“Se tivesse de escolher entre morar no terreno da Feira Popular ou morar neste bairro [edifícios da EPUL], preferia morar neste bairro com todos os equipamentos que nele estão previstos. Vai ser reforçada a função de bairro, ao contrário do que aconteceria se puséssemos a habitação toda nos terrenos da Feira Popular.” O vereador Manuel Salgado rejeitou ontem, assim, as críticas do CDS ao facto de o novo projeto urbanístico para Entrecampos não incluir fogos de renda acessível no recinto do antigo parque de diversões, local onde haverá apenas prédios de habitação de venda ao preço do mercado.
Na primeira explicação sobre a operação na Assembleia Municipal de Lisboa (AML), Salgado – que subscreve a proposta do executivo camarário, nas próximas semanas em discussão pública – rejeitou a ideia de que os “terrenos de qualidade” da feira fiquem para casas de venda livre e as rendas acessíveis sejam em zonas menos atrativas, sublinhando que o projeto inclui um reforço dos equipamentos sociais, nomeadamente na zona dos terrenos da EPUL, e visa resolver três problemas centrais em Lisboa: habitação a preços acessíveis, transportes e emprego, designadamente com a zona de escritórios no recinto da feira.
As explicações chegaram no fim do debate de atualidade pedido pelo grupo municipal do PS. O PSD, pela voz do deputado Rodrigo Mello Gonçalves, anunciou que vai propor a criação de uma comissão eventual de acompanhamento para seguir de perto todos os trabalhos. Já Diogo Moura, do CDS, sublinhou que o período de discussão pública de 20 dias úteis é curto e representa apenas o prazo mínimo previsto no PDM, pelo que pediu uma sessão pública para esclarecimento dos lisboetas. O grupo municipal do CDS fala de falta de foco e de auscultação e compara a operação a uma “boneca matrioska”, dados os vários projetos que inclui, do loteamento do recinto da antiga feira a protocolos com a Santa Casa e Segurança Social.
Um dos pontos criticados foi o facto de o executivo apresentar como novidade equipamentos sociais nos terrenos da EPUL, que já estavam previstos e nunca foram concretizados. “Não foram ouvidos nem moradores, nem comerciantes, nem empresas de transportes, pelo menos o Metro e a REFER, que têm um papel importante na mobilidade nesta zona”, disse ao i Diogo Moura, temendo que os 14 mil novos empregos que o executivo prevê para esta zona gerem mais dificuldades.
O pedido de mais transparência foi deixado também pelo Partido da Terra, pelo PCP ou pelo partido Os Verdes. Salgado não adiantou novidades nem sobre prazos de execução do projeto nem sobre o financiamento. Confirmou apenas que a parte a assumir pela autarquia, que pretende avançar com a construção direta de 515 fogos de habitação para renda acessível, vai contar essencialmente com as receitas das vendas dos terrenos da antiga Feira Popular.
O novo projeto para Entrecampos prevê 700 fogos de habitação a renda acessível e 279 de venda livre, numa área que abrange 25 hectares.