Sporting. É oficial: Bruno já está orgulhosamente só

A Mesa da AG demitiu-se em bloco e o exemplo foi seguido pelo Conselho Fiscal e Disciplinar. José de Pina, Eduardo Barroso e Álvaro Sobrinho retiraram os apoios

“Não nos vamos demitir”. Foi assim que Bruno de Carvalho mostrou ontem, ao final da noite, continuar irredutível na presidência do Sporting – já depois de, ao início do dia, ter ameaçado mesmo processar Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, e criticar Marcelo Rebelo de Sousa pelas declarações destes na véspera. Isto, apesar da multiplicação dos pedidos, nos últimos dias – ontem reforçados –, para que renuncie ao cargo que ocupa desde 2013.

Vários elementos que até agora haviam por diversas ocasiões expressado o seu apoio inequívoco ao líder dos leões vieram a público assumir a mudança de opinião e pedir para Bruno de Carvalho renunciar – entre os quais os mediáticos José de Pina e Eduardo Barroso, mas também Álvaro Sobrinho, o maior acionista individual da SAD do Sporting.

Ao início do dia, a notícia de que a Mesa da Assembleia-Geral se demitira em bloco, com o seu presidente, Jaime Marta Soares, a pedir que todos os órgãos sociais do clube seguissem o exemplo. “Nenhum dos órgãos sociais do Sporting Clube de Portugal tem o direito de se querer manter no exercício das suas funções, pondo e causando graves prejuízos ao Sporting nessa atitude”, afirmou, já depois do mesmo organismo ter votado e aprovado uma moção para avançar com um processo disciplinar contra Bruno de Carvalho, com o intuito de forçar a sua demissão.

Pouco depois, os cinco membros do Conselho Fiscal e Disciplinar tomaram a mesma decisão. “O Conselho não tem competências estatutárias para retirar o clube da situação insustentável em que se encontra. Tendo em conta os superiores interesses do Sporting Clube de Portugal, que são e sempre foram a nossa maior preocupação, apelamos a que o presidente e os restantes membros do Conselho Diretivo apresentem a sua renúncia ao cargo de forma a permitir a marcação imediata de eleições”, indicaram em comunicado.

Já a meio da tarde, Álvaro Sobrinho reiterou o pedido, considerando que Bruno de Carvalho “está a colocar em risco os ativos do clube”. “Os últimos acontecimentos são muito graves para o destino da SAD. Os ativos fundamentais da SAD são os jogadores e pode estar em causa a sua valorização. Em qualquer empresa, quando há sinais claros de má gestão, os acionistas têm de tomar uma posição. Se ele vai continuar como presidente? Eu acho que não. Não tem hipóteses. É uma questão de má gestão. Isto é público e notório, tanto a nível nacional como internacional para qualquer acionista”, realçou o empresário angolano, referindo-se diretamente às perdas dos títulos da SAD leonina em bolsa: desvalorizaram ontem 17,11%, para os 63 cêntimos. “Se Bruno de Carvalho não se demitir, iremos tomar a devido tempo uma posição, convocando uma assembleia geral e pedir a demissão da direção”, revelou ainda.

Barroso aconselha Bruno

Ao fim da tarde, Eduardo Barroso, desde sempre um dos mais fervorosos defensores de Bruno de Carvalho desde o início, acabou por retirar também o apoio ao presidente leonino. “Seria bom que se afastasse, o Sporting já está num turbilhão há muitos meses e a situação agora agravou-se. Isto tem de ser resolvido nos próximos dias, ele tem de fazer essa análise. Cometeu demasiados erros nos últimos tempos”, realçou o reputado cirurgião, amigo pessoal de Marcelo Rebelo de Sousa, considerando porém que Bruno de Carvalho “ainda pode sair com dignidade”.

Eduardo Barroso considera ainda “impensável” que o presidente dos leões esteja por detrás das agressões a jogadores e equipas técnica e médica em Alcochete. “Se ele fosse o mandante tinha de ser preso. Eu conheço o Bruno de Carvalho bem. É impensável dizer que ele é o mandante desta situação, é difamatório”, afirmou, revelando que o líder do Sporting não lhe tem atendido chamadas ou respondido a mensagens: “Se me atendesse dizia-lhe para parar.”

Entretanto, André Geraldes acabou por deixar o Tribunal de Instrução Criminal do Porto ao fim da noite, depois de pagar a caução de 60 mil euros. Ficou proibido de continuar a exercer funções no Sporting e de contactar com os outros arguidos.