A 88.ª edição da Feira do Livro de Lisboa arrancou na passada sexta-feira e se a novidade deste ano é o aumento da oferta, dos espaços de sombra e das atividades ao longo dos dias, há algo que é intemporal nesta edição: o gosto pela literatura de quem visita o evento. O SOL foi até ao certame falar com algumas das pessoas e perceber qual o livro que mais a marcou.
Entre os rostos que andam pelo Parque Eduardo VII está Vítor Santos. Para este “militante da feira do livro”, como se define, são muitos os livros de que guardou memória e que não esquece, mas são ‘Os Miseráveis’, de Victor Hugo, a obra da sua vida.
Publicado em 1862, a história que se passa em França durante o século XIX, entre os períodos da Batalha de Waterloo e dos motins de junho de 1832, foi um sucesso mundial devido ao impacto que causou.
Dividido em cinco volumes, o texto de ‘Os Miseráveis’ já foi adaptado para musicais, filmes e séries de televisão. Vítor foi conquistado pela “transposição do conservadorismo para uma intervenção social relativamente aos menos afortunados da vida” e pela forma “nua” e “crua” como retrata o sofrimento, mas também por continuar ele a ser intemporal, porque “a pobreza continua a existir”.
Entre os preferidos ficam obras de autores como Ferreira de Castro, Alves Redol e os mais contemporâneos Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto e o moçambicano Mia Couto.
Se para alguns é fácil escolher o livro que marcou a sua vida, para Ana Neves “escolher um só livro é impossível”. Ainda assim, a livreira há mais de 25 anos relembra o recém-falecido romancista norte-americano Philip Roth e o seu livro ‘Património’ como um dos favoritos. Philip Roth apaixona-a pela “sua história e vivência" mas também "pela forma como escreve, a crueza dos factos que relata e a forma como o faz”.
Foi em 1991 que aconteceu a primeira publicação de o ‘Património’, Roth, numa narrativa sentimental, relata os momentos que viveu com o pai numa altura em que este enfrentava um tumor cerebral que acabaria por lhe tirar a vida. “Com medo, amor, enquanto filho, acompanha-o em cada momento” revelando assim a “ligação” do pai para com a vida.
Depois da sua morte, aos 85 anos, Roth deixa obras publicadas e reconhecidas ao longo de quase seis décadas, sendo que muitas delas são o retrato da cultura americana, o antissemitismo, a morte e a luxúria. E todas elas acabam por ter uma parte de si.
‘Património’ foi o romance vencedor do National Book Critics Circle Award de 1991.
Além dos estrangeiros e residentes que passam por esta edição do evento, também portugueses de outros pontos do país aproveitam a "oportunidade única a nível cultural". De Tomar para a Feira do Livro de Lisboa, Maria Reis, leitora e mãe de um escritor, assume-se como uma leitora assídua de livros de história e de não ficção. Elege ‘O Diário de Anne Frank’ como o livro da sua vida.
Publicado pela primeira vez em 1947 e escrito na primeira pessoa entre 1942 e 1944, durante a II Guerra mundial, ‘O Diário de Anne Frank’ é o relato diário de uma adolescente forçada a esconder-se, com a família e um grupo de outros judeus, na altura em que os nazis ocuparam a cidade de Amesterdão.
Em agosto de 1944 acabaram por ser presos no pequeno anexo onde se escondiam e em março de 1945, menos de um ano depois, Anne Frank acabou por morrer no campo de concentração de Bergen-Belsen, dois meses antes do final da guerra na Europa. O seu diário tornou-se num dos livros de não ficção mais lidos mundialmente, chamando a atenção pelo testemunho do terror vivido na guerra.
Para Maria Reis, este livro traz-lhe a “reflexão” de que “passados tantos anos, tantos relatos de guerra, o ser humano não aprendeu com nenhum desses momentos e continua em conflito”.
No meio de tantos livros e de tantos que podem ser “os livros da nossa vida”, o que importa é que há literatura para todos os gostos e idades, há literatura sem género, há literatura sem preconceito e sobre o preconceito. O que importa é que no final de cada livro não nos esqueçamos dele, seja qual for o motivo.
E no seu caso: qual é o livro da sua vida? Deixe nos comentários do artigo a sua opinião sobre a Feira do Livro de Lisboa, que termina no próximo dia 13 de junho, e dê-nos a conhecer o livro que mais o marcou.