Seis obras para perceber a pintura de Pomar

Júlio Pomar morreu esta terça-feira, aos 92 anos, em Lisboa.

1. O almoço do trolha, 1947

Ícone absoluto do neo-realismo, representa uma família pobre num estilo cru e despojado. Foi pintado quando o artista tinha apenas 21 anos e exposto enquanto Pomar se encontrava preso em Caxias. Em Maio de 2015 seria leiloado por 350 mil euros, batendo o recorde para uma obra de um artista português num leilão nacional.

2. Le Bain Turc (d’après Ingres), 1968

Como Picasso, Pomar nunca se escusou a “citar”  e tomar temas emprestado dos mestres. Neste caso, foi beber a Ingres. Le Bain Turc, além de denotar uma abordagem nova à pintura (com grandes planos de cores vivas, que fazem lembrar a técnica da colagem), mostra outra obsessão de Pomar: a figura feminina e o erotismo.

3. Retrato oficial de Mário Soares, 1996

Pomar e Soares conheceram-se na prisão de Caxias e ficaram amigos para toda a vida. O retrato oficial foi uma lufada de ar fresco na convencional galeria dos presidentes, merecendo críticas violentas: muitos disseram que se tratava de um esboço e não de uma pintura acabada.

4. Arca de Noé, 2003

Após uma estadia na Amazónia, no final da década de 80, Pomar desenvolveu um enorme interesse pela representação de animais selvagens. A inclusão de um papagaio empoleirado no topo é típica: Pomar tanto fez colagens como integrou objetos tridimensionais nas suas pinturas.

5. Estação de metro do Alto dos Moinhos, 1988

Aqui é notória a relação íntima do artista com a literatura: para os azulejos do Alto dos Moinhos Pomar escolheu como tema Fernando Pessoa, que construiu e descontruiu através de infindáveis estudos.

Os Cegos de Madrid, 1957

A tela dominada por uma mancha negra informe revela a profunda impressão que Goya causou no pintor. Ainda no fim da vida o mestre espanhol continuava a ser uma referência para Pomar.