Uns dos piores empregos do país é ser líder do maior partido da oposição. Que me lembre, nunca nenhum foi bom que chegasse. Mesmo quando António Guterres começou um combate consistente ao cavaquismo, o fundador do PS, Mário Soares, na altura Presidente da República, achava que era insuficiente e meteu ele próprio mãos à obra, não só manifestando-se contra o Governo no limite dos seus poderes presidenciais como organizando congressos claramente de oposição como famoso Congresso Portugal Que Futuro?.
Marcelo Rebelo de Sousa, o agora hiperpopular Presidente da República, sofreu as passas do Algarve quando lhe calhou ser presidente do PSD. A pressão interna era gigantesca ao ponto de Marcelo ter, pelo menos duas ou três vezes, exigido ao partido o apoio de 2/3 para continuar no cargo. Durão Barroso tirou-lhe o tapete muito cedo e passou rapidamente à oposição interna.
Quando chegou a vez de Barroso ser líder do PSD na oposição, foi uma verdadeira desgraça. Um diretor de jornal percebeu o ar do tempo e fez um editorial com o seguinte título ‘O homem que nunca será primeiro-ministro’. Apesar de tudo, conseguiu sê-lo.
Sócrates não chegou a ser líder da oposição. Foi eleito pouco tempo antes de Santana Lopes ser despedido por Sampaio e com novas eleições à vista. A maioria absoluta que se seguiu foi também consequência de um conjunto de fatores excecionais. Muitos anos antes de Sócrates, Cavaco Silva tinha tido sorte similar: foi eleito líder do PSD, rebentou com o Bloco Central, e ganhou as eleições seguintes, com 28%, com o PS depauperado a bater nos 20%.
Esta longa introdução é só para justificar como seria sempre difícil a vida de Rui Rio, mesmo que ele fosse um génio político e um captador de entusiasmo popular que manifestamente não é.
Esta semana, para desilusão de António Costa e do PS, o novo líder parlamentar do PSD fez o primeiro discurso de ataque ao Governo. O estado de graça durou dois dias. A cena de ontem, com o pedido da demissão do ministro da Saúde feito pelo porta-voz do PSD para a saúde e imediata retirada desse pedido pelo líder do partido é tudo o que um partido da oposição não precisa. Se o objetivo é gerar confiança, trapalhadas destas, que aliás não são as primeiras, contribuem para a afastar.