José Manuel Pureza acusou os críticos dos "arautos do medo" que cultivam a "desconfiança" de argumentarem contra os projetos com situações que estão previstas nos próprios projetos. "O que eles não dizem é que os projetos que hoje votamos qualificam como crime todos os cenários de desvario que eles próprio anteveem", disse o deputado do Bloco de Esquerda.
"Querem tornar-nos prisioneiros de uma vida biológica que espezinha a nossa vida biográfica", acusou o deputado bloquista acrescentando que "cabe a cada um e a cada uma escolher entre o medo de um palpite e a responsabilidade da liberdade".
Pureza defendeu ainda que o projeto do Bloco de Esquerda "é uma solução equilibrada e responsável" e que pretende garantir "que se respeite a possibilidade de antecipação da morte daqueles a quem a doença e o sofrimento provam da dignidade que sempre se exigiram e que se regule, com rigor e com todas as garantias de controlo".
"O que cada um e cada uma de nós tem hoje de decidir é se escolhe a prepotência de impor a todos um modelo de fim de vida que é uma violência insuportável para muitos ou a tolerância de não obrigar seja quem for e permitir ajudar a antecipação a morte àqueles para quem a continuação da vida em agonia se torna uma tortura"
Rubina Berardo, do PSD, começou por iniciar a sua questão ao deputado do Bloco garantindo que "ninguém neste hemiciclo fica indiferente ao sofrimento" e que "melhorar o sofrimento é o objetivo de todos". No entanto, a questão foi direta: "Quem determina quanto sofrimento é suportável? os médicos ou os doentes?". "A decisão final nunca seria do doente mas da comissão de avaliação", retorquiu a deputada acusando o projeto do Bloco de ter uma "falácia". O deputado do Bloco respondeu dizendo que "são dúvidas legítimas", ficando à espera do contributo do PSD para a criação de uma lei na especialidade. "O que está em causa é o sofrimento de cada um e de cada uma", deixando para os médios a avaliação dos requisitos da lei. "Não se trata de transferir a decisão para terceiros, a decisão é sempre e só da pessoa que tem uma doença incurável"
Alexandre Quintanilho, do PS, defendeu que existe uma forma diferente de encarar "o fim" da vida. “O que acontece quando alguém tem a consciência clara de que a perda de identidade e autoestima, para além do sofrimento, se vai gravar nos últimos dias de vida? A democracia permite formas diferentes de olhar e valorizar a vida. Não é uma forma contra a outra, mas uma tão valida quanto à outra”, disse o deputado socialista que criticou ainda os argumentos do CDS de que a eutanásia seria uma "forma grosseira de poupar dinheiro ao Estado". "Essa é a ideia mais insultuosa", afirmou. José Manuel Pureza criticou a "argumentação do medo" que antecipa os problemas que virão. "Quem assim fala não olha para a catástrofe que está, de pessoas que morrem com um sofrimento indescritível", num "respeito pela própria dignidade que só cada um pode indicar para si".
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