Em primeiro lugar, a economia portuguesa, apesar de continuar a crescer, está a desacelerar. Comparando o primeiro trimestre de 2018 com o quarto trimestre de 2017, a economia nacional cresceu 0,4%, o mesmo que a média dos nossos parceiros da zona-euro. Não é mau, mas é pouco. Se nos quisermos aproximar do nível de vida dos membros economicamente mais desenvolvidos da zona-euro, é obrigatório crescer, não o mesmo, mas mais rapidamente do que eles.
E o pior é que esta tendência de desaceleração do crescimento económico parece ter prosseguido neste segundo trimestre que agora vivemos. Más notícias para Costa, boas para Rio. Porque, sem crescimento económico, não há aumento das receitas fiscais, pelo que todas as benesses, como aumentar as reformas da maioria dos pensionistas acima da inflação, para que estes ganhem poder de compra, terão de ser fortemente penalizadas, ou até mesmo adiadas.
O segundo ponto é que Rio procura, e consegue, fazer acordos entre o PS e o PSD. Ora, isto tem duas consequências. Primeiramente, mostra que Portugal só pode ser eficazmente governado e gerido se PS e PSD, que juntos têm mãos de dois terços dos votos, cheguem a consensos. Passos Coelho nunca entendeu isso. Mas a generalidade do eleitorado aprecia que PS e PSD ponham de lado as suas diferenças, cedam ambos um pouco, e cheguem a acordos. Para o eleitorado, Portugal tem de ser governado eficientemente e eficazmente, e não com uma “peixeirada” permanente. Rio percebe isso, Passos Coelho não.
E, é claro, os entendimentos entre PS e PSD causam um enorme mal-estar no seio da geringonça. O encantador professor de trabalhos manuais, e líder da Fenprof, Mário Nogueira, já veio avisar que “o tempo dos compromissos acabou”. No campo dos transportes públicos as greves ainda não começaram, mas as paralisações para plenários, com as consequentes paralisações nos serviços, prosseguem alegremente. Este é um lado hediondo dos sindicatos afetos à CGTP, e controlados pelo PCP. Para fazerem valer os seus pontos de vista, não hesitam em prejudicar os que mais precisam. E assim se vê a força do PCP.
Finalmente, temos o Bloco de Esquerda, terceira maior força parlamentar, mas com muito menos capacidade de intervenção no terreno que o PCP. Ainda assim, Mariana Mortágua propões que gastemos mais dinheiro do orçamento de Estado, esquecendo-se que temos uma dívida pública superior a 120% do PIB (total da produção do pais), e que em 2018 vamos gastar 3,9% do PIB a pagar juros dessa dívida. Mariana Mortágua é inteligente e corajosa – foi espetacular a forma como fez com que o nosso formidável super gestor Zeinal Bava atrapalhasse-se todo no parlamento. Mas é também, a meu ver, irresponsável, levando Costa a dar um murro na mesa, afirmando que ou o orçamento de 2019 é aprovado ou o governo cai. E Mortágua sabe de certeza que nas últimas semanas as taxas de furo da dívida pública portuguesa estão, nas últimas semanas, a subir.
Por fim, mais um sinal da inteligência de Rio: não dispara em todas as direções. Escolheu como bandeira o problemático Serviço Nacional de Saúde, e não a deixa cair. A saúde é uma área onde é fácil fazer oposição, pois as pessoas estão em sofrimento, e os tratamentos para esse sofrimento, a existirem, são muito caros. Como Rio percebeu, e Passos não, as pessoas nunca estarão satisfeitas com a saúde pública.
E assim, calmamente, a maioria absoluta do PS em 2019, que há um ano pareia estar ao alcance da mão, está hoje cada vez mais distante. E parte do mérito deve-se a Rio.
Como vai ser o país governado a partir de 2019? Não sei, e até lá que não me doa a cabeça. Mas é tranquilizador saber que quer o primeiro-ministro quer o líder da oposição são homens ponderados e racionais, qualidades que não abundam em todos os sectores da sociedade portuguesa.