Estão já em marcha os processos de rescisão com justa causa de grande parte dos jogadores do Sporting, bem como da equipa técnica liderada por Jorge Jesus. Segundo o i apurou, há vários atletas do núcleo duro da equipa leonina – bem como a totalidade da equipa técnica – que se recusam a continuar em Alvalade, mesmo que a direção liderada por Bruno de Carvalho venha a cair brevemente, e já terão as diligências necessárias para abandonar o clube praticamente concluídas. Os representantes legais estão já na fase final do processo de compilação e apresentação de documentos clínicos que constituem prova das mazelas provocadas nos jogadores pelas bárbaras agressões sofridas no ataque à Academia de Alcochete – recorde-se que tanto os atletas como os técnicos tinham 30 dias a contar da data das agressões para avançar para a rescisão com justa causa.
Acuña e Battaglia, por exemplo, têm bem clara a intenção de não voltar a Lisboa, independentemente do desenrolar do processo diretivo do clube – o primeiro já partiu ontem para a Argentina, onde irá juntar-se à concentração da sua seleção para preparar a presença no Mundial.
Vários outros elementos-base do plantel leonino pensam da mesma forma – como Rui Patrício, que na manhã de ontem partiu do aeroporto de Lisboa.
Ao início da tarde, a imprensa italiana garantia que o guardião estava em Itália a fazer exames médicos no Nápoles, mas durante a mesma foi o próprio Rui Patrício a revelar onde se encontrava, ao publicar nas redes sociais fotografias e vídeos na zona de Essen, em Frankfurt (Alemanha), onde estará a fazer um retiro espiritual – o guarda--redes português, refira-se, é praticante de ioga. Patrício estará de volta a Portugal dentro de poucos dias, de modo a juntar-se ao estágio da seleção nacional de preparação para o Mundial – o mesmo iniciou-se ontem, mas os atletas do Sporting, por terem disputado a final da Taça no domingo, têm permissão para gozar um curto período de férias.
O destino do internacional português, todavia, passará sempre pelo estrangeiro. O i sabe que está completamente fora de equação a possibilidade de assinar por outro clube português – nomeadamente o Benfica, num rumor aventado nos últimos dias.
Há também atletas que ponderam ainda continuar no Sporting, mas com a condição única de Bruno de Carvalho não permanecer na presidência do clube para a próxima época. É o caso, por exemplo, de Bas Dost.
Segundo o que o i apurou junto de fonte próxima do processo, muitos dos atletas e elementos da equipa técnica têm sido continuamente ameaçados, mesmo depois dos ataques da semana passada. São constantes as situações de carros a passar à porta de casa tanto de jogadores como de treinadores e a proferir ameaças e injúrias para com os mesmos e respetivos familiares. Muitos deles já se viram mesmo obrigados a recorrer a proteção policial para se sentirem em segurança – e tudo isto ainda antes da derrota na final da Taça de Portugal. Com esse desfecho, jogadores e treinadores acreditam que o cenário só pode vir a piorar ainda mais.
Treinadores já estavam despedidos
Uma das questões mais prementes prende-se com o facto de haver, ou não, base legal para os pedidos de rescisão com justa causa serem aceites pelos tribunais. Este não é um cenário habitual, pelo que se verifica uma ausência de jurisprudência, mas os advogados dos atletas e técnicos leoninos acreditam que dificilmente as suas pretensões não serão reconhecidas, dada a gravidade dos acontecimentos ocorridos na passada terça-feira em Alcochete. “Podem ser invocadas, entre outras, falta culposa de condições de segurança no trabalho e ofensa à integridade física ou moral. E mesmo que não tivesse ocorrido esta última, poderia ser invocada justa causa tendo em conta o grau de lesão dos interesses do trabalhador, o caráter das relações entre as partes ou entre o trabalhador e os seus companheiros e as demais circunstâncias que no caso sejam relevantes”, explicou então ao i o advogado e mestre em Direito Filipe Neto Lopes.
A equipa técnica liderada por Jorge Jesus tem ainda outro argumento a seu favor no que respeita à pretensão de rescindir a ligação ao Sporting com justa causa. No dia anterior ao ataque de Alcochete, todos os treinadores da equipa principal de futebol do clube leonino haviam sido despedidos verbalmente por Bruno de Carvalho, numa reunião que ocorreu no gabinete do presidente do Sporting. Há testemunhas que atestam a veracidade dos factos e esse será outro dos pontos que irão ser utilizados por Jorge Jesus e seus assistentes.
Inácio substitui Geraldes
Bruno de Carvalho, alheio a todos estes desenvolvimentos, continua a cumprir de forma ativa as funções como presidente do Sporting. Ontem, numa demonstração evidente disso mesmo, a SAD leonina anunciou a contratação de Augusto Inácio para diretor-geral do futebol – cargo até há poucos dias ocupado por André Geraldes, que está inibido de desempenhar funções desportivas enquanto decorre o processo Cashball, alegado esquema de corrupção em que o Sporting tentaria corromper árbitros e jogadores adversários em diversas modalidades.
Em comunicado, o emblema leonino informou que Inácio ficará com a responsabilidade da gestão plena do futebol profissional do clube. Na mesma nota, os leões revelam ainda que Bruno de Carvalho vai deixar de estar presente no banco de suplentes nos jogos da equipa principal, ao contrário do que aconteceu na quase totalidade dos cinco anos que leva no cargo.
Scolari nega contactos do Sporting Luiz Felipe Scolari, ex-selecionador de Portugal e do Brasil, negou ontem ao i ter sido contactado pela direção do Sporting para comandar a equipa técnica da equipa principal de futebol dos leões na próxima temporada.
Ouvido pelo i, Felipão, como é conhecido no Brasil e no meio futebolístico nacional, esclareceu que até ao momento recebeu propostas por parte de dois dos principais clubes da primeira liga mexicana e também da China.
Contudo, e embora não tenha sido abordado pelo emblema de Alvalade, o selecionador que conduziu a seleção de Portugal à sua primeira final europeia (perdida frente à Grécia no Portugal’ 2004) garantiu ao i que não coloca de lado a hipótese de um regresso a Portugal desde que as ofertas sejam dentro dos valores que lhe têm oferecido. De resto, o antigo selecionador da equipa das quinas revelou ao nosso jornal que o seu futuro vai ficar decidido nos próximos dois ou três dias. Ao final da tarde de ontem, Scolari foi um dos nomes apontados como preferido por Bruno de Carvalho para assegurar a substituição de Jorge Jesus.
