“O Festival de Cannes quebrou o feitiço. ‘O Homem Que Matou Dom Quixote’ entra na história do Cinema”, anunciava no Twitter a distribuidora francesa, a Ócean Films, depois de ter sido conhecida a aguardada decisão judicial que autoriza o festival a exibir o filme de Terry Gilliam na sessão de encerramento da sua 71.ª edição, no próximo dia 19.
Apesar da autorização para que o filme seja exibido em Cannes, o tribunal de Paris obrigou o festival a um esclarecimento no início da sessão de que se trata de uma sessão excecional, que não anula os direitos de Paulo Branco sobre “O Homem Que Matou Dom Quixote” ou os outros processos em torno do filme. Além disto, o realizador, Terry Gilliam, a Star Invest Films France e a Kinolgy terão que compensar Paulo Branco pelas despesas judiciais com o processo.
Em Cannes, o produtor português não demorou a reagir à decisão, que considerou “sensata”. “Não estou zangado”, cita a “Variety”. “A exploração comercial [do filme] não pode prosseguir até que esta disputa esteja resolvida.”
O produtor português Paulo Branco tinha interposto uma ação em tribunal em Paris contra o festival para impedir a exibição do filme pelo qual Terry Gilliam esperou duas décadas.
Também no Twitter se pronunciou a direção do festival, anunciando que o realizador estará presente, depois das notícias de que tinha sido hospitalizado durante o fim de semana mas que já se encontrava em casa a recuperar. “Façamos desta vitória uma grande festa.”
A ação judicial movida por Paulo Branco veio no seguimento da já longa e polémica disputa legal pelos direitos do filme, rodado entre Espanha e Portugal com um orçamento de 16 milhões de euros e nomes como Adam Driver, Jonathan Pryce, Olga Kurylenko e também a portuguesa Joana Ribeiro entre o elenco.
O projeto chegou a contar com produção da Alfama Films de Paulo Branco, anunciada em 2016, numa parceria que Terry Gilliam deixou cair, alegando problemas de financiamento. Apesar das várias ações judiciais interpostas por Paulo Branco, que alega ter direitos sobre o guião, o filme acabaria por ser rodado no verão passado, numa coprodução entre Espanha, França, Bélgica, Inglaterra e Portugal — sem Paulo Branco, mas com a Ukbar, que participou com 10% do financiamento total do filme.
Não seria já esse o primeiro dos problemas enfrentados por Terry Gilliam para a produção deste filme a partir do clássico de Cervantes. “O Homem Que Matou Dom Quixote” é um projeto para o qual o ex-Monty Python avançou pela primeira vez já em 2000, com Johny Depp e Jean Rocherfort como protagonistas. Nessa altura, o filme chegou a começar a ser rodado em Navarra, num processo interrompido por problemas vários, já relacionados com falta de dinheiro mas também com uma lesão de Rochefort. Houve depois uma segunda tentativa, dessa vez com John Hurt e Jack O’Connell, e de novo o filme acabou por não avançar.