O mentor da Expo 98 tem um rosto. A ideia de organizar uma exposição internacional em Portugal veio de António Mega Ferreira e Vasco Graça Moura. Os dois estavam à frente da comissão para as comemorações dos 500 anos dos Descobrimentos portugueses, liderada por Francisco Faria Paulino, diretor do Pavilhão de Portugal na Exposição de Sevilha. Para muitos, Mega Ferreira é considerado o pai do evento, mas em declarações ao i diz apenas que, “quando muito, terá sido tio da Expo”. “Não tenho filhos, só tenho sobrinhos. Quando muito serei tio, mas nunca pai da exposição”, refere.
Mas a verdade é que a sua intervenção não pode ser dissociada do evento e, por isso mesmo, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo, poucos dias depois de o evento ter aberto portas. Numa entrevista ao “DN” no ano passado, admitiu que aquela altura foi “claramente o período mais intenso do ponto de vista profissional”, mas ainda assim, minimizou o impacto do evento. “Não me apercebo de que a Expo tenha mudado assim a cidade. Provavelmente porque ambicionava que o impacto da Expo na cidade tivesse sido muito maior”, disse, acrescentando ainda que “se algum impacto a Expo teve na cidade foi sobre os comportamentos das pessoas e sobre um conjunto de referências mentais”.
Ideia veio de um almoço Mas o sonho de realizar uma exposição mundial em Lisboa nasceu muito anos antes. Diz-se que foi em 1989 e à mesa do restaurante Martinho da Arcada. O tema começou por ser o “Mercado do Oriente” mas, mais tarde, a equipa de Mega Ferreira concluiu que o tema dos oceanos era melhor.
Quatro anos depois, em Paris, Mega Ferreira, Torres Campos e Jorge Sampaio viam o sonho tornar-se realidade: a Exposição Mundial de 1998 vinha parar a Portugal e não ao Canadá, que até aí tinha sido considerado o país favorito (23 votos a favor contra 18 atribuídos a Toronto).
No ano seguinte, o projeto entrou numa fase rápida de planeamento e desenvolvimento, desde a estratégia de promoção internacional às campanhas de sensibilização interna, passando pelas negociações para a desocupação da área onde iria decorrer a exposição. É também nessa altura que é criada a Parque Expo, responsável por lançar e executar o empreendimento.
A partir daí foram anos de consolidação e construção. Aos poucos foram saindo do terreno as estruturas obsoletas que aí se encontravam, foram ganhando forma, com as áreas internacionais norte e sul, o Pavilhão de Portugal, o Pavilhão do Futuro, o Pavilhão do Conhecimento dos Mares, a Estação do Oriente. Começou-se a assistir às primeiras campanhas de promoção internacional e definição de novo objetivo: a participação de 100 países e organizações (foram 160), com alargamento do recinto. Ao mesmo tempo traçaram-se os grandes sistemas de acesso viário, assim como os trabalhos da nova linha de metropolitano, rumo à exposição.
Sete ofícios Licenciado em Direito, António Mega Ferreira estudou Comunicação Social na Universidade de Manchester e iniciou a sua carreira no jornalismo, no “Comércio do Funchal”, em 1968, passando depois pelo “Jornal Novo”, “Expresso”, ANOP, RTP e “Jornal de Letras”. Fundou a “Ler”, para a qual Francisco José Viegas entrou em 1987 como chefe de redação, tendo lançado em conjunto o primeiro número da revista.
Em 2006, a convite da então ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima (PS), assume o cargo de presidente da Fundação do Centro Cultural de Belém, sendo depois reconduzido no cargo em janeiro de 2009. Abandonou o CCB em 2012.