O congresso do PS começou mesmo antes de começar na Batalha. A discussão sobre a política de alianças ou o rumo ideológico do partido já fez correr muita tinta. O caso Sócrates também marcou o debate interno, com António Costa a apelar aos militantes para se concentrarem no futuro em vez de olharem para «o drama de hoje».
Este é o último congresso antes das eleições europeias e legislativas (de 2019), mas António Costa preferiu não abrir o jogo sobre a política de alianças, na moção que leva ao XXII Congresso do partido. Ou seja, não é claro sobre se a ‘geringonça’ é para manter a seguir às próximas eleições. O secretário-geral refere apenas que o futuro depende da «capacidade e da força do PS». Também não define uma meta eleitoral concreta e fala apenas em « reforçar a influência política e social do partido». O PS prefere não pedir a maioria absoluta.
A esquerda de Pedro Nuno
António Costa tem, porém, defendido que esta solução tem dados bons resultados e deve continuar. Com mais ou menos entusiasmo são muitos os dirigentes socialistas a defender que a geringonça é para repetir após as eleições legislativas, previstas para o próximo ano. O presidente do PS, Carlos César, defendeu isso mesmo, numa entrevista esta semana à RTP, desde que «não ponha em causa questões essenciais das políticas de referência do PS». Ao SOL, a socialista Edite Estrela considera que é uma evidência que «esta solução tem dado bons resultados. Tem tido o apoio maioritário dos portugueses e, portanto, tem condições para continuar. Poderá ser ajustada a uma nova realidade, mas deve continuar».
A tese de que em equipa que ganha não se mexe tem sido defendida por Costa.
Os mais adeptos da aliança com os partidos de esquerda, principalmente uma nova geração do PS liderada por Pedro Nuno Santos, não perderam esta oportunidade para defender uma nova ‘geringonça’ em 2019. Pedro Nuno Santos entende que o PS governa melhor se estiver aliado com a esquerda. «Temos uma massa muito considerável do povo português que anda a marcar passo, que ganha o mesmo há muitos anos, que ganha pouco ou não tem emprego, e só vamos dar resposta a estas massas populares com o PCP e o BE. Não é com o PSD e o CDS. Nunca será», disse, em entrevista, esta semana, à Antena 1.
Neste congresso não vão faltar vozes a defender a ‘geringonça’. Duarte Cordeiro, que subscreve a moção ‘Por uma social-democracia da Inovação’, defendeu, em entrevista ao i, que «os socialistas não têm razões para reposicionar o PS». O vice-presidente da Câmara de Lisboa está convencido de que «quando o PS se apoia na direita» afasta o eleitorado.
Manuel Alegre, que vai à Batalha e tenciona falar no congresso neste sábado, também já avisou que «uma viragem à direita, ou uma reedição do bloco central, ou uma inversão destas politicas seria um grande retrocesso e colocaria em risco o PS».
A discussão ideológica ficou marcada, antes do congresso, pela troca de ideias entre dois governantes: Augusto Santos Silva e Pedro Nuno Santos. O jovem secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares defendeu, em resposta a Santos Silva, que «o sucesso deste Governo e desta maioria nada deve à terceira via».
A oposição de Assis
Francisco Assis foi dos poucos socialistas que manteve a oposição à ‘geringonça’. O eurodeputado do PS não vai faltar ao congresso e deverá defender que, a seguir às eleições, o PS deve governar sozinho sem fazer alianças à esquerda ou à direita. Assis insiste na ideia de que o compromisso com a esquerda é um «constrangimento» para o PS.
O programa eleitoral para 2019 será aprovado numa Convenção Nacional prevista para junho de 2019. Antes disso, em janeiro de 2019, os socialistas vão realizar uma convenção com o objetivo e construir «uma plataforma vencedora» para as eleições europeias.
Não faltam embaraços para António Costa neste congresso. O mais recente é a polémica com o ministro Siza Vieira (ver pág. 13). O caso Sócrates também marcou o debate interno antes do congresso com o PS a assumir, pela primeira vez, que casos como este envergonham o partido. António Costa apelou várias vezes aos militantes para discutirem neste congresso o futuro em vez do passado. Não está sozinho. O presidente do PS, Carlos César, defendeu, na entrevista desta semana à televisão pública, que José Sócrates «não será» um dos assuntos deste congresso. «Não é essa a motivação dos militantes e delegados». Edite Estrela vai mais longe e defende que «não faz sentido nenhum» discutir o caso Sócrates. Vítor Ramalho, que pertence à Comissão Política e ex-deputado, também está convencido de que «é uma questão que não vai ser tratada no congresso». Certo é que este é o primeiro congresso do PS sem José Sócrates como militante.
O congresso começou ontem com uma homenagem a Mário Soares. A nova direcção será anunciada no domingo. Maria Antónia Almeida Santos será a nova porta-voz do partido, rendendo João Galamba.