A 23 de Maio de 1179 o Papa Alexandre III, através da Bula Manifestis Probatum, reconheceu a independência de Portugal, que se tornara efectiva 36 anos antes com assinatura do Tratado de Zamora.
Durante os nove séculos da sua História, Portugal, a mais antiga Nação europeia com as actuais fronteiras, apesar de alguns percalços de percurso soube sempre nortear a sua forma de estar no mundo através da acepção dos ditames morais que foi beber ao cristianismo, berço da civilização ocidental, na qual orgulhosamente nos integramos desde os primórdios da nossa existência.
Mais do que a crença em Jesus Cristo, visto como filho de Deus, o cristianismo deixou como legado um conjunto de regras de vivência em comunidade, assente, entre outros de igual importância, em três princípios:
O princípio da inviolabilidade da vida humana, desde o momento da concepção até à morte natural, não cabendo ao Homem determinar quando esta deve ocorrer;
O princípio do amor e respeito pelo próximo, no qual existe a obrigação de zelar por aqueles que mais sofrem, aliviando-lhes o sofrimento, mas preservando-lhes uma vida digna;
E o princípio do bem comum, em que o comportamento de todos deve-se pautar pelo interesse do colectivo e não na satisfação de ambições pessoais.
Foram estes valores que fizeram a grandeza da civilização ocidental, cuja sociedade se caracterizou pelo primado da família, em contraposição ao individualismo. As comunidades resultam de um conjunto de famílias e não de indivíduos.
Para nossa desgraça estes princípios têm sido progressivamente espezinhados ao longo das últimas décadas, atingindo-se o clímax desde que esta rapaziada que agora se pavoneia pelos corredores do poder começou a questionar toda uma cultura que herdámos dos nossos antepassados, arvorando-se em donos da verdade absoluta.
Representando uma clara minoria da sociedade e comportando-se como meninos mimados, têm conseguido impor as suas absurdas ideias graças à apatia de uma maioria que se demite das suas convicções e com a cumplicidade de gente que, apesar de supostamente esclarecida, tudo lhes tem permitido, não intervindo por puro comodismo e, consequentemente, por egoísmo.
Perdeu-se o respeito pela Pessoa começando por se legalizar, perante a lei mas não perante a moral, a morte provocada de um ser que já vive mas a quem ainda não foi concedida a oportunidade de nascer.
Aprovaram-se depois leis que, a não serem revertidas, terão como consequência, a médio prazo, no esvaziar do papel determinante da família no seio da sociedade, conduzindo esta à sua completa degradação moral e cívica.
Governar para os outros, numa perspectiva de garante do bem comum, deixou de ser um desígnio nacional, substituindo-se pela prática de se governar para os amigalhaços, passando a política e exercer-se com o fim último de se assegurar a permanência nos poleiros que o Estado, generosamente, tem distribuído por esta gente sem honra nem glória.
Não satisfeitos, os controladores do regime querem agora, a pretexto de se procurar pôr fim ao sofrimento de quem está enfermo, autorizar o suicídio medicamente assistido.
Em vez de se apostar na evolução positiva dos cuidados paliativos, assegurando-se um final de vida digno a quem já pouco tem a esperar desta passagem pela vida terrena, opta-se pela solução mais fácil, porque menos trabalhosa e economicamente mais rentável.
O Parlamento discute amanhã várias propostas de lei que vão neste absurdo sentido que, a serem aprovadas, curiosamente nas palavras dos próprios comunistas, quem diria, representam um retrocesso civilizacional.
Se dúvidas ainda restassem no que concerne à podridão deste obsoleto sistema partidário, cuja acção mais visível tem sido o entretimento em destruir o pouco que ainda resta da civilização edificada nos ensinamentos de Cristo, ficaram agora dissipadas, quando presenciamos este estranho fenómeno de ser o Partido Comunista a bater-se pela preservação de valores milenares que os outros pretendem apagar.
Amanhã saberemos se os distintos deputados optaram por desferir mais uma machadada na sua já deplorável reputação.
Pedro Ochôa