinalou ontem o Dia do Trabalhador com uma concentração no Largo do Intendente, que antecedeu a manifestação para “reivindicar direitos” que profissionais como bolseiros, formadores e amas “não têm”.
Na concentração, onde foram colocadas placas com várias frases de ordem para pôr fim à precariedade, estavam também outras organizações representativas, nomeadamente de profissões com precários.
Recorde-se que a CGTP comemorou ontem o Dia do Trabalhador com manifestações e festividades em cerca de 40 localidades do país, enquanto a União Geral de Trabalhadores (UGT) centrou a celebração em Figueiró dos Vinhos, uma das localidades mais afetadas pelos incêndios de 2017.